VIOLÊNCIA

Latrocínios e estupros disparam em 2020

Em meio à pandemia, crimes registram aumentos de 136,5% e 48%;

Correio Popular
27/01/2021 às 12:07.
Atualizado em 22/03/2022 às 09:47
V?tima de viol?ncia dom?stica, mulher relata que se sentia como algu?m enjaulado durante o per?odo em que foi agredida fisicamente pelo companheiro (Importação)

V?tima de viol?ncia dom?stica, mulher relata que se sentia como algu?m enjaulado durante o per?odo em que foi agredida fisicamente pelo companheiro (Importação)

Além das consequências sanitárias e econômicas, a pandemia de Covid-19 contribuiu para ampliar os índices de violência em Campinas. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo indicam que dois tipos de crimes, o latrocínio e o estupro, aumentaram significativamente na cidade em 2020 em comparação com o ano anterior. Em relação aos roubos seguidos de morte, o número de casos subiu de 11 para 26 entre os períodos - avanço de 136,5%. Os episódios de violência sexual, por sua vez, cresceram 48%, passando de 50 casos em 2019 para 74 no ano passado.

O advogado e ex-delegado de Polícia Ruyrillo Pedro de Magalhães, 70, credita o aumento de registros de latrocínios à pandemia, em composição com problemas como a crise econômica e o desemprego. "Com as pessoas passando mais tempo em casa, infelizmente ocorre um aumento dos crimes domésticos", analisa. A precariedade da Polícia Civil no Estado de São Paulo, segundo ele, também é um fator de estímulo à explosão da violência, visto que os crimes não são devidamente investigados, o que faz com que seus autores não sejam punidos.

Ex-secretário de segurança de Campinas, Magalhães denuncia que a força policial que deveria ser responsável por apurar a autoria dos crimes está abandonada. "A Polícia Civil está totalmente desorganizada. O departamento de investigação tem que ser valorizado, ou seja, receber melhores salários. O governo não paga e finge que cobra a corporação. Quem sofre com essa situação é a população, pois se não houver inteligência não há resolução de crimes", pondera.

Para Magalhães, é fundamental que o sistema de segurança nacional trabalhe em conjunto para mudar essa situação. Ele defende que as ações sejam integradas em todas as esferas de segurança. "É preciso juntar o Ministério Público, as forças policiais municipais, estaduais e federais, além da magistratura e do sistema prisional", sugere.

Sobre o crescimento dos registros de estupros, Magalhães também os relaciona com as pessoas estarem passando mais tempo em casa, mas que a principal razão é o aumento das denúncias. As mulheres, afirma, estão tomando coragem para denunciar agressões graças principalmente ao trabalho de esclarecimento feito pela imprensa. "São as queixas que possibilitarão à Polícia Civil, quando organizada, prender os criminosos".

Coragem

A advogada Thaís Cremasco, 38, concorda que o número de estupros está aumentando, em parte, por causa do maior volume de denúncias. "É imprescindível que as vítimas de estupro denunciem seus agressores.

Essas denúncias não somente poderão resultar em prisão dos criminosos, mas também darão força para que outras mulheres vítimas desse mal façam o mesmo", entende.

Para a advogada, que faz parte de um grupo de mulheres que apoiam vítimas de violência doméstica, o estupro é um crime machista, através do qual o agressor quer demonstrar quem manda. "É uma violência que provoca muita vergonha e deixa a mulher massacrada". Thaís ressalta que para combater esse problema é fundamental que as mulheres não deixem seus agressores impunes. Ele lembra que esse tipo de denúncia pode ser feita de forma anônima através do telefone da Central de Atendimento à mulher no número 180.

Para o delegado do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior 2 (Deinter 2), José Henrique Ventura, os números dos estupros sobem conforme aumentam as denúncias. Já em relação aos latrocínios, ele concorda com a opinião do advogado Magalhães. Como as pessoas estão ficando mais em casa, afirma, os casos de violência doméstica crescem. "Qualquer reação da vítima durante o roubo pode resultar em latrocínio. Por isso, trabalhamos na conscientização das pessoas, orientando-as a não fugir ou tentar desarmar os bandidos".

Segundo o presidente da Coordenadoria Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança (Conseg), o psicólogo Vinícius D'Ottaviano, 53, são vários os motivos que geram o aumento dos crimes domésticos, mas o grande problema é a maior quantidade de tempo que as pessoas passam juntas. "Com a pandemia, os homens estão passando mais tempo em casa. Além disso, tem o problema do desemprego, o aumento do consumo de bebidas alcoólicas e até mesmo o fechamento de prostíbulos. São situações que concorrem para o surgimento de atos de violência", analisa.

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