EM NOVA ODESSA

Jardim botânico valoriza flora e dá lições de sustentabilidade

Visitantes são orientados a recolher e levar consigo o próprio lixo produzido

Eliane Santos/ [email protected]
16/09/2023 às 17:47.
Atualizado em 16/09/2023 às 17:47
O Jardim Botânico Plantarum, localizado em Nova Odessa, possui mais de 500 espécies de palmeiras, entre elas uma de apenas 35 cm de altura, com folhas azuladas (Alessandro Torres)

O Jardim Botânico Plantarum, localizado em Nova Odessa, possui mais de 500 espécies de palmeiras, entre elas uma de apenas 35 cm de altura, com folhas azuladas (Alessandro Torres)

O Jardim Botânico Plantarum, localizado em Nova Odessa, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) sem fins lucrativos, vai muito além de um 'oásis' urbano, onde é possível desfrutar de algumas horas ao ar-livre longe das preocupações diárias. O local é um centro de pesquisa e conservação da flora brasileira e explora técnicas sustentáveis na manutenção de seus 80 mil m2. O espaço ainda trabalha com educação ambiental e 'convida' seus visitantes a refletir sobre a importância da preservação do meio ambiente. Aliás, logo na entrada está afixado um cartaz alertando as pessoas a levarem para casa seu próprio lixo.

Idealizado em 1990 pelo brasileiro Harri Lorenzi, engenheiro agrônomo, botânico brasileiro e autor de inúmeros livros, o Jardim Botânico foi aberto ao público há 12 anos. Inicialmente pensado para abrigar o acervo pessoal de Lorenzi, a escolha do local também priorizou a recuperação ambiental e deu um novo destino à área abandonada no Distrito Industrial do município, que abrigou uma antiga fábrica de lançadeiras - peças de madeira usadas pela indústria têxtil.

Após rígido tratamento ambiental e paisagístico, o antigo matagal e formigueiro deu espaço ao centro de preservação ambiental, com estrutura para desenvolvimento de pesquisas científicas e cultivo sistemático de coleções botânicas em formação. Hoje o Jardim Botânico Plantarum abriga mais de seis mil espécies, sendo centenas delas ameaçadas e 24 já extintas na natureza, segundo Vanessa Brochini, Relações Públicas do lugar.

Há mais de 500 espécies de palmeiras, entre elas uma de apenas 35 cm de altura, com folhas azuladas: a minúscula palmeira do gênero Acrocomia ou Acanthococo; a guapeba (Chrysophyllum imperiale), ameaçada de extinção; e a palmura (Butia leptospatha). Todas as plantas foram recebidas de colecionadores, resgatadas ou coletadas por Lorenzi em expedições pelo Brasil e em países vizinhos.

O espaço de visitação conta com jardins temáticos, lagos e bosques. As plantas têm placas de identificação contendo nome popular, científico e família botânica e estão distribuídas de acordo com suas características e necessidades. Também é possível observar aves, como beija-flores atraídos por acantáceas, pequenos lagartos, borboletas e abelhas.

Aliás, esta última tem destaque especial no Jardim Botânico com o Meliponário. Os visitantes recebem informações, através de placas informativas, sobre as abelhas, principalmente as nativas (espécies melíferas sem ferrão), que são essenciais para o equilíbrio da biodiversidade em um jardim e têm um papel importante na polinização. Elas não são as únicas polinizadoras, mas um forte indicador de salubridade do jardim, pois, onde existem abelhas nativas, existem outros insetos, aves e mamíferos polinizadores que contribuem para o ecossistema do entorno. "É importante que o visitante veja e compreenda que as abelhas nativas não fazem mal algum ao ser humano e que precisam ser respeitadas e proliferadas, para ajudar na preservação do próprio meio ambiente", diz Vanessa.

Para ela, todo o trabalho feito no Plantarum tem o objetivo de mostrar para as pessoas que podemos viver gerando o mínimo de resíduo maléfico para o planeta. "Somos um exemplo em sustentabilidade a ser seguido, quer seja em larga ou pequena escala, pois nossas ações podem ser reproduzidas tanto nas residências das pessoas como nas grandes cidades".

Duas hortas orgânicas alimentam os funcionários e clientes do restaurante localizado na sede construída em 2009, inspirada nos casarões coloniais paulistas. É possível conferir temperos e plantas não convencionais. Um dos jardins é voltado às pessoas com necessidades especiais, como cadeirantes e portadores de deficiências visuais: é o Jardim dos Sentidos, que reúne espécies que podem ser reconhecidas pelo tato, olfato e também pelo paladar.

SUSTENTABILIDADE

Entre as técnicas sustentáveis exploradas pelo Plantarum está a irrigação com água da chuva. Os tanques têm capacidade de armazenamento para 18 milhões de litros. De acordo com Vanessa, é possível usar a água dos reservatórios no sistema de irrigação durante todo o ano. O entulho gerado no local também é reaproveitado. "Muitas pessoas desconhecem, mas existem plantas, que não gostam de água. Então formamos montes de entulho, que não permitem o acumulo de líquido e usamos como base para esse tipo de planta", cita. Todo o dinheiro arrecadado com a bilheteria e espaços para eventos são revertidos para manutenção do Jardim Botânico, que conta com 13 funcionários, entre jardineiros e administração.

Também funcionam quatro estufas de conservação e uma de germinação de sementes. Outra forma de pesquisa e preservação ambiental são os intercâmbios com jardins botânicos, viveiristas e colecionadores de todo o mundo. Assim é constante a ampliação do número de espécies coletadas e reprodução de plantas cuja sobrevivência está comprometida pela destruição do hábitat.

Atualmente, de acordo com Vanessa, são desenvolvidas pesquisas relacionadas à botânica, seja taxonomia, conservação de espécies, etnobotânica, jardinagem e desenvolvimento de inteligência artificial para o reconhecimento de plantas e auxílio do público em geral para a prática da jardinagem e paisagismo. "Contribuímos com diversas instituições nacionais e também internacionais, quer sejam universidades ou Jardins Botânicos, do Brasil e do mundo", enfatiza a Relações Públicas citando exemplos de parcerias como a Universidade de São Paulo (USP); KEW Gardens e RHS - Royal Horticultural Society, ambos na Inglaterra; NY Botanical Garden, em Nova Iorque, Estados Unidos; Universidade de Aarhus (Dinamarca); Universidade de Gotemburgo (Suécia) e Gardens by the Bay (Singapura), entre outros.

Entre os projetos de sustentabilidade estão ainda o Programa Lixo Zero, onde até mesmo o visitante é convidado a levar seu lixo embora, pois não há lixeiras. Um cartaz no quiosque em frente da entrada já dá o recado: "Bem-vindo(a)! Não há lixeiras neste jardim. Você é responsável pelo seu lixo! O que produzir, leve-o consigo, por favor!".

"Esta é uma das lições de sustentabilidade que os visitantes experimentam aqui. Não tendo lixeira, eles são obrigados a ter responsabilidade para com os resíduos que produzem. Quando compramos uma garrafa de água não compramos só a água que está dentro, compramos a embalagem também. O que você vai fazer com esta garrafa depois é responsabilidade sua, que comprou a garrafa. É para incomodar mesmo a questão de ter que carregar o próprio lixo no passeio, ficando a reflexão: se te incomoda, imagina o quanto sofre um planeta que recebe o lixo de todo mundo?", enfatiza a Relações Públicas.

Neste caso, o objetivo também é reduzir ao máximo os resíduos não orgânicos e não recicláveis. "Com o programa conseguimos reduzir o lixo que vai para o aterro sanitário a somente 5 quilos semanais, no máximo. O restante ou vai para a compostagem ou para nosso armazenamento de resíduos sólidos, coletados por uma cooperativa de reciclagem", acrescenta.

Vanessa também cita que o Jardim é autossuficiente na produção de composto orgânico. "Nosso setor de compostagem recebe todos os restos vegetais do jardim, restos orgânicos do restaurante, papéis e resíduos orgânicos de duas empresas de Nova Odessa. Reaproveitamos restos de construção para a composição de canteiros de cultivo de plantas saxícolas (cactos e suculentas)".

Até o esgoto é aproveitado. O Jardim Biofiltrante recebe 80% de todo o esgoto gerado nas dependências do espaço. Neste lugar há plantas paludícolas e aquáticas, que filtram toda a água negra sem restar nenhum resíduo prejudicial à saúde humana. Este sistema gera um milhão de litros de água limpa por ano que é utilizada na irrigação.
"Tudo aqui é reaproveitado, desde as folhas e galhos que caem das árvores até os restos de comida e dejetos da fossa", diz Vanessa. Na questão da educação ambiental, ela faz questão de dizer que todas as atividades são dedicadas à educação, seja de maneira direta ou indireta. Há visitas guiadas com escolas e também oficinas. "Somos abertos à visitação de quarta-feira a domingo para visitas autônomas, temos visitas guiadas, todos os sábados temos roteiros temáticos guiados para os visitantes, temos uma editora própria de livros sobre Botânica, publicamos todos os dias conteúdo de qualidade gratuito em nossas redes sociais e temos um canal no Youtube com mais de 180 vídeos. Também promovemos eventos dentro da área da Botânica, Paisagismo e Jardinagem como palestras e cursos. Enfim, são atividades que buscam resgatar a importância da cultura brasileira assim como a preservação ambiental", finaliza.

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