A 56ª fase da Lava Jato cumpriu, no começo da manhã de ontem, mandados de busca e apreensão nas cidades de Campinas e Indaiatuba
A 56ª fase da Lava Jato cumpriu, no começo da manhã de ontem, mandados de busca e apreensão nas cidades de Campinas e Indaiatuba. A nova operação apura um esquema de corrupção nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, relativos à construção da Torre Pituba, sede da Petrobras, em Salvador (BA). Ao todo, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MP) efetivaram 68 mandados, com 19 prisões temporárias e outras 14 preventivas, contra crimes de corrupção ativa e passiva, gestão fraudulenta de fundo de pensão, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo os procuradores da Lava Jato, as empreiteiras OAS e a Odebrecht distribuíram, pelo menos, R$ 68,2 milhões em propinas para o Partido dos Trabalhadores (PT), ex-dirigentes da Petrobras e da Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) no esquema. O Ministério Público Federal usou da quebra dos sigilos telefônicos, fiscais e telemáticos (IP de usuários) nas diligências, que apontam ainda que os “valores históricos” representam quase 10% do valor da obra. De acordo com os investigadores, o ex-presidente da Petros Wagner Pinheiro e empresas ligadas a ele foram alvo de buscas durante o dia de ontem. Além deles, Marice Correa, cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, e o marqueteiro ligado ao partido Valdemir Garreta receberam mandados de prisão temporária. Em São Paulo, as ordens judiciais também foram cumpridas nas cidades de Bragança Paulista, Guarulhos, Santo André e na própria Capital. Buscas na RMC A natureza e os números dos mandados realizados em Campinas e Indaiatuba não foram divulgados pelos órgãos ligados à força-tarefa criminal. Entretanto, a reportagem do Correio apurou e descobriu que uma das viaturas da Polícia Federal (PF) esteve no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, realizando buscas em um condomínio de alto padrão, por volta das 6h30. Superfaturamento Em nota, a PF relatou que a execução das obras da Torre Pituba, assim como os contratos de gerenciamento da construção, de elaboração de projetos de arquitetura e de engenharia, foram superfaturados e direcionados para viabilizar o pagamento de vantagens indevidas para agentes públicos da Petrobras e dirigentes da Petros, além de terceiros com eles mancomunados. “Tudo isso em prejuízo à estatal e ao fundo de pensão investidor, este mantido mediante patrocínio da própria Petrobras e das contribuições de seus empregados”, informou a PF. Segundo os investigadores, a Petros, mediante parceria com a Petrobras, investiu na execução da obra para alugar o prédio à empresa estatal por 30 (trinta) anos. “Ocorre que, com o direcionamento da execução das obras a uma empresa ligada a outras duas grandes empreiteiras já conhecidas da Lava Jato, o valor da execução ficou bem acima do que deveria, assim como o valor de aluguel a ser pago também”, afirmou a PF. “Assim, os investigados direcionavam parte dos recursos obtidos desses valores a maior para pagamento das propinas, utilizando de artifícios para ocultar e dissimular a origem e destino desses montantes", ressaltou. “Sem Fundos” A 56ª fase da Lava Jato recebeu o nome de “Operação Sem Fundos” — uma referência à perda do Fundo de Pensão da Petrobras, assim como ao fato de os crimes investigados parecerem revelar um ‘saco sem fundos’. Os presos já foram levados à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde ficarão à disposição da Justiça. Juntas, as penas somadas podem chegar a 50 anos de prisão e multa. Moro e Gabriela Todas as ações de busca e apreensão foram previamente autorizadas pelo então juiz Sérgio Moro e pela juíza substituta Gabriela Hardt, que assumiu no lugar do futuro ministro da Justiça e Segurança Pública. A autorização dado pelos magistrados para a força-tarefa ocorreu depois que o Ministério Público Federal (MPF) pediu à Justiça a permissão para que os mandados fossem executados. Com a ida de Moro para o Ministério da Justiça, Gabriela ficará à frente da Operação Lava Jato até o dia 30 de abril de 2019. (com informações do Estadão Conteúdo) O que dizem as defesas dos acusados O criminalista Aloísio Lacerda Medeiros, que defende César Mata Pires Filho, disse que o empresário está fora do País, mas que retornará imediatamente para acatar a decisão da juíza Gabriela Hardt. “Fomos surpreendidos com a decisão judicial que decretou a custódia provisória do nosso cliente. Estamos ainda nos inteirando dos acontecimentos. Nosso cliente está no Exterior e regressará imediatamente ao País para prestar esclarecimentos e acatar a decisão judicial”, declarou Medeiros. O criminalista Cláudio Pimentel, que defende a cunhada do ex-tesoureiro do PT, Marici Correa de Lima, informou que acompanhou o depoimento de sua cliente na tarde de ontem na Polícia Federal de São Paulo e que ela respondeu a todos os questionamentos, “negando qualquer envolvimento com os fatos apurados, que aliás são antigos e já foram objeto de acareação com o delator Youssef em 2015. Como já depôs e as medidas cautelares foram cumpridas, estou pedindo, ainda hoje (ontem), a revogação da custódia temporária dela”, disse. Já a direção do Partido dos Trabalhadores (PT) acusou a Lava Jato de fazer acusações sem provas ao partido e que a ação tenta criminalizar doações eleitorais feitas dentro da lei. “O combate à corrupção exige seriedade de investigadores e juízes. Não pode continuar funcionando como espetáculo de mídia e perseguição política”, informou o PT. Por fim, a assessoria de imprensa da Petros informou que a empresa vem colaborando de “forma irrestrita” com as autoridades e que já vinha acompanhando de perto as investigações envolvendo o investimento na Torre Pituba. A Fundação informa ainda que não vai se pronunciar sobre os investimentos em investigação.