Cobranças públicas foram feitas ontem na inauguração da nova fábrica da EMS
Funcionários da EMS recebem o presidente Lula, que esteve ontem em Hortolândia para a inauguração de uma fábrica de moléculas destinadas ao tratamento de obesidade e diabetes (Rodrigo Zanotto)
O presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) exigiu maior celeridade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na aprovação de novos medicamentos no Brasil. As cobranças públicas foram feitas durante a inauguração de uma nova fábrica da EMS em Hortolândia, ocorrida na manhã de ontem, dia 23. A nova unidade está equipada com tecnologia avançada para a produção de moléculas destinadas ao tratamento de obesidade e diabetes, que poderão ser comercializadas tanto no mercado interno quanto no exterior. O investimento total na fábrica foi de R$ 70 milhões, dos quais R$ 48 milhões foram financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em contrato assinado em 2020.
Em seu discurso no evento, realizado no auditório da empresa, Lula afirmou: "Não é possível que o povo não possa comprar remédio porque a Anvisa não libera. Essa é uma demanda que nós vamos tentar resolver." A Anvisa, que ganhou destaque durante a pandemia de covid-19, é responsável por regulamentar, controlar e fiscalizar produtos e serviços que envolvam risco à saúde pública.
Ainda segundo o presidente, "quando algum companheiro da Anvisa perceber que algum parente dele morreu porque um remédio que poderia ser produzido aqui não foi porque eles não permitiram, aí a gente vai conseguir que ela seja mais rápida e atenda melhor os interesses do nosso país", pontuou.
A Anvisa é atualmente presidida por Antonio Barra Torres, nomeado em 2020 pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL). O processo de aprovação de medicamentos e tecnologias para tratamentos médicos varia de 18 a 24 meses, dependendo do caso. Esse procedimento já foi alvo de polêmicas e embates públicos entre Barra Torres e o ex-presidente Bolsonaro. Diante das críticas de Lula, Barra Torres argumentou que há falta de funcionários na agência. “O atual governo federal foi alertado que o número de servidores traria impacto direto no cumprimento da missão da agência”, disse. O mandato de Barra Torres termina em dezembro deste ano.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, também esteve presente no evento e afirmou que a pasta trabalha junto à Anvisa para acelerar a análise e liberação de medicamentos estratégicos para o país, como a liraglutida, um dos remédios que poderão ser fabricados em Hortolândia. "Em interação com a diretoria que cuida do registro da liraglutida, vimos que, até outubro, teremos o registro desse importante medicamento, cuja planta acabamos de visitar", detalhou. Lula esteve acompanhado no interior de São Paulo pela primeira-dama, Janja Lula da Silva; pelo vice presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin (PSB); pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos; pelo ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira; além do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e do presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, além da ministra da Saúde, Nísia Trindade.
O empresário Carlos Sanchez, presidente do Conselho de Administração do Grupo NC, cuja principal empresa é a indústria farmacêutica com matriz em Hortolândia, também esteve presente na cerimônia.
INVESTIMENTOS
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, destacou o início da produção no Brasil das moléculas de liraglutida e semaglutida, destinadas ao tratamento de obesidade e diabetes, na nova fábrica da EMS em Hortolândia. Segundo Mercadante, a fabricação desses produtos no país é crucial, pois a saúde representa o segundo maior déficit na balança comercial brasileira. Ele enfatizou que a nova unidade não só gerará mais empregos e oportunidades, mas também impulsionará a pesquisa e a educação.
"Conversamos hoje, inclusive, sobre a necessidade de integrar à carteira produtiva os insumos necessários para dar mais soberania ao Brasil, mais capacidade de produção e mais agilidade. Estamos aqui produzindo um produto desenvolvido na Dinamarca, que tem a metade do Produto Interno Bruto do Brasil. Isso muda a história, a economia e avança nesse desenvolvimento", afirmou Mercadante.
O presidente do BNDES também revelou que o banco aumentou em 157% os investimentos na indústria e em 204% os investimentos na agropecuária. "No caso da saúde, estamos atingindo um recorde histórico de financiamento. O BNDES já aprovou R$ 4 bilhões e vamos fechar este ano com menos de R$ 5,5 bilhões", completou.
O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera, também comentou sobre o apoio a projetos da indústria da saúde no Brasil. Ele lembrou que, há menos de um ano, recebeu uma equipe da empresa farmacêutica que apresentou um plano de negócios de R$ 5 bilhões e solicitou financiamento. "Desse plano de negócios, eles já apresentaram quatro projetos para a Finep. Desses quatro projetos, há uma nova planta de R$ 458 milhões. Nós já aprovamos R$ 400 milhões, assinamos o contrato e, na semana passada, liberamos a primeira parcela de R$ 122 milhões", detalhou Pansera.
Para o empresário Carlos Sanchez, presidente do Conselho de Administração do Grupo NC, os investimentos realizados em parceria com o Governo Federal destacam o protagonismo nacional. "Desenvolvemos um produto no país, com tecnologia brasileira, do zero. Fabricamos desde a matéria-prima até o produto acabado, graças aos pesquisadores brasileiros e ao apoio do Governo Federal, que nos permitiu atingir esse patamar. A empresa completa 60 anos e esperamos que, nos próximos seis anos, façamos o que fizemos nestas seis décadas, transformando-nos em uma companhia com portfólio global", concluiu Sanchez.
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