33ª edição

Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana

O tradicional ritual teve início na Estação Cultura, onde capoeiristas, adeptos do Candomblé, da Umbanda, entre outros, ficaram concentrados, antes de descer em comitiva pelas nove quadras da Rua 13 de Maio

Daniel de Camargo
31/03/2018 às 17:05.
Atualizado em 23/04/2022 às 09:11

A luta contra a intolerância e a exaltação da diversidade cultural brasileira pararam o coração do comércio de Campinas na manhã deste 'Sábado de Aleluia' (31), único dia em que a Igreja Católica se encontra fechada, quando foi realizada a 33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio. O tradicional ritual teve início na Estação Cultura, onde capoeiristas, adeptos do Candomblé, da Umbanda, entre outros, ficaram concentrados, antes de descer em comitiva pelas nove quadras da Rua 13 de Maio. Trajada com vestes brancas que remetem a paz e a pureza, a multidão deu início as manifestações culturais no começo do percurso, momento em que expressaram suas crenças, mas principalmente o amor e a aceitação ao próximo - foco primário do evento. O público era composto por diversas gerações, que se misturavam, desprezando convenções sociais como classe e outros critérios utilizados para diferenciar as pessoas. Co-idealizadora do ato, Mãe Dango alega que desde o princípio do mundo, "as coisas só se transformam quando alguém toma alguma atitude" e que esse feito "cultural, religioso e de relacionamento, foi uma maneira encontrada para combater o preconceito". "Há 33 anos atrás, nós pensamos em nos reunir para celebrar um dia juntos, independentemente da igreja que cada um seguia", completa, esclarecendo que este é um evento de relacionamento, que abomina o racismo e visa espalhar benevolência. Atitude deslumbrante Presente na cerimônia, Ney Carrasco, secretário de cultura de Campinas, esclarece que o rito nos permite voltar a nossas origens, pois o Brasil tem sua essência firmada na mistura de raças e, consequentemente, de doutrinas. Segundo ele, essa fusão é bela, além de ser rara, porque dificilmente se encontra uma nação com essa característica. "Simbolicamente é deslumbrante a atitude de se lavar as escadarias. Eu analiso como uma homenagem a Igreja Católica. Uma clara demonstração de tolerância", encerra. A frente da marcha com o grupo de capoeira do Instituto Brasileiro de Esportes Cultura e Arte (IBECA), Tiago de Camargo, popularmente conhecido como 'Mestre Formiga', diz que "a cada ano que passa a festividade fica melhor. Ela acontece desde 1985 para que a nossa sociedade entenda e se acostume a aceitar as diferenças". O professor elucida que a expressão cultural ensinada por ele surgiu da necessidade do escravo se defender. "A capoeira originou-se na ânsia da liberdade", completa. Atmosfera cativante Ao longo do trajeto, os participantes entoaram cânticos, além de carregar as flores e a água de cheiro que, no encerramento, servem para a lavagem, tanto quanto para bênção concedida aos presentes, que retornam perfumados para os seus lares. Ao perceberem a chegada do cortejo na praça, fato que ocorreu por volta das 11h, os populares presentes foram seduzidos e por cerca de 15 minutos entoaram uma cantiga que dizia: "Quando cheguei aqui nessa cidade eu avistei a torre da igreja, mais que beleza, cheguei agora, nossa senhora seja nossa guia". Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Foto por: Dominique Torquato Exibir legenda 1100

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio.

33ª edição da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana, situada na Praça José Bonifácio. Em frente a catedral, os trabalhos foram abertos por representações religiosas diversas, que incluiu, entre outros, o cantarolar do hino da Umbanda. Em seguida, efetuou-se a lavagem, realizada meticulosamente pelos participantes que, inclusive, utilizaram vassouras, transferindo a simbologia do discurso para a esfera prática. A purificação é feita com a essência da alfazema, flores, da energia da água e busca partilhar com o público presente a energia positiva das ervas e dos elementos da natureza, pois seus seguidores acreditam na importância desses elementos no tratamento terapêutico e energético. Essa substância está ligada às energias femininas Matamba (Iansã), Dandalunda (Oxum), Kisimbe (Oxum Apará), Kaitumba (Iemanjá), Zumbaranda (Nanã). A mensagem que fica... Ao final, Mãe Dango sintetizou que a reza do dia foi dedicada a " todos aqueles que morreram e estão morrendo. O momento que o País atravessa exige uma mudança por parte das pessoas. Nós somos o Brasil e está terra não é uma parede fechada. A missão de reduzir a violência contra o próximo é da população, pois nenhum político vai resolver isso". "Se nós pararmos de nos matar, ainda assim vamos precisar de polícia?", questiona. Desde de 1998, o ritual faz parte do Calendário Oficial de Campinas, pela Lei Municipal nº 9515/97 e a partir de 2005, consta no Calendário Turístico do Estado de São Paulo, pela Lei Estadual nº 12.097/05.

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