CRIME

jovens atletas sul-coreanos serão repatriados após agressões

Ministério Público do Trabalho identificou indícios de aliciamento de mão de obra infantil dos meninos

Patrícia Azevedo
28/05/2013 às 22:42.
Atualizado em 25/04/2022 às 14:18
Sul-coreanos passaram pelo exame de corpo de delito no IML de Campinas  (Janaína Maciel/Especial para AAN)

Sul-coreanos passaram pelo exame de corpo de delito no IML de Campinas (Janaína Maciel/Especial para AAN)

O Consulado da Coréia vai repatriar os 20 jovens daquele país trazidos para o Brasil com a promessa de se tornarem jogadores de futebol e que acabaram sofrendo agressões físicas do próprio agenciador, o sul-coreano Dong Hyun Kim, de 36 anos, conhecido como Ricardo.

Em reunião com o Consulado da Coréia, Conselho Tutelar, Promotoria e Vara da Infância e da Juventude, realizada na sede do Ministério Público do Trabalho (MPT), em Campinas, ficou acordado que a tutela dos menores ficará sob a responsabilidade do próprio Consulado.

Os jovens serão repatriados à custa do Consulado, em data ainda a ser definida.

O MPT identificou indícios de aliciamento de mão de obra infantil, já que, segundo relatos dos próprios sul-coreanos, que têm entre 13 e 19 anos, seus pais pagavam o equivalente a US$ 2 mil mensais para mantê-los no programa de formação de atletas. Houve, ainda, evidências de maus-tratos e castigos físicos.

O caseiro Donizette Jesus Barbosa confirmou as agressões relatadas pelos jovens. Barbosa cuidava da chácara onde os rapazes estavam hospedados, na Estrada do Fogueteiro, que liga Campinas a Indaiatuba.

Ele contou que Dong Hyun Kim agredia os rapazes com um taco de sinuca durante a madrugada para evitar que os moradores da chácara presenciassem. “Há mais ou menos dois meses os meninos me procuraram para contar o que acontecia. Diziam que o Ricardo sempre batia se não fossem bem nos treinos e amistosos. Vi as marcas em fotos no celular. Havia hematomas em vários meninos. É uma tortura, ele pegava os meninos, deitava no chão e espancava”, contou.

Essa não é a primeira vez que o grupo sofre agressões e castigos físicos. Antes de virem para Campinas, em fevereiro, os jovens moravam em uma chácara em Santa Isabel, na região de São José dos Campos. Segundo os adolescentes, as agressões começaram lá.

“O treinador pedia que deitassem na posição de flexão e batia com taco de sinuca nas pernas, costas e na poupança. As fotos das agressões são muito fortes. Não é agressão, é espancamento”, afirmou Lindomar Dionisio da Silva, conselheiro tutelar da região Sudoeste de Campinas.

Em Santa Isabel os garotos ficavam aos cuidados de Ricardo e de uma mulher chamada Paola. Sem pagar aluguel, o grupo foi despejado e veio a Campinas. Eles ficavam em uma chácara alugada pelo ex-jogador de futebol José Sérgio Presti, atual técnico das categorias de base da Ponte Preta.

De acordo com a Polícia Federal (PF) Ricardo e os adolescentes estão no Brasil de forma legalizada. A PF irá acompanhar as investigações, que ficam a cargo da Polícia Civil.

A Polícia Militar (PM) descobriu o caso porque um dos adolescentes adoeceu e Dong Kim impediu o treinador de levá-lo ao médico.

O treinador, que não se identificou, acionou a PM para socorrer o jovem. Os maus-tratos foram descobertos no hospital, que acionou o Conselho Tutelar.

Ricardo foi detido e depois liberado e Presti assinou um termo de tutela e responsabilidade, se comprometendo a cuidar dos rapazes. Os adolescentes passaram por exame de corpo de delito e foram ouvidos em depoimentos no MPT.

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