ENTREVISTA

Luiz Dalben celebra os 155 anos de Sumaré

Município faz aniversário na quarta-feira; prefeito promete inaugurações

Luis Eduardo de Sousa/ [email protected]
23/07/2023 às 08:50.
Atualizado em 25/07/2023 às 17:14
Filho e neto de políticos, Dalben honra a tradição familiar de ajudar o município (Alessandro Torres)

Filho e neto de políticos, Dalben honra a tradição familiar de ajudar o município (Alessandro Torres)

O prefeito de Sumaré, Luiz Alfredo Dalben (Cidadania), se mostra um profundo amante da cidade. “Alguém pode amar muito o município, mas não mais que eu”. Nascido no bairro Matão, Dalben cresceu por lá e, mesmo sendo eleito prefeito em 2016 e reeleito em 2020, não abandonou as origens. Vive no local até hoje.

Na plenitude de seus 33 anos, o jovem prefeito traz consigo a tradição que a família carrega na política sumareense. Seu pai, Dirceu Dalben, foi vereador e prefeito por dois mandatos da cidade e atualmente ocupa uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), pelo mesmo partido do filho.

Seu avô materno, Alfredo Ruzza, foi o primeiro da família a se envolver com política, liderando movimentos de bairro na região do Matão, entre as décadas de 80 e 90, para reivindicar uma infraestrutura básica - pavimentação, saneamento e saúde - e, posteriormente, ocupando uma vaga na Câmara Municipal da cidade.

Hoje, apesar de contar com apoio irrestrito do pai, Luiz Dalben se mostra um político independente e moderno, conhecedor de todos os assuntos que envolvem sua administração. Em entrevista concedida ao Correio Popular, a convite do presidente-executivo, Ítalo Hamilton Barioni, o prefeito falou sobre saúde, educação, mobilidade e sobre os presentes que a população deve receber no próximo dia 26 de julho, quando o município completa 155 anos.

O senhor é natural de Sumaré mesmo?

Sim, nasci no Matão. Meu registro é de Campinas, mas por causa do cartório. Vivi no Matão a vida inteira.

Há uma impressão de que Sumaré registrou um grande crescimento nos últimos anos. Procede?

Graças a Deus. A chegada de indústrias contribui para desenvolver muito. Temos muitas produções. Por exemplo, a Yara Fertilizantes produz em Sumaré e é a maior fábrica de fertilizantes do mundo. Sai daqui, vai para o Mato Grosso por linha férrea e abastece todo o Brasil, desde o produtor de batatas no Sul até o produtor de cana-de-açúcar no Nordeste. Ao lado dela, tem a (fábrica) de defensivos agrícolas. Sumaré acabou crescendo em razão dessa industrialização. Eu percebo, no entanto, que a questão social foi muito negligenciada entre as décadas de 80 e 90. Iniciouse o projeto Cura, na divisa com Campinas, iniciou-se o Matão e houve um crescimento exponencial de residências sem infraestrutura. A pavimentação chegou a Sumaré nos anos 90, 2000. Campinas estava praticamente inteira pavimentada e a cidade vizinha aprovava loteamentos sem asfalto, sem rede de esgoto. É muito difícil você administrar uma cidade que nasce desse jeito. Justamente por isso minha família decidiu entrar na política, e meu avô começou a luta de bairros. Ele foi vereador, depois o meu pai, justamente por perceber que os bairros de Campinas, ali na divisa, já tinham asfalto, saneamento, saúde, e no Matão não tínhamos nada.

O Matão fica entre três municípios (Paulínia, Campinas e Sumaré). O senhor acredita que essa peculiaridade pode ter sido um dos fatores que deixou aquela região “órfã”, sofrendo com falta de estrutura?

Acho que todas as regiões, com exceção do Centro, sofreram com isso, tanto que Hortolândia se emancipou de Sumaré por conta disso. Não tinha estrutura nenhuma. Se emancipou e virou uma potência. Sumaré foi, historicamente, negligenciada pela Administração Pública em vários setores. O pior resquício disso foi, justamente, a perda de Hortolândia. Eu sou o prefeito que terminou de pagar a dívida de instalação de esgoto em Hortolândia. Quando nasci nem existia a dívida e coube a mim, como prefeito, pagá-la. Sumaré é uma cidade com, digamos, vários distritos. É como se fossem seis distritos de Sousas (em Campinas) formando uma cidade. Tudo é muito longe, não é perto. Aqui em Campinas, quem mora na periferia diz que “vai à cidade” quando vai ao Centro. Em Sumaré, quando as pessoas vão ao Centro, elas dizem que vão a Sumaré, ou seja, a população não tem sensação de pertencimento em razão desse desmembramento da cidade.

Seus estudos iniciais foram feitos em Sumaré?

Não, estudei em Campinas. Comecei a estudar no Castelo e depois mudei para um colégio no (Jardim) Chapadão. Curiosamente, também fiz minha faculdade aqui, em Publicidade e Propaganda.

Como começou o interesse pela política?

No meu caso, foi por causa de um buraco (risos). Eu tinha uma drogaria no Bom Retiro. Bem na esquina, a poucos metros do meu comércio, tinha um buraco que acumulava muita água canalizada da rua, muita mesmo. Em frente tinha um ponto de ônibus e, nos dias de chuva, os carros passavam e molhavam as pessoas, jogavam uma água fedida no povo, que ficava revoltado. As pessoas iam na farmácia e pediam ajuda para poderem se limpar. Quando vejo coisas pequenas a serem arrumadas, fico revoltado. Chamei um vereador que era conhecido no bairro e pedi para ele resolver esse problema, mas ele não fez. Aí fui até o segundo vereador, ele também não fez. Fui ao terceiro e a mesma coisa. Fiquei invocado e pensei: “o cara é vereador e não consegue arrumar um buraco?”. Depois, vindo para Campinas todo os dias, para a faculdade, percebi que a cidade não tinha acessos. Eu pegava trânsito todo dia. A via que eu tomava tinha mais buracos que asfalto e, para piorar, colocaram radares. Ali surgiu uma indignação que me jogou para a política. Conversei com meus pais e minha mãe foi completamente contra, disse que seria a perdição da minha vida. E aí, em 2012, fui vice-prefeito, mas não consegui arrumar o buraco nem duplicar a via. Em 2016, disputei a eleição contra a prefeita que estava no mandato e nós ganhamos. Tive 50 mil votos e ela teve 30 mil, diferença de 20 mil. Na época foi a maior diferença em Sumaré, porque as vitórias lá sempre foram apertadas. Agora, já prefeito, coloquei como meta fazer a obra de duplicação da avenida que eu usava (para ir à faculdade). Foi difícil. A área não pertencia ao município. Em 1970, o prefeito perdeu os arquivos e a dona entrou na justiça pedindo indenização. Foi difícil, mas eu fiz. Está lá.

Existe uma grande diferença entre a vida privada e a pública. Na privada, você faz o que quiser, desde que a lei não proíba. Já na pública, você faz apenas o que a lei permite. Para o público, fica parecendo que o administrador é letárgico, ou seja, demora muito para fazer as coisas. Como explicar para a população? O senhor tenta fazer isso ou não é um problema?

Eu tento fazer, mas temos que entender o outro lado. A moça que faz o café aqui, por exemplo, ela precisa sair às 6h de casa para chegar às 8h no trabalho. Ela já sai de saco cheio do lar, não quer saber das notícias, da política. As pessoas não têm mais tempo. Quando saem do trabalho, às 18h, são mais duas horas para voltar para casa e, aí sim, fazer janta, arrumar o almoço do dia seguinte, arrumar os filhos, lavar a louça. As pessoas se informam hoje pelo WhatsApp. Essa é a maior dificuldade da comunicação. Por isso que estamos trazendo, no aniversário da cidade, as atividades da Prefeitura para as feiras itinerantes. Como que eu me comunico com a pessoa se ela não quer saber? Veja, fizemos uma pesquisa, quando entrei na Prefeitura, para saber quantos pais respondiam o caderno de recados do filho. 92% não fazem isso. Precisamos reaprender como se posicionar nesse mercado para poder falar com as pessoas. Hoje, nas redes sociais, eu falo o que preciso em 15 segundos.

Sumaré se antecipou às demais cidades do país e criou um comitê de crise para combater a pandemia de covid-19 ainda em 12 de janeiro de 2020 (Kamá Ribeiro)

Sumaré se antecipou às demais cidades do país e criou um comitê de crise para combater a pandemia de covid-19 ainda em 12 de janeiro de 2020 (Kamá Ribeiro)

Quando a pandemia começou o senhor era um prefeito jovem, apesar de já ter um pouco de vida política. Como foi viver esse momento? Quais reflexos ainda são sentidos?

Sumaré foi a primeira cidade do Brasil a criar um comitê de crise para combater o coronavírus. Para mim não foi mais fácil que para ninguém, mas acho que conseguimos nos preparar melhor que outras cidades que tiveram dificuldades. Nós tínhamos comitê já em 12 de janeiro de 2020, quando ninguém estava pensando nisso no Brasil. Deus me iluminou naquele dia e criamos um plano, colocando médicos, secretários, diretores de saúde e até a moça da limpeza. Nós fizemos uma operação pensando desde a coleta de lixo até a higienização do transporte que leva a merenda para a escola. Isso nos favoreceu muito. O Hospital Estadual de Sumaré tem 14 mil m². O hospital de campanha tinha 16 mil m². Conduzimos bem a crise.

E como foi na época a relação com governo federal, visto o negacionismo do então presidente (Jair Bolsonaro – PL)?

O governo federal mandou dinheiro para Sumaré, R$ 32 milhões, não nego, mas quis criar dificuldade para os políticos, criar barreiras. A dificuldade de conseguir vacinas, por exemplo. Se não fosse o João Dória, estaríamos lascados. Salvou muitas vidas em nosso país. Se não fosse isso, a nossa dificuldade seria muito maior. O governo federal não encampou a luta junto, faltou naquela esfera o que eu fiz na cidade, mas, como eu disse, o Estado compensou, e, por isso, sou muito grato ao Dória.

E os reflexos da pandemia?

Educação, cirurgias eletivas, pediatria – que ficou parada. Estamos voltando aos poucos e acredito que o governo Lula (PT) vai ajudar a compensar as cirurgias eletivas e reduzir essa fila. Acredito que tanto Tarcísio (de Freitas – Republicanos) quanto Lula estão preparados para o desafio que estão enfrentando e vão fazer o que precisa.

Alguns temas envolvem várias cidades da região. A questão do lixo, da mobilidade urbana, da saúde, como a ideia do Hospital Metropolitano, uma antiga demanda. Como o senhor vê essa questão?

Com amadurecimento. Sou vice-presidente do conselho da Região Metropolitana de Campinas (RMC) e vejo que ele está muito desenvolvido. A gente tem discutido, por exemplo, um Plano Diretor para o desenvolvimento de todas as 20 cidades. Isso é uma coisa inédita. Nasceu de uma conjuntura de prefeitos conhecedores e se mantém com a vontade de tornar a coisa realidade.

Acho que tem uma boa safra de prefeitos, com mais vontade de conhecer alguns assuntos e essa mudança é uma virada de chave importante.

Em relação à educação, na pandemia implantei aulas suplementares e, atualmente, todas as crianças têm aula de robótica nas escolas de Sumaré. Todas as salas de aula têm arcondicionado, em cada unidade tem uma lousa digital. Não contentes, fizemos uma parceria com o Sebrae e implantamos o Jovem Empreendedor. Tivemos a nota mais alta do Saresp (avaliação de ensino da educação estadual) na região. No segundo ano de mandato fui muito criticado por colocar playground nas escolas. Quem é da periferia vai à escola para comer e brincar, e tem que fazer as crianças terem vontade de brincar, de ir para a escola. Um dia, visitando uma escola, me deparei com uma menina que tinha a mobilidade reduzida. Fiquei com um sentimento de culpa tão grande, pois meu melhor amigo de infância era uma pessoa com deficiência física. Como eu não pensei nisso? Chamei o secretário de Educação e disse: “quero playground inclusivo em todas as escolas”. Ele retrucou, disse que não dava, que havíamos acabado de instalar o playground. Eu disse que não queria saber, pois havia piorado a situação para aquela criança. Nós fizemos e agora temos playground inclusivo em todas as escolas.

Sumaré zerou as filas para matrícula em creches em 2019, mas pandemia interferiu no avanço; meta é deixar vagas para todas as crianças até 2030 (Divulgação)

Sumaré zerou as filas para matrícula em creches em 2019, mas pandemia interferiu no avanço; meta é deixar vagas para todas as crianças até 2030 (Divulgação)

E como está a situação das creches?

Em 2019 zeramos as filas, mas veio a covid-19. Em 2020, o pessoal não credenciou o filho para estudar. Em 2021, foi pior ainda. Saímos de 6 mil vagas para 3 mil. A gente mostrou, no ano passado, que estávamos preparados para a volta das aulas. Por fim, em 2023, vamos zerar novamente. Hoje, 6 mil crianças de Sumaré estudam em escolas particulares, acho que é um modelo novo. Vou deixar, até 2030, vagas para todas as crianças, independente da barreira do meu mandato.

O senhor também está investindo na questão ambiental, no verde do município?

Sim, é importante, é a “maquiagem” da cidade. Sumaré não tinha uma área de lazer, hoje tem o Bosque do Dall’Orto, quase 80 mil m² de parque. Estamos iniciando um parque linear na região do João Paulo. Não vai dar tempo, mas minha intenção era fazer um parque por região.

Quando o senhor esteve à frente do DAE (Departamento de Água e Esgoto), tinha uma preocupação em relação ao abastecimento. Como está essa questão hoje?

Eu tinha muita preocupação. Hoje a gente capta água do Rio Atibaia, mas é difícil, porque é um rio muito poluído. Nossa captação fica perto do tratamento de esgoto de Paulínia, então é uma água difícil de tratar. Fizemos um estudo há alguns anos e concluímos que é uma água muito cara. Ficaria mais barato comprar água da Sanasa, ou da Sabesp, do que tratar, mas hoje melhorou muito. Fizemos investimentos de cerca de R$ 50 milhões na captação e tratamento, e a água é um pouco melhor. Às vezes falta por não termos reservação, então, esporadicamente, há o corte, mas graças a Deus não tivemos grandes problemas com abastecimento nos últimos anos.

Houve uma manifestação da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) acerca da reforma tributária. Qual é a sua visão sobre o tema?

A reforma vai nos prejudicar muito. Para mim, o prejuízo é grande. Estimamos perdas de R$ 200 milhões. Esse valor, em uma cidade que arrecada R$ 1,2 bilhão por ano, que tem um comprometimento de endividamento de quase 20% de sua arrecadação, é brincadeira. É condenar a cidade a não ser nada. Como vou estimar o meu orçamento se precisarei esperar o governo federal dizer quanto vou receber? É um prejuízo incomensurável. Para aprovar essa reforma, na minha opinião, ela tinha que ter um estudo de impacto em todas as prefeituras do Brasil. E já que é para aprovar, para fazer o país dar certo, vamos fazer a cidade dar certo. Ninguém sabe onde está o governador, o presidente, o ministro, mas o prefeito todo mundo sabe.

Como estão as questões sociais em Sumaré?

Temos desafios grandes. Nos deparamos cada vez mais com pessoas em situação de rua. Passamos aperto também com a insegurança alimentar, mas melhorou um pouco com a queda da inflação. Eu penso que o governo federal tem que subsidiar a cesta básica para melhorar ainda mais, dar condições para que as pessoas pobres possam sobreviver. Outra coisa que impacta diretamente na vida do mais pobre é a tributação de medicamentos. Hoje os impostos são tabelados. Mesmo que o dono da drogaria consiga preços mais baixos com o fornecedor, não compensa para ele vender mais barato, sendo que o imposto está acima do preço que ele vai praticar. Sofre quem mais precisa.

E o aniversário da cidade? Qual a programação?

Teremos várias inaugurações no aniversário. Acabamos de fazer o recapeamento da Estrada Américo Ribeiro dos Santos, o portal de entrada do Cura, vamos inaugurar 34 academias ao ar livre, fizemos a ampliação da UPA do Macarenko, temos que inaugurar a UPA da Cura, fizemos a Festa da Roça, a inauguração do Centro de Esportes e Artes Unificados (CEU), espaço com pista de skate, biblioteca na região do Maria Antônia. Além disso, tem 5 milhões de m² de asfalto novo em Sumaré. Temos 85% da cidade recapeada. Espero ter 100% até o final do mandato.

Como é o diálogo com seu pai? Ele é um conselheiro político seu?

Relação com meu pai é excelente, ele me ajuda muito e realizamos muita coisa juntos. Ele é meu melhor amigo, meu braço direito, esquerdo e minhas duas pernas.

Prefeito, para finalizar, quais são os seus hobbies?

São meus dois filhos. Gosto de andar na minha cidade, levar meus filhos para brincar. Levo eles para conhecer aquilo que eu, enquanto prefeito, pude realizar pelo meu povo. Tenho uma paixão pela minha cidade.

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