Informações da Secretaria de Saúde apontam um total de 25 crianças aguardando por uma vaga em enfermaria (Kamá Ribeiro)
Objeto de atenção na saúde de Campinas, a lotação dos leitos pediátricos de enfermaria e de UTIs continua em alta e deve permanecer assim pelo menos até o fim de junho, visto que grande parte da ocupação é ocasionada por Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAGs). Considerando-se o SUS Municipal, Estadual e a rede privada, a ocupação nos 106 leitos de UTI Infantil na cidade era de 91,5%. Dos 97 hospitalizados, 64 possuíam alguma das SRAGs, o equivalente a 66% de todas as crianças em UTIs.
A média diária de internação vem crescendo desde janeiro, mesmo com a circulação da Ômicron, variante da covid-19 com alto poder de transmissão no início do ano. No primeiro mês de 2022, 31 crianças em média ficaram internadas nas UTIs dos serviços públicos e privados com síndromes respiratórias. Em fevereiro, foram 33. A partir de março esse número passou a ser ainda maior. Eram 42, passou para 48 em abril, até chegar aos atuais 51 pacientes hospitalizados por dia - número que é inferior às 64 crianças internadas ontem, o que mostra uma tendência de que o número suba ainda mais até o final deste mês.
A médica infectologista e coordenadora da Vigilância Epidemiológica do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Valéria Almeida, alertou que a situação deve perdurar por mais tempo. "As internações por SRAGs podem ser de qualquer vírus, desde covid-19, VSR, até Influenza. E temos vários deles acometendo as crianças, além de uma mudança na temperatura. Há um período de sazonalidade que se repete anualmente e, observando o padrão do que aconteceu nos últimos anos, esperamos ainda enfrentar número relevante de casos de crianças com SRAGs até o fim de junho, com uma tendência de melhora após esse período."
Embora o outono e o inverno normalmente façam com que mais crianças adquiram doenças respiratórias, este ano a demanda está maior que nos anos pré-pandemia. A covid-19 é responsável por isso, à medida que representa alguns casos suspeitos, mas também de outras maneiras.
"Todo ano as crianças se expõem naturalmente, algumas ficam doentes, adquirem anticorpos e tornam-se mais protegidas. As de dois, três, quatro anos, ficaram preservadas durante estes dois anos de pandemia, não adquiriram infecções. Só que agora, elas estão circulando na sociedade e estão suscetíveis à infecção. Em vez de ter poucos suscetíveis, temos uma quantidade acumulada. Então, há o aumento das crianças suscetíveis e, consequentemente, maior circulação dos vírus, pois ele aproveita para infectar quem ainda não pegou a doença", explicou a coordenadora da Devisa.
Dentre as diversas SRAGs, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é o que aparece com maior frequência como causa de internação. Vinte pacientes estão hospitalizados por causa dele, o que corresponde a 31,2% dos casos de SRAGs e 20,6% de todas as internações em UTI. Em relação à covid-19, não há confirmação em nenhum dos internados, mas a suspeita existe em 26 casos, que estão sob investigação. Isso equivale a 26,8% de todas as hospitalizações e 40,6% das que têm as SRAGs como causa.
A situação também é complicada nos leitos de enfermaria. O boletim epidemiológico divulgado ontem pela Secretaria de Saúde apontou um total de 25 crianças aguardando vaga em enfermaria, com os 59 leitos do SUS Municipal ocupados.
A infectologista mencionou a relevância da vacinação contra as doenças respiratórias, como a da gripe, cuja campanha está em andamento com crianças abaixo de cinco anos elegíveis para receber o imunizante. Ela também defendeu a manutenção do uso de máscaras, lembrando que crianças maiores, em idade escolar, podem levar para casa as doenças respiratórias e contaminar as menores.