ESPECIAL JOVENS

Longe de casa... aprendendo muito

Nos acampamentos, jovens desenvolvem autonomia e responsabilidades longe dos pais, socializam com os amigos e deixam o celular de lado

Aline Guevara
30/05/2023 às 11:39.
Atualizado em 30/05/2023 às 11:39
Os aprendizados nos acampamentos (Freepick)

Os aprendizados nos acampamentos (Freepick)

Com as férias escolares se aproximando, não é das tarefas mais fáceis para os pais lidar com os filhos em casa o dia todo sem atividades que os entre - tenha ou vê-los apenas diante das telas. Uma boa opção que atende as duas partes envolvidas são os acampamentos para jovens. Estes espaços geral - mente oferecem uma gama de atividades, em sua maioria ao ar livre e mais próximas à natureza, além de oficinas, brincadeiras e festas temáticas. A diversão é garantida e o aprendizado também, mesmo se a duração for de apenas um fim de se - mana ou se ela se estender por uma quinzena. 

Partiu da estudante campineira Helena Girar - delli, de 12 anos, a vontade de viajar com a turma da escola de inglês para um acampamento. Era seu primeiro passeio do tipo e nem foi tão difícil convencer os pais. Segundo a mãe, a psicóloga Carina Girardelli, eles estão cientes que a filha tem “asas no pé”. “Nós não tivemos muita opção”, lembra, rindo. “Uma vez, claro, tendo condições financeiras de mandá-la para o passeio, enten - demos que tínhamos que deixar. Ela quer, é um movimento dela, e eu e meu marido chegamos à conclusão que ou a gente enfrentava ou a gente enfrentava”, brinca. 

Os três dias foram pouco para a jovem. “Eu nem queria ter voltado”, revela. Durante o passeio na cidade de Santo Antônio do Pinhal, SP, ela aproveitou para praticar alguns dos esportes de aventura oferecidos pela organização do acampa - mento, como tirolesa, caiaque e stand up paddle, modalidade em que o praticante se posiciona em pé sobre uma prancha na água e usa o remo para se locomover. Sem qualquer timidez, Helena afir - ma que um dos principais motivos que a fizeram gostar da experiência foi a distância dos pais ou de quaisquer outros responsáveis conhecidos. Ainda que alguns dos professores estivessem presentes e o acampamento contasse com monitores, a sensa - ção era de autossuficiência. “Também estava cer - cada dos meus amigos e aproveitamos tudo o que podíamos”. 

Autonomia e inclusão

Como escoteira, a estudante Giovana Baroni, de 15 anos, é veterana de acampamentos e no estilo “raiz”. A adolescente começou a atividade com 12 anos e hoje consegue montar barraca, descansar em sacos de dormir e até ajuda a fazer a comida. Sua família toda ama acampar, mas a mãe, a dona de casa Valéria, frisa que sempre que possível dá para a adolescente a autonomia de poder viajar so - mente com o grupo de amigos do escotismo. “Fize - mos isso com todos os filhos, com ela, que é a caçu - la, não seria diferente”. Portadora de Síndrome de Down, a jovem e seus pais encontraram no grupo em que ela faz parte segurança, apoio e inclusão.

Giovana é bastante orgulhosa das habilidades que aprendeu com os pais e com os escoteiros durante os acampamentos. Sabe o que fazer caso esfrie muito, tem noção de como começar uma fogueira, mas sua parte preferida é estar com os amigos. “A gente senta em roda em volta da fogueira para conversar, jogar, tem músicas e até ouvir umas histórias bem legais que as pessoas contam”. Nenhuma delas é de terror, garante a garota, que não gosta das que dão medo.

Helena Girardeli (à direita na foto ao lado e em destaque acima) não queria voltar do acampamento e já pensa em fazer outro, dessa vez em Londres ()

Helena Girardeli (à direita na foto ao lado e em destaque acima) não queria voltar do acampamento e já pensa em fazer outro, dessa vez em Londres ()

Desconexão natural

Uma das propostas da programação dos acampamentos é a imersão completa naquelas atividades, desconectando os jovens de suas rotinas e também do celular. Helena e os amigos receberam a sugestão de não levarem smartphones para o local, conselho que a estudante acatou: “Alguns até levaram, mas só para conversarem um pouco com os pais à noite, antes de dormir. Mas não tínhamos nem tempo para mexer no celular”.

Trabalho em equipe e novas responsabilidades

No acampamento de Helena, uma das práticas adotadas foi a divisão do grupo de jovens em equipes que acumulavam pontos durante os jogos e atividades competindo por um prêmio final. Mas a estudante lembra que não notou rivalidades. “Acho que ninguém se importou muito com a competição, nós tínhamos que nos ajudar. A gente queria mais era curtir”. De acordo com a mãe, a experiência deu à adolescente uma autonomia importante. “A Helena sentiu ali que é capaz de vivenciar várias situações e cuidar de diferentes aspectos sozinha. Ela precisou estar atenta a detalhes, como a própria mala e tudo que ela levou”. E a jovem deu conta do recado: não só trouxe de volta todos os itens, como organizou-os entre o que estava limpo e sujo sem ter tido qualquer orientação paternal. Foi iniciativa dela, o que deixou os pais bem orgulhosos.

Valéria acredita que todo jovem precisa ter experiências em acampamentos para desenvolver autonomia e responsabilidade. “Lá tudo é coletivo, você tem que participar e dividir as coisas com seus colegas. Hoje a Giovana tem a segurança de saber que ela consegue se virar, fazer uma comida, que ela é capaz”. Em todo passeio, a adolescente também assume a responsabilidade pelos próprios kits personalizados: de higiene, de banho e de primeiros-socorros.

O lado dos pais Se existem diversos ganhos para os jovens, que se divertem e aprendem, eles também aparecem para os pais e responsáveis. “Nós ficamos, sim, um pouco apreensivos com a primeira viagem da Helena, mas levamos numa boa, mesmo com a saudade. Tínhamos boas referências do acampamento, a escola sempre vai para este lugar, e nós confiamos nela. Nosso vínculo foi estabelecido de maneira forte nestes últimos anos e ela passou muito bem”, contou Carina. Com a folga, ela e o marido puderam aproveitar programas de casal que há um tempo não faziam.

Caminho sem volta

Os acampamentos parecem ser um caminho sem volta para as jovens. Giovana não pensa em parar. Em momentos em que a pandemia impedia os passeios, a jovem acampou até no quintal de casa na companhia de amigos próximos. Já Helena mira em destinos ousados. Ela está negociando com os pais a possibilidade de fazer uma imersão com o mesmo acampamento, mas em Londres, para treinar o inglês. Os pais já aprovaram o novo roteiro para uma viagem futura. “A gente acha o máximo”, completa a mãe, orgulhosa. 

Giovana Baroni acampa desde pequena; a atividade lhe deu mais segurança e socialização com os amigos (Arquivo pessoal)

Giovana Baroni acampa desde pequena; a atividade lhe deu mais segurança e socialização com os amigos (Arquivo pessoal)

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