INSEGURANÇA

Linha do medo tira ônibus de circulação

Motoristas recolhem veículos à noite, no fim de semana, após casos de assaltos e vandalismo

Felipe Tonon
26/04/2013 às 06:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 18:43
No último final de semana, os circulares da linha tiveram que ser escoltados pela Guarda Municipal (Edu Fortes/ AAN)

No último final de semana, os circulares da linha tiveram que ser escoltados pela Guarda Municipal (Edu Fortes/ AAN)

Motoristas e cobradores da linha 190, que transporta passageiros da região central de Campinas até o bairro São Domingos, decidiram tomar uma atitude drástica: há pelo menos três semanas, entre a sexta-feira e domingo, os motoristas estão recolhendo os ônibus à garagem da empresa VB Transportes antes das 21h, por conta dos atos de vandalismo e dos assaltos registrados nos coletivos.

No último final de semana, os circulares da linha tiveram que ser escoltados pela Guarda Municipal. A reportagem ouviu relatos de vários funcionários que atuam em ônibus que cruzam a Rodovia Santos Dumont. Consumo de drogas, assaltos a mão armada e atos de vandalismo viraram rotina, principalmente na linha 190, que transportam, em média, 12 mil passageiros por dia. Mas pelo menos outras cinco linhas que rodam pela via também estariam sendo alvo de gangues.

A Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campinas (Transurc), informou que esta semana houve uma reunião entre representantes da VB e a Polícia Militar, para traçar estratégias de segurança.

Segundo os motoristas, os vândalos não são do bairro São Domingos, ponto final do ônibus, e todos têm um único destino: um baile funk no Jardim Campo Belo, às margens da Rodovia Miguel Melhado Campos (SP-324), que liga Viracopos a Vinhedo.

“Durante a semana transportamos trabalhadores, pessoas de bem, mas os baderneiros de final de semana não querem saber se o ônibus pegar fogo, ou não. Arrebentam a cordinha de parada, não pagam. Eles fazem o que querem”, relatou um motorista.

“Xingam a gente de vagabundo, de palavrões. Um já tirou a arma para mim dizendo que não ia pagar passagem”, disse outro condutor. “É um estresse grande porque a minha vida está em risco. Se a gente não tem segurança para trabalhar não tem como oferecer segurança para os passageiros.”

As linhas 192 e 197, que fazem praticamente a mesma rota dos ônibus que vão para o São Domingos, também estão sofrendo com a atuação dos vândalos. Com a paralisação dos circulares da 190, o problema é transferido para essas linhas, que são de uma cooperativa, gerando um efeito cascata. Em um final de semana, a paralisação chegou a tirar quase todos os ônibus que circulam pela Santos Dumont até Viracopos.

Sem ônibus para voltar para casa, quem sofre são os passageiros. “O meu filho trabalha no Campinas Shopping e sai quase meia-noite. Ele depende do ônibus, mas não consegue pegar de final de semana”, disse a cabeleireira Sueli Alves Lobato, de 47 anos. Ela contou que ele teve de andar a pé pela rodovia até a entrada do bairro Monte Belo. “A PM abordou ele três vezes. Meu filho trabalha, não é marginal. Enquanto isso o problema está dentro dos ônibus e ninguém faz nada”, criticou.

A jovem Ediclea da Silva, de 24 anos, trabalha em uma loja no saguão de Viracopos e contou que sofre para voltar para casa quando precisa do ônibus aos finais de semana. “Do aeroporto até a rodovia tem ônibus, mas ele não passa. O jeito é ir embora de carona”, contou.

Medidas

Uma reunião entre PM e representantes do Sindicato dos Rodoviários e da empresa VB Transportes foi realizada esta semana. Em nota, o Comando do 47 Batalhão da PM informou que já realiza a segurança “de toda a sociedade e seus meios de transporte” e disse que não foi solicitada por motoristas ou passageiros dos ônibus.

A corporação reforçou que as pessoas que verificarem pessoas suspeitas devem acionar a polícia através do telefone 190.

A GM confirmou que a escolta feita no último final de semana foi necessária porque os ônibus estavam com passageiros e os motoristas se recusavam a continuar a viagem. A Secretaria Municipal de Segurança informou que soube dos problemas e que outras medidas devem ser tomadas.

Paulo Barddal, assessor de comunicação e marketing da Transurc, disse que as empresas afetadas estão tomando providências para evitar a paralisação dos ônibus e garantir a segurança deles. Por isso, enviou ofícios à PM, sindicato da categoria e Emdec.

“Foram feitos diversos boletins de ocorrência e o problema vem desde o ano passado, mas antes atingia a Expresso CampiBus, que fazia a região do Parque Oziel, onde acontecia o baile funk.

Com a migração para o Campo Belo, o problema também migrou para aquela região.”

A Emdec afirmou que a situação foi avaliada em reunião com a PM, mas os resultados do encontro não foram divulgados.

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