ELEIÇÕES

Jingle pode definir resultado nas urnas

Músicos que atuam na esfera política contam como alguns de seus trabalhos são lembrados até hoje

Renato Piovesan
renato.piovesan@rac.com.br
15/09/2018 às 21:43.
Atualizado em 22/04/2022 às 02:39

Sapo no estúdio: ao longo de quatro décadas, ele compôs músicas para ex-prefeitos eleitos como Chico Amaral (Campinas) e Edson Moura (Paulínia) (Leandro Torres/AAN)

“Jingle ganha eleição. Ganhou inúmeras. E já virou várias”. O autor desta frase é suspeito para falar do assunto. Mas nunca duvide de Angelino Mussello, conhecido como Sapo, uma autoridade quando se fala em jingles eleitorais na região de Campinas. Com 70 anos, o músico da antiga Banda do Brejo compõe canções para candidatos há 45 anos. Nem é preciso ter boa memória para ler cantando a mais famosa delas: “Chedid, Oba! É no Marquinho que eu vou votar!”. O jingle que emplacou as campanhas eleitorais de Marquinho Chedid em várias eleições para vereador de Campinas e deputado federal a partir da década de 90 é só um entre os mais de 2 mil hits que Sapo já gravou para candidatos. Ao longo de quatro décadas, ele compôs músicas para ex-prefeitos eleitos como Chico Amaral (Campinas), Barros Munhoz (Itapira), Edson Moura (Paulínia), Milton Serafim (Vinhedo) e Reinaldo Nogueira (Indaiatuba), e até hoje ouve a campainha de seu estúdio em Valinhos tocar sem parar quando se aproximam as eleições. “Em época de eleição isso aqui vira uma loucura. Nesta até que está mais devagar, fizemos uns 20 jingles. A crise deu uma diminuída geral. E é em eleição municipal que aparece mais candidato pedindo jingle também”, diz Sapo. No mercado dos jingles eleitorais, há preços para todos os bolsos. Tem até quem ofereça de graça, de olho em contratos futuros caso o candidato seja eleito. Porém, o mais comum é encontrar de estúdios menores, prometendo gravar um jingle por R$ 500 e mandar por e-mail ou WhatsApp, até grandes produtoras, que chegam a cobrar R$ 100 mil para campanhas presidenciais de grande porte. Palavras-chave Em Campinas, são quatro estúdios que oferecem este tipo de serviço há mais tempo. Num deles, no Taquaral, foi gravado inclusive um jingle que passa por análise pelos marqueteiros de Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à Presidência. Segundo o músico, produtor e compositor Paulo Evans, dono da Cristal Estúdios, um jingle gravado profissionalmente chega a envolver até 15 pessoas. “Você precisa de no mínimo seis músicas, quatro cantores, fora compositor, arranjador e produtor”, explica. O “jingleiro”, como gosta de se identificar, conta que há palavras e termos que não podem faltar num bom jingle eleitoral: “Este ano, o que está na moda é falar do combate à corrupção. Um jingle para virar ‘chiclete’ e grudar na orelha do eleitor precisa ter também palavras como povo, trabalho, mudança, renovação… Eu também gosto de fazer rima com o número ou slogan do candidato”, afirma. Embora muitos jingles pareçam óbvios, com letras e frases semelhantes, eleição após eleição, Evans lembra que sempre é necessário se debruçar na história, nas propostas do candidato e na ideologia de seu partido antes de compor um hit para campanha eleitoral. “Sempre tem que ter um briefing, uma conversa com a equipe do candidato, até para pegar os pontos mais fortes da campanha e criar frases de efeito. Eu acredito muito numa coisa chamada memória auditiva. Uma vez que o jingle é bom, você nunca mais esquece. Mas tem que ser bem feito, porque um jingle ruim ninguém esquece também”, explica. Voz emprestada A cantora Deeh Rodrigues trabalha no estúdio de Evans há 15 anos e já emprestou sua voz para dezenas de campanhas de candidatos. Sem perder seu lado crítico. “Eu reparo que canto letras parecidas com as que cantei há 10, 15 anos. Os problemas não mudam no Brasil. Chega a ser desconfortável”, opina a artista, que tem trabalhado 12 horas por dia nas últimas semanas. E assim será até 7 de outubro, data do 1º turno. “Já apareceu candidato pedindo jingle na véspera da eleição”, recorda. Neste ano, com cerca de 10 segundos para gravar uma mensagem nas propagandas eleitorais veiculadas na TV e nas rádios, poucos eleitores, segundo os especialistas, conseguem fixar o nome e o número para votar. A música neste aspecto é mais eficaz pois se destaca no meio do falatório. Com a explosão das redes sociais, os jingles também têm ganhado versões alternativas, mais extensas, sendo disparados em grupos de WhatsApp e dando som a vídeos publicados no Facebook, Instagram e Twitter. 

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