CARREIRA

Mãe pesquisadora, desafio redobrado

Estudo mostra que produção dos trabalhos científicos despenca drasticamente após maternidade

Henrique Hein
05/08/2018 às 14:30.
Atualizado em 22/04/2022 às 01:40
A professora universitária Ana Beatriz Linardi, com a filha Alice, de 15 anos: "O cansaço acaba sendo muito grande para nós mulheres" (Matheus Pereira/Especial para a AAN)

A professora universitária Ana Beatriz Linardi, com a filha Alice, de 15 anos: "O cansaço acaba sendo muito grande para nós mulheres" (Matheus Pereira/Especial para a AAN)

Ser pesquisador no Brasil é um desafio enorme e para lá de complicado. Além das poucas vagas de emprego, a falta de uma boa estrutura e de investimentos dificulta, muitas vezes, a produção dos trabalhos científicos. Entretanto, no caso das mulheres, o obstáculo é ainda maior. Isso porque, de acordo com uma pesquisa realizada, em maio deste ano, pelo grupo de trabalho brasileiro Parent in Science, o rendimento profissional de pesquisadoras do sexo feminino cai drasticamente após a maternidade. Ao todo, o estudo entrevistou 1.154 docentes mulheres, das quais 75% eram mães. Entre elas, 54% afirmaram que são as únicas cuidadoras de suas crianças, enquanto 40% revelaram que possuem pelo menos dois filhos. Quase metade deste número (45%), afirmou não ter tempo para trabalhar em casa, enquanto 21% só conseguem realizar as atividades domésticas depois que as crianças estão dormindo. Além disso, quase 60% do total das entrevistadas avaliaram que após a maternidade suas carreiras foram prejudicadas de alguma forma; e 56% disseram que não conseguem cumprir os prazos profissionais firmados. Campineira e mãe de dois filhos, a professora universitária Ana Beatriz Linardi, de 48 anos, conta que viu seus estudos ficarem mais difíceis quando que deu à luz, sobretudo pela primeira vez. Com menos tempo para estudar, ela precisou reintegrar o curso que estava fazendo, depois que acabou sendo desligada por não cumprir o tempo de entrega do experimento. “O cansaço acaba sendo muito grande para nós mulheres. Ao mesmo tempo que você precisa se dedicar para escrever sua tese, você acaba dormindo pouco e tendo menos tempo para estudar. Lembro que, em muitos momentos, precisava ler e escrever mais de 40 páginas por dia, mas não tinha forças para isso. Morria de vergonha de chegar na aula e dizer para todo mundo qye não tinha cumprido com a obrigação”, comentou. Segundo ela, muitas mulheres não conseguem manter a capacidade de organização nessas condições. “Às vezes você fica se matando, escrevendo e pensando em formas de evoluir o seu trabalho, mas a ideia vem na cabeça apenas no momento em que estamos cuidando dos nossos filhos. Quando voltamos para os estudos, ela já desapareceu e você não colocou tudo que tinha pensado no papel”, disse a professora. Outro exemplo Dona de um currículo invejável, de 30 anos como pesquisadora, a engenheira Ângela Maria Alves, de 64 anos, é outra mulher que sentiu na pele a dificuldade de conciliar o lado materno com a atividade científica. Segundo ela, muitas empresas minimizam a dificuldade sofrida por elas e deixam de oferecem qualquer tipo de auxílio. “A gente, infelizmente, vive numa sociedade machista e que encara a gravidez como um empecilho de trabalho para nós mulheres”, explicou. Para Ângela Maria, esse tipo de pensamento sobrecarrega muitas mulheres.

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