Máquina de 1952 veio da extinta Mogiana e faz primeira viagem após ser restaurada pela ABPF
Locomotiva de 1952 faz a primeira viagem após ser restaurada (Dominique Torquato/AAN)
Uma locomotiva de 1952, a primeira movida a diesel adquirida pela Companhia Mogiana de Estrada de Ferro em Campinas e única que restou de um lote de 12 máquinas a diesel fabricadas naquele ano e compradas pela empresa campineira, fará nesta terça-feira (30), às 10h, a primeira viagem desde que foi restaurada pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF).
O passeio, que inaugura também o primeiro carro-restaurante da Mogiana, recuperado, é em comemoração ao Dia do Ferroviário e ao 159º aniversário da primeira ferrovia do Brasil, a Estrada de Ferro Barão de Mauá.
O carro-restaurante, segundo pesquisadas da entidade preservacionista, já deve ser centenário. O presidente da ABPF, Hélio Gazetta Filho, disse que não foi encontrada nenhuma data no carro.
A única identificação é R-1. “A Mogiana tinha quatro carros-restaurantes e esse era o número 1. A companhia começou a operar os restaurantes em 1913. O carro é dessa época”, afirmou.
A locomotiva é a primeira movida a diesel a integrar o acervo da ABPF, entidade que opera o trem turístico entre Campinas e Jaguariúna. A associação obteve, no ano passado, a guarda provisória da locomotiva do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit).
A obtenção da guarda é uma vitória da entidade preservacionista, que há dois anos conseguiu a ajuda do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) para impedir que a máquina fosse levada do pátio central.
O conselho tombou o equipamento com a exigência de que ele permanecesse em Campinas. Além da máquina da Mogiana, o Condepacc incluiu, no estudo, uma locomotiva operada pela antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro e que está guardada no mesmo barracão.
“Se a locomotiva saísse de Campinas, ela corria o risco de ficar abandonada por aí e ser depredada, acabando com o último exemplar do lote das primeiras máquinas a diesel da Mogiana”, disse Gazetta Filho.
A ALL, concessionária do transporte de carga que estava com a máquina, informou, na época da abertura do processo de tombamento, que a locomotiva havia sido arrendada à empresa no processo de concessão e que estava em uso, sendo parte dos equipamentos operacionais.
A máquina, segundo a ALL, nunca saiu de Campinas porque vinha sendo utilizado desde o início de sua operação, nos anos 1950, para movimentar carros e vagões nas oficinas instaladas no pátio central da cidade.
“Nos interessa ter uma máquina mais ágil na coleção para usar nas emergências. Se uma maria-fumaça quebra em Tanquinho, por exemplo, hoje levamos muito tempo para enviar outra para socorrer por causa do processo de aquecimento da caldeira. Com uma a diesel iremos mais rápido”, disse Gazetta.
Além disso, a intenção da entidade é ter exemplares de vários períodos da ferrovia, formando um museu ferroviário a céu aberto. “Se não fizermos nada para impedir a retirada desses equipamentos de Campinas, eles vão virar sucata, como já ocorreu com várias máquinas”, afirmou Gazetta.
A Companhia Mogiana de Estradas de Ferro foi fundada em 18 de março de 1872, teve quase 2 mil quilômetros de linhas e serviu aos estados de São Paulo e Minas Gerais até 1971, quando foi incorporada à Ferrovia Paulista S.A (Fepasa).
Estação
A locomotiva foi recuperada na Estação Carlos Gomes, onde estão instaladas as oficinas da entidade. Segundo Gazetta, a parte elétrica foi toda refeita porque havia sido vandalizada no período em que ficou no pátio central. Ela terá lugar de destaque no acervo da ABPF porque é representativa do início de uma nova fase das ferrovias no Brasil, onde o diesel substituiu as marias-fumaças.
A ABPF tem, em Campinas, o maior acervo de marias-fumaças da América Latina (são 12 locomotivas restauradas e mais quatro à espera de recuperação e 60 carros e vagões) graças ao trabalho de garimpagem realizado pelos associados.
São ex-ferroviários e apaixonados por trens que dedicam parte de seu tempo a recolher preciosidades abandonadas em pátios desativados.
Sem isso, um importante acervo histórico estaria distribuído pelo País correndo o risco de ser corroído pela ferrugem ou virar sucata. Em processo de inventariança, a Rede Ferroviária Federal S.A., proprietária de todo o material das ferrovias desativadas, está leiloando tudo o que não entrou no processo de privatização.
As marias-fumaças estão sendo salvas graças ao convênio entre a ABPF e a RFFSA. Por ele, a entidade tem a cessão, em comodato por 99 anos, desses equipamentos, desde que restaure e mantenha a “frota” conservada.