Milhares de estudantes aguardavam na fila, sob um forte calor, para conhecer as dependências de uma das universidades mais importantes do país: clima de animação e expectativa (Dominique Torquato)
Estudantes fizeram fila ontem para entrar em mais uma edição do programa Universidade Portas Abertas (UPA), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que foi realizado no sábado (27). Depois de uma pausa em 2020 e de uma edição virtual em 2021, o programa voltou ao seu formato presencial, com atividades no campus de Barão Geraldo.
Em sua 17ª edição, o evento, cujo objetivo é o de acolher no ambiente universitário os alunos do ensino médio e fundamental, recebeu um grande público logo pela manhã, formado por estudantes e jovens de escolas de Campinas e de várias cidades da região. A expectativa da organização do UPA era a de receber no evento cerca de 30 mil pessoas.
Uma iniciativa de discentes da universidade que integram o Comitê Estudantil de Solidariedade Popular da Unicamp também foi inovadora este ano. Eles organizaram uma caravana com um grupo de moradores do bairro São Marcos para que também participassem do programa.
A coordenadora-geral do UPA, a professora Maria Luiza Moretti, destacou que o tema do evento este ano foi “Ciência que Constrói”. Segundo ela, a ideia é ade mostrar a importância da pesquisa científica na elaboração de políticas públicas e na tomada de decisões para a comunidade. “O tema também reflete o papel da ciência como instrumento para viabilizar uma sociedade mais justa, democrática, diversa e inclusiva”, disse.
Para a docente, a construção de conhecimento nas universidades, por meio do ensino, pesquisa e extensão se tornou bastante evidente durante o enfrentamento à pandemia de covid-19 e a Unicamp considera que o fomento à educação em todos os níveis deve ser uma pauta permanente. “A partir da UPA, a universidade abre suas portas para os futuros produtores da ciência”, complementou.
A estudante do 2˚ ano do ensino média, Daniela Daniel, de 17 anos, foi uma entre os milhares de estudantes que enfrentaram o calor de 30º ontem para conhecer a universidade por dentro.
Na fila, à espera para entrar no Instituto de Medicina, a jovem de Limeira não escondia o entusiasmo. “É uma grande oportunidade para ter esse contato com um lugar onde se pretende viver daqui a alguns anos. Está sendo uma experiência incrível. Vale muito à pena.”
O estudante de química, Daniel Yuri Akiyama, de 22 anos, que integra o Comitê Estudantil de Solidariedade Popular da Unicamp, comentou que é muito gratificante poder contribuir para que outros estudantes e a população como um todo conheçam e tenham acesso à universidade.
Ele e outros alunos foram responsáveis por organizar a caravana que levou moradores da região do bairro São Marcos em Campinas para conhecer um pouco sobre a produção científica da universidade.
“A ideia é dar a oportunidade a pessoas, que têm pouco acesso à vida acadêmica, de conhecer a universidade por dentro, já que a Unicamp é também um patrimônio deles”, contou.
O montador de móveis Eduardo Ferreira, de 43 anos, foi um dos moradores do bairro da periferia que integrou a caravana organizada pelo Comitê Estudantil de Solidariedade Popular da Unicamp.
Ele conta que não imaginava que a universidade produzisse tanto conteúdo. Muito menos tão perto da sua casa de. “ Não tive a oportunidade de fazer uma faculdade e moro há 43 anos a 15 minutos daqui, da Unicamp, e nunca tinha entrado. Está sendo muito importante participar desse evento e conhecer as possibilidades oferecidas aqui pela universidade.”
O estudante de química, Thyerre Santana da Costa, explica que o comitê foi formado há dois anos, no início da pandemia, para atender as demandas da população mais vulnerável da região do bairro São Marcos, afetada pelos casos de covid-19.
Ele conta que, desde esse período, o comitê vem realizando ações semanais junto à comunidade local, levando alimentos, roupas, ciência e cidadania para o bairro. “É um bairro próximo à universidade, que vive uma realidade completamente diferente. E, hoje, eles podem conhecer um pouco mais sobre a ciência que é desenvolvida na Unicamp. Muitos, até então, entendiam a universidade apenas pelo Hospital das Clínicas.”, esclareceu Daniel.
De acordo com ele, a proposta foi a de aproveitar o evento da UPA para inserir os moradores assistidos pelo comitê no ambiente universitário. “Conseguimos um ônibus com o Instituto de Química para o transporte dos moradores. Nossa intenção é aproximá-los mais da universidade e democratizar o acesso à informação e educação, porque a Unicamp é também um patrimônio deles”, disse.
Escolas de toda a região realizaram inscrições e levaram também suas caravanas de alunos para o evento. Durante todo o dia diversas atividades foram organizadas pelo campus. Barracas de alimentação e banheiros foram instalados, oferecendo maior conforto aos milhares de visitantes. Linhas de ônibus internas também foram remanejadas para facilitar a circulação dos visitantes dentro do campus.
A coordenadora-geral da UPA informa que os visitantes, ao circularem pelos institutos e faculdades, laboratórios, bibliotecas, hospitais e pelas grandes praças, descobrem diferentes métodos de ensino e pesquisa desenvolvidos pelos cursos oferecidos pela universidade. “O retorno ao presencial possibilita maior interação com os professores, alunos e funcionários da Unicamp e, portanto, melhor esclarecimento de dúvidas e percepção mais clara do ambiente universitário”, defendeu.