Casa tomada pelo 'Maria Lucia Petit Vive' teve reintegração de posse concedida
Membros da ocupação 'Maria Lucia Petit Vive' realizaram uma assembleia no último domingo em frente ao imóvel alvo de reintegração de posse (Movimento de Mulhres/Olga Benario)
Cenário de acalorado embate político e ideológico entre militantes das correntes esquerda e direita, a casa ocupada pelo movimento ativista 'Maria Lucia Petit Vive', situada na Rua Delfino Cintra, no Centro de Campinas, teve a reintegração de posse concedida pela Justiça.
A decisão foi emitida pela juíza Euzy Lopes Feijó Liberatti, da 1ª Vara Cível da Comarca de Campinas, na última quarta-feira (16). A magistrada justificou seu veredicto com base na argumentação de que o movimento possui "objetivos de natureza política, em vez de objetivos relacionados à habitação individual ou coletiva". A ocupação foi considerada como um "ato destinado a chamar a atenção das autoridades executivas para a necessidade de criar mais espaços destinados ao atendimento de mulheres que são vítimas de violência doméstica".
O espaço foi tomado pelos ativistas no final de abril, atraindo a atenção tanto de políticos locais quanto de outras localidades. Um exemplo disso foi a visita do ex-deputado estadual Arthur do Val (União Brasil), que gerou tumulto ao visitar a ocupação no início de maio, culminando até mesmo em um incidente policial.
No início de junho, o viceprefeito Wanderley de Almeida (PSB) prometeu alocar um espaço para o movimento, estabelecendo um prazo de 30 dias para identificar um imóvel apropriado. O movimento divulgou em suas publicações oficiais que, após o término desse período, a Administração não havia mantido contato com as lideranças do 'Maria Lúcia Petit' nem fornecido qualquer indicação de propriedade. No entanto, ao final da semana passada, uma reunião ocorreu entre Wanderley e representantes do movimento, incluindo a vereadora Mariana Conti (PSOL).
Em um vídeo compartilhado nas plataformas de mídia social do movimento, Conti enfatizou que o vice-prefeito reafirmou o compromisso de ceder um imóvel, mas sem determinar um prazo exato para tal acontecimento.
No presente momento, apesar da decisão judicial favorável à reintegração, a equipe de reportagem do Correio Popular constatou que ainda permanecem membros do movimento no local. Esses indivíduos asseguram sua intenção de resistir até que um novo espaço seja providenciado para a continuidade de suas atividades.
Um líder que concedeu uma entrevista, preferiu não abordar diretamente a questão da reintegração, redirecionando a atenção para o perfil oficial do movimento no Instagram, onde é possível obter informações detalhadas sobre os eventos recentes.
Poucas horas após a decisão judicial, o movimento emitiu um comunicado que expressa críticas à interpretação da juíza. O texto destaca: "Em pleno mês de combate à violência, o 'Agosto Lilás', ano em que se comemora 17 anos da Lei Maria da Penha e, diante dos números elevadíssimos de casos de violência, a decisão da Justiça de Campinas é de optar pela defesa da propriedade privada que serve à especulação imobiliária, do que agir em defesa de uma rede complexa de enfrentamento à violência contra a vida das mulheres", diz o texto.
No relatório originado da audiência, a juíza reforça a hipótese de que o imóvel está sendo utilizado com fins políticos, apontando a presença de partidos políticos como PT, PSOL e UP dentro do movimento. Ela conclui, em sua interpretação, que o proprietário do imóvel, o empresário Álvaro César Iglesias, apresentou evidências de que o imóvel não estava em estado de abandono. "Com relação à liminar, foram ouvidas testemunhas do autor (proprietário, que disseram que o imóvel se encontra para locação, não tendo sido alugado até o momento, e que tem sido administrado pelo tempo em que o mesmo tem a propriedade, sendo que em 2020 houve solicitação à Sanasa para verificação de vazamento em calçada, informando número de protocolo", diz trecho do termo de audiência.
Em busca de informações sobre o andamento do processo de alocação do espaço prometido aos ativistas, a reportagem entrou em contato com a Prefeitura. Até a finalização desta edição, não houve resposta por parte da Administração em relação aos questionamentos.
No último domingo, uma assembleia foi convocada reunindo membros e simpatizantes da ocupação. Pouco depois do término do evento, um comunicado foi compartilhado. "Nossa equipe segue firme e em resistência com o apoio daquelas que acreditam na construção da nossa luta por uma sociedade onde nós mulheres possamos viver", diz um trecho. Nossa equipe de reportagem também estabeleceu contato com o filho do proprietário, que expressou, em nome da família, que não têm planos de comentar sobre a decisão judicial neste momento.