Deputado federal entende que o aeroporto será o grande ponto de entrada no país no futuro e disse que há injustiça com Campinas e a Unicamp no que se refere à área da saúde
Ex-prefeito de Campinas virou referência no Legislativo ao ser o parlamentar com mais projetos apresentados por dois anos seguidos, 2023 e 2024 (Divulgação)
A defesa da criação de um hospital que atenda pacientes das cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC), da manutenção da integridade da Fazenda Santa Elisa e a transformação do Aeroporto Internacional de Viracopos como o principal do país são posições adotadas pelo deputado federal e ex-prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), compartilhadas em entrevista exclusiva ao Correio Popular.
Um dos vice-líderes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional, ele nasceu em Monte Belo (MG) em 1965 e começou profissionalmente atuando em rádio, como locutor, em Limeira (SP). Donizette passou por outras emissoras, inclusive em Campinas (para onde se mudou com a família no final da década de 1960), antes de ser alçado ao mundo político em 1992 pelo então deputado federal e candidato à Prefeitura de Campinas, José Roberto Magalhães Teixeira. Eleito vereador na ocasião, o mineiro foi reeleito para o cargo outras vezes. Depois, foi eleito deputado estadual e federal. Em 2012, Donizette se tornou prefeito. Quatro anos depois, conseguiu se reeleger. Em 2020, conseguiu um feito raro: eleger um aliado, o atual prefeito Dário Saadi (Republicanos), um fenômeno no mínimo incomum na política local.
Depois de voltar para a Câmara dos Deputados em 2022, o ex-prefeito de Campinas virou referência no Legislativo ao ser o parlamentar com mais projetos apresentados por dois anos seguidos, em 2023 e 2024. Ele elogiou a equipe que atua com ele no Congresso Nacional, que justifica o rendimento tão positivo em relação a outros deputados federais. “É o mérito de saber compor uma boa equipe. E isso eu também fiz em Campinas, na Prefeitura. Eu falo que o meu secretariado foi um secretariado de pessoas ministeriáveis. Eram profissionais muito bons, tanto que a maioria ficou oito anos comigo. Alguns estão há doze, acompanhando o Dário desde o início do primeiro mandato dele. Nesse tempo como prefeito, aprendi que preciso ter estofo político para segurar a onda nos momentos de crises que possam atrapalhar o trabalho de homens e mulheres competentes”, disse.
Donizette afirmou também ser candidato à reeleição para a Câmara dos Deputados no ano que vem, mas não abandonou o projeto de disputar o Governo de São Paulo futuramente. Ele comentou que é um interlocutor, um elo, entre a Prefeitura de Campinas e o Governo Federal, administrados por partidos antagônicos: o PT e o Republicanos.
Durante a entrevista o político dissertou sobre outros assuntos, como a cidade de Campinas ser uma referência tecnológica e científica, dos desafios atuais dos prefeitos atualmente nas áreas de segurança pública, transportes e saúde, além da polêmica do debate em nível nacional sobre uma possível anistia dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado realizada em 8 de janeiro de 2023. “Se você me perguntar se sou a favor da anistia para essas pessoas que foram usadas no que aconteceu em Brasília, eu sou. Mas isso tem de ser acompanhado de uma maneira de separar o joio do trigo. Ou seja, de responsabilizar os líderes desse movimento”, argumentou.
Deputado, conte-nos sobre a sua origem. Como chegou a Campinas?
Bom, minha família chegou a Campinas em 1969. Eu sempre gostei de estudar muito a formação da população da cidade, até para entender. E Campinas teve três grandes ciclos migratórios nas últimas décadas. Um deles foi no fim dos anos 60 e no começo dos anos 70, de pessoas vindas do sul de Minas Gerais, como a minha família. Essa migração aconteceu motivada por uma quebra da safra de café, pois na época ocorreu uma geada muito forte que afetou a produção local. Naquele momento não havia um seguro agrícola, como existe hoje. O meu pai tinha plantio de café e foi afetado por essa situação, então viemos para Campinas, para o Jardim Aurélia, onde ficamos até ele construir uma casa. Ele queria fazer perto de uma escola, e foi o que ele fez. Moramos em frente a uma escola, no Jardim Leonor, onde estudei do pré-primário até a oitava série. Saí desse bairro somente após me casar. Meu pai morreu pouco antes do meu aniversário de seis anos de idade, então meus irmãos mais velhos e a minha mãe foram as figuras de referência para mim desde então. Dos 60 anos de vida que completarei neste ano, 56 anos foram envolvidos com a cidade de Campinas.
Como foi a descoberta da vocação para o rádio?
Comecei ajudando dois irmãos meus que já trabalhavam com rádio nos anos 80, o Luiz Lauro e o Caíto. Eles não tinham programas próprios, mas eu os ajudava como podia, principalmente nas edições que tinham auditório. Eu tinha 15 anos na ocasião e vontade de trabalhar diretamente em rádio, como meus irmãos já faziam. Antes disso eu trabalhei em uma fábrica de camisas, em uma confecção, mas a paixão pelo rádio veio forte e não me largou mais. Só que não consegui começar em Campinas, então fui para Limeira, na Rádio Jornal, do Orlando Zovico, como locutor. Isso aos 18 anos. Limeira era uma escola muito forte de rádio, mas cheguei lá com um novo estilo de comunicação, com uma apresentação mais à vontade, sem impostação de voz, conversando com as pessoas. Aquilo fez um grande sucesso, e em uma época antes da internet, quando o rádio era mais forte, acompanhando quem ficava em casa, quem ficava trabalhando. Em 1988 tive a primeira oportunidade de trabalhar em Campinas. O Antonio Carlos Tedeschi precisou se afastar de uma rádio em Campinas para ser candidato a vereador. Um dos meus irmãos me indicou para o diretor da emissora. Era uma concorrente da Rádio Educadora, do Grupo Bandeirantes. Fiz sucesso e me contrataram, mesmo com a volta do Tedeschi, que não foi eleito naquele ano. Consegui o horário da manhã e batemos a Educadora. Na sequência me levaram para lá, isso já nos anos 1990. Alguns anos depois, comecei na política...
E como foi esse início?
O Magalhães Teixeira, que era deputado e já tinha sido prefeito nos anos 1980, queria voltar para a Prefeitura de Campinas. Um dia ele foi à rádio e disse que queria falar comigo. Nós já nos conhecíamos, mas não éramos próximos. Ele me convidou para ser candidato a vereador em 1992, para integrar uma futura base dele na Câmara. Pedi um tempo para pensar, mas aceitei o convite e fui eleito pelo PSDB. Na época o Tadeu, um dos meus irmãos, já era vereador. O Magalhães combinou conosco que nos aproveitaria no governo dele de alguma maneira se um de nós perdesse a eleição, mas ambos fomos eleitos, assim como o Magalhães, que virou prefeito. Eu gostava muito dele e ele de mim. Por fidelidade, me tornei líder do governo dele na Câmara.
O Magalhães é uma das suas referências, então?
Sim, claro. Não só no meu caso, mas ele deu oportunidades para outras pessoas que estão até agora na política, como o Dário, que foi presidente do Hospital Mário Gatti na época. O Magalhães dialogava muito com as pessoas e por pouco não alçou voos maiores. Surgiu uma possibilidade de ele ser vice do Mário Covas (PSDB), em 1994, na disputa para o governo estadual. Eu apoiava essa ideia, mas ele foi aos Estados Unidos e voltou com o diagnóstico de um câncer muito agressivo. Na época ele só comunicou isso para um grupo seleto de pessoas, tornando público um tempo depois. Mesmo com a morte dele, fui reeleito. E com uma votação enorme, quase 20 mil votos, destoando, inclusive, de outros candidatos do PSDB, alcançando outros públicos, como as pessoas da periferia. Depois virei deputado estadual e federal, até chegar à Prefeitura, já pelo PSB. E ser prefeito me fez bem.
De que maneira?
O mundo político não acreditava que eu poderia chegar à Prefeitura e não acreditava que eu poderia fazer uma boa gestão, caso fosse eleito. E eu falo que a melhor coisa é você ter um espírito de compreensão. Eu entendia essas pessoas que pensavam que eu não conseguiria, porque elas conviveram comigo. Então, na cabeça delas eu era uma figura muito frágil para ser prefeito, vamos dizer assim. O Executivo me fez muito bem. Eu pude mostrar outro lado meu, um lado gerencial, e em momentos de muita dificuldade, ao assumir a Prefeitura depois dos escândalos que aconteceram na gestão do ex-prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT).
O senhor comentou sobre o Magalhães Teixeira quase ter sido companheiro de chapa do Mário Covas nas eleições de 1994 para o governo estadual. Isso também quase aconteceu com o senhor em 2022, na chapa de Fernando Haddad (PT). Mas não deu certo. Chegar ao Governo do Estado é um sonho que pode se tornar realidade?
Eu me sinto preparado para esse desafio. Tenho sim esse sonho, mas casado com a realidade. Vejo o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como uma figura muito forte para as próximas eleições. Não vejo um quadro de disputa contra ele com chances de vitória. Claro que na política tudo é válido quando você está com consciência e esclarecimento do que quer. Eu mesmo, em algumas eleições municipais, coloquei meu nome para a disputa sabendo que seria difícil ganhar, mas queria ser conhecido. Queria que a cidade olhasse para mim. Foi o que aconteceu. Em 2012, na crise do governo do Dr. Hélio, fui o nome mais lembrado pela população. E isso foi consolidado nas eleições. Hoje quero consolidar a minha posição como candidato à reeleição para deputado federal.
Falando agora da sua atuação recente como deputado, como chegou ao status de parlamentar com o maior número de projetos apresentados por dois anos seguintes?
É o mérito de saber compor uma boa equipe. E isso eu também fiz em Campinas, na Prefeitura. Eu falo que o meu secretariado foi um secretariado de pessoas ministeriáveis. Eram profissionais muito bons, tanto que a maioria ficou oito anos comigo. Alguns estão há doze, acompanhando o Dário desde o início do primeiro mandato dele. Nesse tempo como prefeito, aprendi que preciso ter estofo político para segurar a onda nos momentos de crises que possam atrapalhar o trabalho de homens e mulheres competentes. No caso da minha equipe da Câmara, reuni profissionais habilidosos que me auxiliam a propor projetos relevantes para a população.
Uma das suas propostas é a que reconhece a cidade de Campinas como “Capital da Ciência, Tecnologia e Inovação”. Em que pé ela está? Como isso poderá ajudar a impulsionar essa vocação da cidade?
Atualmente está tramitando no Senado, mas acredito que seja aprovada sem grandes problemas. Para mim, isso só vai reconhecer um mérito que a cidade já tem, de ser referência em ciência, tecnologia e inovação. Temos o CNPEM, por exemplo, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais. Temos o Sirius também. Fora outros marcos da pesquisa na cidade. São locais e estruturas fundamentais para o desenvolvimento científico e da inovação, não somente para o município, mas também em âmbito estadual e federal.
Assine o Correio Popular e confira a matéria na íntegra.