Prefeitura reuniu lideranças para pedir que sociedade organizada contribua na conscientização da população e no enfrentamento à epidemia na cidade
Claudiney Ferreira de Almeida, pároco da Paróquia Santa Mônica e assessor de comunicação da Arquidiocese, orientou os padres da cidade a repassarem a mensagem durante as missas: ‘podemos ajudar falando com as famílias diretamente e também durante as celebrações, fazendo uma conscientização contra a proliferação do mosquito’ (Rodrigo Zanotto)
Em um encontro com centenas de lideranças de diversos setores de Campinas, entre eles as igrejas, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) evidenciou na quinta-feira (8) o “cenário de guerra” vivido pela cidade e convocou a sociedade para uma missão: eliminar os focos de dengue nas residências, responsáveis pela concentração de 75% dos criadouros do Aedes aegypti. O apelo ocorreu em meio a um novo aumento dos casos de dengue em Campinas. Em 48 horas, as infecções saltaram de 1.949 para 2.124 em 2024, um aumento de 8,9% constatado na quinta-feira (8). Ainda não há óbitos confirmados pela doença neste ano.
Líderes religiosos vão se engajar no enfrentamento da doença e falam em “compromisso” com a saúde pública.
O chefe do Executivo demonstrou preocupação com o fato de que 50% dos imóveis estão inacessíveis para a entrada dos agentes de saúde. “Hoje, 50% dos moradores não estão em casa ou não abrem as casas (para os agentes de saúde). É uma questão de saúde pública. Uma casa com criadouros traz sérios problemas. Pedimos que uma vez por semana a população veja se não tem água parada em casa. Dados epidemiológicos mostram uma explosão de casos nas últimas duas, três, quatro semanas. Se as famílias não permitirem a entrada dos agentes e não observarem se há água parada, será uma batalha inglória (…). É um apelo que estamos fazendo”, declarou o prefeito.
Dário pediu ajuda das lideranças no “convencimento” e na “conscientização” para impedir um impacto negativo na rede pública de saúde. “Nós tivemos aqui aproximadamente 150 líderes religiosos, de presença importantíssima. A importância é fazer com que esses líderes religiosos, pastores, padres, líderes de religiões de matriz africana possam falar sobre dengue nos seus cultos, suas missas, nas suas sessões. É importante o líder religioso falar: 'gente, uma vez por semana olhe sua casa'. É fundamental também representantes de empresas, de sindicatos, de associações, lideranças de bairros. A fala dos líderes religiosos vai tocar no coração das pessoas. Se a gente não fizer a nossa parte há risco de explosão de casos e risco de impactar a rede de saúde de Campinas. É isso que a gente quer evitar.”
Outro ponto de alerta é uma esperada explosão de casos duas ou três semanas após o carnaval. Dário disse uma possível ampliação no sistema de saúde, caso a situação se agrave ainda mais em Campinas, está em discussão há cerca de 20 dias. “Há condições de reduzir (os casos de dengue) com as ações da Prefeitura e (com) a sociedade entrando nessa luta também”, avaliou.
Dário Saadi também disse desconhecer qualquer investigação sobre um óbito suspeito de dengue na cidade de Campinas, ao contrário do que constava no Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde até quarta-feira. Na quinta-feira (8) já não havia mais a informação sobre uma morte suspeita em investigação.
“Que eu saiba não, mas a dengue é uma doença grave. Nós não podemos achar que a dengue dá sintomas simples. Quem já teve dengue sabe que é uma doença que deixa a pessoa debilitada, incapacitada por alguns dias. É uma doença complicada.”
VACINA E CIRCULAÇÃO DO VÍRUS
A respeito da circulação dos sorotipos 2 e 3 de maneira simultânea na cidade e o pedido por vacina, uma vez que Campinas não foi contemplada na lista de cidades que receberão o imunizante neste ano, o prefeito disse que a questão ainda depende do Ministério da Saúde.
“Olha, nós já enviamos um ofício de início e essa existência do sorotipo 2 automaticamente já é comunicada dentro do sistema da Vigilância. Então, o Ministério da Saúde já tem nossa satisfação e automaticamente, dentro da notificação, já é imediatamente comunicada. Isso depende do Ministério. Nós temos essa vacina hoje, que é a Qdenga, e tem, no segundo semestre, a vacina do Butantã, que a gente acredita que terá mais disponibilidade.” A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Andrea von Zuben, considera a vacina como “mais uma estratégia para Campinas”, mas a cidade ainda segue fora dos critérios técnicos do governo federal. “Mesmo com a entrada (do sorotipo 2), ainda estamos com o 1 predominante”, revelou.
A diretora acredita que minimizar o volume de criadouros, utilizar repelentes a cada seis, oito ou dez horas, e a permissão da entrada das equipes de combate à dengue nos imóveis sejam saídas mais efetivas neste momento.
“Mesmo se recebêssemos agora, a vacina tem um tempo até a imunidade completa.”
Secretário do Conselho de Pastores de Campinas, Hildo Felix da Silva, da Igreja Caminho de Campinas, explicou que haverá uma conscientização para que os pastores orientem suas igrejas no enfrentamento da doença.
“Nós vamos conscientizar os pastores do conselho para cada um falar com a sua membresia. O nosso objetivo é que cada pastor, cada igreja, fale com o seu pessoal sobre como deve ser feita a prevenção, como devemos nos adequar a essa realidade. É uma responsabilidade da igreja com a cidade. É um princípio da igreja educar o seu povo a exercer a cidadania e proteger a cidade”, adiantou. O Conselho de Pastores de Campinas é formado por 274 pastores locais.
O padre Claudiney Ferreira de Almeida, pároco da Paróquia Santa Mônica e assessor de comunicação da Arquidiocese, orientou os padres da cidade a repassarem a mensagem do combate à dengue durante as missas. “Podemos ajudar falando com as famílias diretamente e também durante as celebrações, fazendo uma conscientização contra a proliferação do mosquito. O mais fácil e rápido para a igreja seria mesmo os padres falarem nas missas. Cada paróquia pode usar sua criatividade”, sugeriu.
Almeida classificou a situação como um “verdadeiro combate”. “É muito importante a convocação da Prefeitura unindo forças. Eu já encaminhei um pedido a todos os padres, com inventivo do Arcebispo, para se unirem neste momento conforme convocação do prefeito.”
ASSISTÊNCIA
Caso uma pessoa tenha febre e mais dois sintomas associados (dor de cabeça, dor no corpo, náusea, vômito, manchas no corpo, dor articular, dor atrás dos olhos), ela deve procurar um centro de saúde para receber atendimento e orientações. Por outro lado, se apresentar tontura, dor de abdominal forte, vômitos repetidos, suor frio e sangramentos, a busca por auxílio deve ser feita em Pronto-Socorro ou em Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
Além das lideranças religiosas, participaram do encontro empresários, representantes da CPFL Paulista, Sanasa, Emdec, Transurc, do transporte coletivo, da Recap, que representa postos de combustíveis da região, líderes de religiões de matriz africana, representantes de movimentos sociais, a Central Única das Favelas (Cufa) de Campinas, o deputado federal Paulo Freire (PL) e o vereador Carlinhos Camelô (PSB). A Cufa informou que fará um trabalho de conscientização nas redes sociais, por meio de postagens, e com as lideranças locais.
BAIRROS COM MAIS CASOS
Segundo o novo balanço, são 229 casos entre moradores da região do centro de saúde Jardim Eulina, seguido do CS Centro (88), CS 31 de Março (82), CS Taquaral (78) CS São Quirino (70) e CS Sousas (67). Já a incidência, ou seja, casos a cada 100 mil habitantes, está extremamente alta na região do CS Jd. Eulina e do CS 31 de Março, respectivamente 1.085,3 e 1.037,4.
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