A ação social começou há 26 anos, e nunca mais parou. As crianças ? hoje são mais de 60 ? chegam de fora com os acompanhantes
A ação social começou há 26 anos, e nunca mais parou. As crianças — hoje são mais de 60 — chegam de fora com os acompanhantes, geralmente os próprios pais. Pequenos pacientes que se tratam do câncer. E lá eles são acolhidos, ganham tratamento digno. Convivem em um espaço onde se compartilham alegrias e dores. Há dias em que se festejam curas. Em outros, se choram mortes. Histórias de vida são escritas por lá, todos os dias. Aquelas famílias invariavelmente têm vida humilde, não podem pagar hospedagem em hotéis. E a Associação de Pais e Amigos da Criança com Câncer (Apacc) foi criada exatamente para socorrê-las. A “Casa Ronald”, como é conhecida — referência ao personagem infantil da rede McDonald’s — funciona no Bosque das Palmeiras, em Campinas. São 1,8 mil metros de construção: 28 quartos, brinquedoteca, sala de TV, cinema, refeitório, lavandeira, sala de jogos... Há até salão de beleza. É um espaço que emprega 12 funcionários, e custa algo em torno de R$ 110 mil mensais. Além dos salários, o orçamento cobre as contas básicas (água, luz, transportes). Metade dos recursos chega de uma instituição que é o braço assistencial da rede de fast food. O resto vem de eventos, bazares, doações individuais, recursos fiscais. Chegam doações em dinheiro, produtos de limpeza, alimentos, brinquedos... E o mais interessante é que, neste tempo todo, o espaço se manteve e conseguiu contornar as crises financeiras. A direção incentiva e capta voluntários, em especial nos cargos de direção ou conselhos. “É possível, dentro dos mandatos, encontrar novos líderes que consigam dar continuidade ao trabalho”, afirma o presidente Fernando Figueiredo, advogado de 41 anos. “A sucessão acaba sendo parte integral da gestão”. “Lar longe do lar” A proposta principal na criação da Apacc foi a instituição de um “lar longe do lar”. Além da hospedagem, o espaço oferece cinco refeições diárias, transporte aos hospitais da cidade e atividades de lazer. Figueiredo, o atual presidente, exerce o cargo voluntariamente há quatro anos. Ele passará o “bastão” no próximo dia 16 ao empresário Carlos Gomes, que também é voluntário da instituição há muitos anos. “Há pessoas que colaboram porque enfrentaram o câncer dentro de casa. Outras o fazem por puro amor ao próximo”, afirma o presidente, às vésperas de deixar o cargo. “Quem chega, uma administração após a outra, segue comprometido com o causa”. Iniciativa ganhou corpo com o tempo A história da Apacc começou em 1992, quando um grupo de mães com casos de câncer na família decidiu fundar uma associação que oferecesse apoio a outras famílias em situação similar. A primeira presidente foi Rita Corazza. Em 2002, com concessão do terreno pela Prefeitura, a entidade iniciou a obra da nova sede, que acabou inaugurada em 2005. Com atendimento de excelência, veio a primeira expansão, em 2008. Já em 2010 foi firmada a parceria com a Ronald McDonald House Charities (RMHC), braço assistencial da rede de fast food, que já mantinha outras casas do gênero em 43 países. O acordo permitiu novas expansões. SAIBA MAIS A primeira unidade da Apacc em Campinas tinha apenas quatro quartos, e funcionava em um imóvel do Bairro Paineiras desde o ano de 2005. O serviço, famoso por atender crianças do Centro Infantil Boldrini, expandiu sua atuação para pacientes de outros hospitais públicos, encaminhados pelos serviços de assistência social.