CURY

Linha é recordista em reclamações

Veículos que fazem o mesmo trajeto de ônibus que caiu de viaduto tiveram 346 queixas em um ano

Patrícia Azevedo
26/07/2013 às 08:44.
Atualizado em 25/04/2022 às 07:32
Passageiros esperam ônibus na Avenida Anchieta: atrasos e motoristas que não param no ponto são principais alvos da insatisfação do usuário ( Dominique Torquato/AAN)

Passageiros esperam ônibus na Avenida Anchieta: atrasos e motoristas que não param no ponto são principais alvos da insatisfação do usuário ( Dominique Torquato/AAN)

A linha do transporte coletivo urbano 1.17 (DIC 4-Centro), que teve um ônibus que despencou do Viaduto Cury na terça-feira provocando uma morte e deixando 19 feridos, é a campeã de reclamações junto à Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). No período de um ano (1 de julho de 2012 a 30 de junho deste ano), ela recebeu 346 reclamações. A maioria, 137, dizem respeito ao não cumprimento de horários, e 90 são de motoristas que não pararam no ponto. S., uma das vítimas do acidente de terça-feira, contou que são muitos os problemas na linha. Antes de entrar no veículo que caiu naquele dia, dois ônibus tinham passado pelo ponto em que ela estava sem parar. Um deles era o 1.17. “Eles vieram correndo pela (rodovia) Santos Dumont na pista da esquerda e não pararam. Isso acontece direto por causa dos atrasos.”Durante um ano, a Emdec registrou 14.196 reclamações do transporte público coletivo municipal. A segunda linha com maior número de queixas é a 1.16 (Terminal Ouro Verde-Shopping Dom Pedro), com 279 ocorrências, seguida pela 1.90 (São Domingos), com 268 reclamações.O medo é companheiro diário de viagem de uma série de campineiros que utilizam o transporte público para trabalhar ou estudar. A reportagem do Correio fez ontem o trajeto do ônibus entre a Avenida Prestes Maia e Sousas. E constatou que são vários os relatos de passageiros que apontam a falta de cuidado e excesso de velocidade por parte dos motoristas. Segundo os usuários, esse sentimento foi ampliado depois do acidente no Viaduto Cury.Pelo menos quatro das 15 pessoas entrevistadas disseram que já sofreram pequenas escoriações em casos de freadas bruscas ou curvas em velocidade elevada. “Uma vez o motorista estava correndo tanto que numa freada eu caí e bati o braço”, contou a doméstica Irenalves Dias. Há também relatos de outros casos de desrespeito com os passageiros, como arrancar sem esperar que eles embarquem ou desçam do ônibus e não parar nos pontos.A operadora de mercado Kelly Cristina Fidêncio, mulher do porteiro José Antônio da Silva, morto no acidente, reclama do excesso de velocidade no transporte. “Eles vivem correndo. Meu filho já sofreu acidente, mas agora o meu marido morreu, e o que eu vou dizer para os meus filhos?”, disse, logo após receber a notícia da morte do marido.A vendedora Flávia Amâncio também reclama da qualidade do serviço prestado pelos coletivos. “Os motoristas da minha linha correm muito, já até me machuquei por causa de freadas bruscas que me levaram a bater nas ferragens do ônibus”, disse. A vendedora Sônia Freire confessa que tem medo de viajar em algumas linhas. “Muitos motoristas precisam cumprir o horário e excedem a velocidade. Eu já sentia medo antes, mas agora ficou pior”, contou.A Emdec informou que quando os agentes da mobilidade urbana flagram alguma situação irregular no transporte público coletivo municipal, emitem um Auto de Infração de Transporte Público (AITP). Segundo a empresa, o documento vira uma notificação e, após prazos de recurso, a empresa está sujeita a penalidade administrativa ou multa administrativa.Nos ônibus, pontos de parada e terminais, o assunto continua sendo o acidente do Viaduto Cury. Motoristas e passageiros falam sobre a tragédia e demonstram preocupação com o assunto. “Eu fiquei com mais medo de acidentes depois desse caso”, admitiu a auxiliar de limpeza Zenilde da Silva. O ambulante Paulo Joaquim Justiniano conta que já não gostava dos veículos articulados e que depois do acidente passou a evitá-los. “Eu tenho medo que ele parta ao meio e tombe, como aconteceu com aquele que caiu do viaduto”, disse. Vai alémPassageiros de ônibus não são os únicos a reclamar no trânsito de Campinas. Muitos motoristas se irritam com o que consideram abusos por parte dos condutores dos coletivos. As reclamações mais constantes são as chamadas fechadas e conversões sem sinalização. “Eu já perdi a conta de quantas vezes fui fechada por um motorista de ônibus nas ruas de Campinas. O complicado é que eles nem ligam, estão dirigindo um veículo grande e nós é que temos que parar para evitar colisões”, disse a vendedora Renata Ribeiro. O funcionário público Rubens Souza diz que entende a correria dos motoristas e a necessidade de cumprir horários, mas acredita que eles poderiam ser mais gentis. “Uma regra básica é dar seta, mas mesmo assim muitos ignoram quando vão mudar de faixa. Ninguém é obrigado a advinhar o que o outro vai fazer”, afirmou.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por