LIÇÃO

Jovem tem violão adaptado à sua limitação

Igor Matheus Iwanowski retirou um tumor da nunca quando ainda era criança e ficou com sequelas graves

Daniel de Camargo
17/02/2019 às 12:41.
Atualizado em 05/04/2022 às 00:07

Especialistas concordam que a infância é um período fundamental na vida das pessoas. Para Igor Matheus Iwanowski, essa fase foi ainda mais relevante. Nela, o estudante de psicologia de 23 anos enfrentou um grave câncer, ao mesmo tempo em que se apaixonou pela música. O tumor retirado da região da nuca, especificamente do tálamo, estrutura localizada na parte inferior do cérebro, que tem entre suas funções a transmissão de sinais motores e sensitivos para o córtex, além da regulação da consciência, sono e estado de alerta, deixou sequelas. Com o passar dos anos e cinco cirurgias, as limitações foram minimizadas. Contudo, Iwanowski não utiliza plenamente o braço esquerdo desde os sete anos. Entre os problemas no membro, a mão permaneceu atrofiada. A deficiência, porém, não o impediu de se expressar por meio de sons e ritmos. Há seis anos, o jovem alegra reuniões familiares ou com amigos dedilhando canções em um violão adaptado a sua condição.  “Deus não permitiu que eu me abalasse com os preconceitos. Se uma porta se fecha, outra se abre”, afirmou, recordando que não foi capaz, por exemplo, de praticar alguns esportes. Contudo, progrediu na questão musical. “Minha mãe diz que, quando eu era criança, estava sempre 'tirando som' de caixa de fósforo”, comenta. Atualmente, ele dedica um período diário a aprender novas músicas e até se arrisca compondo algumas canções. Iwanowski também toca gaita, segundo ele, o primeiro instrumento com que foi presenteado — na ocasião, por uma de suas avós — e bateria. Entre outros, chegou a possuir ainda uma sanfona e um cavaquinho. Comunicativo, alegre e espontâneo, o rapaz não transparece já ter enfrentado duros percalços. A luta para conquistar a condição de levar uma vida normal, contudo, não foi fácil. “Durante o período em que estive doente (cirurgias, fisioterapia, entre outros), eu nunca abandonei a música”, afirmou. Na adolescência, tentou aprender guitarra. Abandonou a ideia porque o instrumento não comporta adaptações e requer o uso de ambas as mãos. Iwanowski não se abateu e começou a pesquisar sobre o tema na internet, em busca de outras alternativas. Sem desistir O rapaz relatou que sempre foi um apreciador de Blues — gênero musical originado por afro-americanos no extremo sul dos Estados Unidos no fim do século 19. Em especial, Riley Ben King, popularmente chamado de B.B. King, um famoso guitarrista e compositor. Por isso, tinha o desejo de tocar violão. O sonho ficou mais próximo de se concretizar depois de conhecer o trabalho de Reinaldo Amorim pela internet. “Vi um vídeo dele e fiquei feliz depois que notei que seu telefone era da região de Campinas”, recorda. E assim se deu o primeiro contato com Amorim, que desenvolveu e patenteou um violão que pode ser tocado somente com uma das mãos. O instrumento foi criado por Amorim com finalidades terapêuticas e também de inclusão. Diferentemente de outros violões, o modelo tem 12 cordas, o dobro do padrão. A invenção tem afinação especifica em grupos de quatro cordas, onde cada grupo forma uma tonalidade. Nesse violão, as tradicionais cifras, que indicam onde os dedos devem pressionar as cordas para a formação do acorde, perdem consideravelmente o espaço. Dessa forma, o músico precisa saber a posição onde as cordas devem vibrar, extraindo corretamente o som desejado. “O Amorim é um gênio”, brinca, sobre o inventor com quem desenvolveu uma bela amizade. Iwanowski afirma que toca inúmeras músicas e assegura, inclusive, estar apto a seguir carreira profissional. O estudante, entretanto, pretende ajudar as pessoas por meio de musicoterapia, quando terminar a graduação em psicologia, unindo assim duas paixões. O jovem revela que teve uma banda no passado, mas abandonou para se dedicar aos estudos. A ambição de tornar público seu talento pode ocorrer em breve. Conjuntamente com a mãe, Iwanowski planeja abrir um estabelecimento comercial na Rua Fávero de Fávero, na Vila Yolanda, em Sumaré. O prédio de dois andares, que conta ainda com um terraço, já foi reformado. A principal ideia da dupla é inaugurar um pub para agitar a vida noturna da cidade.

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