Proposta para prédio da antiga fábrica foi apresentado com exclusividade ao Correio Popular
“Será um museu das tradições que se perpetuam até os dias atuais, expressadas em danças, artes visuais e música”, contou a secretária Caprioli (Kamá Ribeiro)
O Correio Popular obteve com exclusividade o projeto arquitetônico elaborado para restauro da antiga Fábrica da Lidgerwood, na Avenida Andrade Neves. A Administração municipal apresenta o documento pela primeira vez amanhã, em um evento público no auditório do Centro de Educação Profissional de Campinas (Ceprocamp).
Conforme noticiado na edição de quinta-feira, a ação busca pôr fim a um antigo impasse, que perdura mais de uma década, entre Estado e Prefeitura. O prédio, que é patrimônio tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), sediava o museu da cidade, mas está interditado desde 2017 porque a cessão do espaço, que é do Estado, ao município foi encerrada.
Em 2021, a Administração proibiu o acesso ao espaço alegando motivos de segurança, em razão do avançado estado de degradação.
Agora, o objetivo é revitalizar o local e conferir a ele nova função, a de ser um “museu das tradições vivas”. A ação integra os esforços da gestão Dário Saadi (Republicanos) para revitalizar a área central.
NOVO MODELO
Na quinta-feira (13), a secretária de Cultura, Alexandra Caprioli, revelou, em entrevista concedida à reportagem, que o modelo de museu praticado no espaço será transformado.
Após a revitalização, a ideia é que o espaço abrigue outras apresentações artísticas, além de abrigar parte do acervo histórico da cidade.
“Vai ser um museu das tradições vivas, ou seja, das tradições que se perpetuam até os dias atuais, expressadas em danças, artes visuais e música, por exemplo. É contar a história viva, além do acervo”, disse Caprioli.
Conforme explicou a secretária, a reunião de apresentação, que acontece às 9h30, tem o objetivo de apresentar o modelo ao público e receber sugestões de possíveis alterações.
“É uma reunião que vai contar com a presença de conselhos, artistas, da população. Queremos justamente que sejam feitas contribuições para mandar à empresa que elaborou o projeto, para que ela possa fazer as devidas alterações, uma vez que não será mais possível mexer (no projeto) depois que ele for concluído.”
A empresa responsável pela elaboração é a H+F, a mesma que desenhou a requalificação do Museu do Ipiranga, na capital paulista, e está também realizando a do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
NEGOCIAÇÕES
Sobre as negociações com o Estado para obter a propriedade do prédio, Caprioli adiantou que estão avançando. A secretária informou que a Secretaria de Finanças entrou no jogo para tentar agilizar o processo. A ideia é isentar o governo estadual das dívidas de IPTU que o prédio acumula em troca da transferência de propriedade para o município.
As negociações existem desde 2021 e, segundo a secretária, estão avançando. Há cerca de dez anos, o Estado pediu à Prefeitura um montante de R$ 3,5 milhões pela venda, o que foi negado sob alegação de falta de verba. A Administração não informou o valor devido pelo Estado em razão do “sigilo fiscal do contribuinte”.
PATRIMÔNIO
O prédio foi construído entre 1884 e 1886. A construção, inovada para a época, utilizou a alvenaria aparente (material construtivo importado da Inglaterra) para enriquecer a superfície das paredes com saliências. As telhas e os vidros de cor “lilás” vieram da França. Nas áreas das oficinas as telhas eram de zinco. O madeiramento (pinho-de-riga) veio importado da Europa, servindo como lastro nos navios, e quando descarregado, os porões eram abastecidos com sacas de café.
A Lidgerwood, que produzia máquinas agrícolas e concentrava o trabalho de fundição na unidade de Campinas, encerrou suas atividades no ano de 1922 quando vendeu o prédio para Pedro Anderson & Cia. Incorporation, que permaneceu no local até 1928 quando a Cia. Paulista de Estradas de Ferro (CPEF) o comprou. A CPEF adaptou as antigas instalações industriais para a sede do Rodoviário da Cia. Paulista (RCP), uma divisão da empresa sobre transporte rodoviário. Com a incorporação da ferrovia pelo Estado para formar a FEPASA- Ferrovias Paulistas S.A em 1971, o imóvel acabou servindo de garagem dos funcionários da estatal, deteriorando-se com a falta de manutenção.
No ano de 1985, correu o risco de demolição devido à implantação de um novo sistema viário, sendo impedido pelo manifesto do Grupo de História Regional Febre Amarela, ficando abandonado até 1991. O Museu da Cidade foi criado e ali instalado em 1992 para reunir os acervos de três museus, o Museu do Índio (1967), o Museu Histórico (1969) e o Museu do Folclore (1977).
“É um testemunho importante do complexo industrial que se organiza em torno da ferrovia, lembrando que a ferrovia é a primeira grande indústria de transformação do município, do estado de São Paulo e até do próprio país. Isso mostra a importância desse patrimônio”, avaliou Fabíola Rodrigues, assessora de gabinete para assuntos de patrimônio da Secretaria da Cultura.