30 ANOS DE TRADIÇÃO

Lavagem das escadarias Catedral marca Sábado de Aleluia

A frente da Catedral Metropolitana de Campinas, no Centro, foi tomada, na manhã deste sábado, por dezenas de pessoas que assistiram ao tradicional ritual de lavagens das escadarias da igreja

Luciana Félix
04/04/2015 às 15:22.
Atualizado em 23/04/2022 às 17:24
Dezenas de pessoas assistiram ao tradicional ritual de lavagens das escadarias da Catedral Metropolitana de Campinas ( Janaína Ribeiro/ ANN )

Dezenas de pessoas assistiram ao tradicional ritual de lavagens das escadarias da Catedral Metropolitana de Campinas ( Janaína Ribeiro/ ANN )

A frente da Catedral Metropolitana de Campinas, no Centro, foi tomada, na manhã deste sábado (4), por dezenas de pessoas que assistiram ao tradicional ritual de lavagens das escadarias da igreja.   O evento organizado por entidades ligadas às religiões de matrizes afro-brasileiras teve a participação de cerca de 300 integrantes de terreiros de umbanda e candomblé de toda a região. O ritual começou pouco depois das 10h quando os integrantes partiram da Estação Cultura e percorreram toda a Rua 13 de Maio, com vasos cheios de crisântemos brancos e água de cheiro de alfazema, dançando e cantando músicas afro-brasileiras. A lavagem foi iniciada por volta das 13h após uma celebração na frente do templo religioso.Mesmo com o sol forte, dezenas de pessoas disputavam espaço para ver de perto a cerimônia que este ano completou seu 30º aniversário. Muitos tiravam fotos com celulares e erguiam crianças para assistirem o ritual. Ao todo 200 jarros, chamados de quartilhão, foram derramados sobre os degraus da escadaria da igreja, que estava fechada, com a água de cheiro (cerca de cem litros) perfumando toda a área. Em seguida, cantando e dançando, os religiosos lavaram com vassouras a entrada da igreja. No fim da limpeza, as flores foram distribuídas para as pessoas que assistiam a cerimônia.A lavagem da escadaria é uma tradição das comunidades de candomblé em todo o País. O ritual é feito com essência de alfazema, flores e água. O objetivo é partilhar com o público a energia positiva dos elementos da natureza. Os seguidores acreditam na importância desses elementos no tratamento terapêutico e energético. “A lavagem é o símbolo de nossa resistência e ao mesmo tempo tem a simbologia da paz. É uma forma de agradecer a Nossa Senhora da Conceição por reconhecer nossa luta que permanece até os dias de hoje”, afirmou uma das organizadoras do evento, Edna Lourenço. "Ela é feita no Sábado de Aleluia para limpar a frente da igreja que irá receber amanhã (hoje) as grandes orações. Páscoa é tempo de renovação, de recomeço. A alfazema e as flores além de levar as energias ruins e a triteza embora, enche de energia positiva. Além de que é uma forma de mostrarmos a resistência, a liberdade religiosa, a fé e a comunhão entre as religiões" , afirmou Edna. A mãe de santo que foi uma das percurssoras do ato, Eunice de Souza, chamada de mãe Dango, afirmou que a lavagem representa um diálogo de fé entre as várias religiões e que a Catedral foi construída pelos escravos. "O objetivo é louvar a renovação. O Sábado de Aleluia significa renovar e purificar. Muitos escravos morreram quando construíam a igreja", afirmou. Pela importância sociocultural e religiosa, o evento foi incluído oficialmente no calendário de eventos da Secretaria de Cultura em 1997. “São 30 anos da Lavagem que expressa a liberdade e a tolerância religiosa”, afirmou o diretor de Cultura Gabriel Rapassi. Quem viu, gostou Muita gente que assistiu ao ritual ontem, estava no Centro para compras de Páscoa. “Não resisti a música e parei para ver. É uma manifestação religiosa bastante alegre e feliz”, afirmou a dona de casa Mirtes Mores, de 55 anos. O representante comercial Diogenes Nogueira, de 38 anos, levou o filho de 6 anos para escolher o ovo de Páscoa e também assistiu a manifestação. “Foi muito legal e alegre, chama a atenção de quem não conhece outras religiões”, disse. Mas teve também a presença de pessoas que anualmente comparecem a celebração. “Todo ano venho buscar uma flor pra deixar em casa. Me sinto renovada com essa energia positiva”, afirmou Olívia Costa, de 35 anos. Após o ritual grupos de cultura popular se apresentaram na praça. Além das apresentações o público pode comprar comidas típicas em barracas montadas no local. Também ontem a Estação Cultura exibiu um documentário sobre os 30 anos da lavagem das escadarias. O vídeo foi produzido pelo Museu da Imagem e do Som (MIS), com imagens das três décadas do evento e revela memórias das duas principais idealizadoras, a Mãe Dango e Mãe Corajacy. O documentário é uma comemoração aos 30 anos do ritual.

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