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Janeiro mais chuvoso em seis anos gera ‘estado de emergência’ em Campinas

Medida foi adotada pelo prefeito Dário Saadi frente à necessidade de se remanejar recursos do orçamento para aplicar na reparação dos estragos deixados pelos temporais

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
21/01/2023 às 10:21.
Atualizado em 21/01/2023 às 10:57
As tempestades dos últimos dias provocaram queda de pontes e de árvores, alagamentos de ruas e residências e a interrupção do fornecimento de energia elétrica em diferentes pontos de Campinas (Rodrigo Zanotto)

As tempestades dos últimos dias provocaram queda de pontes e de árvores, alagamentos de ruas e residências e a interrupção do fornecimento de energia elétrica em diferentes pontos de Campinas (Rodrigo Zanotto)

O número de mortes na região por causa das fortes chuvas subiu para três em 23 dias, após a tempestade da noite de quinta-feira, que está entre as maiores da história em Campinas. O temporal levou a Prefeitura a decretar estado de emergência. As novas vítimas são um homem não identificado atingido por um raio em Indaiatuba e um idoso de 65 anos, morador no Jardim Santa Lúcia, em Campinas.

A primeira vítima fatal por causa das chuvas foi o técnico em eletrônica Guilherme da Silva de Oliveira Santos, de 36 anos, que estava em um carro atingido pela queda de uma árvore, na Rua General Marcondes Salgado, no Bosque, em Campinas, no dia 28 passado. O homem que faleceu em Indaiatuba foi encontrado caído em um terreno baldio, no Jardim Carlos Aldrovandi. A vítima, que aparenta ter 50 anos de idade, chegou a ser levada pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Augusto de Oliveira Camargo, mas não sobreviveu. Ele apresentava queimadura na região do peito e lesão em um dos pés, que podem ter sido provocadas por um raio.

De acordo com o Sistema Integrado de Defesa Civil, Indaiatuba está em estado de observação após registrar 54,2 milímetros de chuva em 72 horas (entre quarta-feira e sexta-feira). A terceira morte foi de um idoso, que tinha problemas cardíacos e residia no Jardim Santa Lúcia, em Campinas. Segundo o mecânico Roberto Santana, genro da vítima, o homem ficou muito nervoso por causa dos estragos causados pela inundação na sua casa. É provável que ele tenha sofrido um enfarte. 

Nova tempestade

Segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, o acumulado de chuva em tempo real em Campinas era de 153 mm às 5h35 de sexta-feira, o maior volume verificado em todo o país. O município estava em estado de atenção desta terça-feira, com o acumulado de 209,6 mm em 72 horas. Esse total é equivalente 77,29% da média histórica de 271,2 mm para o mês de janeiro no município, verificado entre 1990 e 2022, de acordo com o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade Estadual de Campinas (Cepagri/Unicamp).

Com o temporal de quinta-feira, o município chegou a 325 mm de acumulado de chuva em 19 dias, que é o maior volume de chuvas em seis anos. O total é inferior apenas aos 356 mm verificados em todo o mês de janeiro de 2017, de acordo com estudo do Cepagri. A tempestade de quinta-feira está entre as três maiores da história do município, segundo a Prefeitura, e deixou um rastro de destruição, ampliando os danos que se acumulam desde dezembro. Segundo balanço da Administração, ocorreram duas quedas de pontes na quinta-feira, 23 alagamentos em imóveis e 11 pontos de enchentes em vias públicas, o que transformou em caos o retorno para casa dos motoristas. A Prefeitura divulgou que foram registrados 147,3 mm de chuva na captação de água da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), em Sousas.

A chuva intensa provocou o alagamento de 20 moradias no Beco do Morkazel, no distrito. Outras dez casas foram inundadas no Jardim Ipaussurama e uma no bairro Satélite Íris. Segundo a secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos Vandecleya Elvira do Carmo Silva Moro, todas as famílias foram acolhidas em casas de parentes. Com isso, não há desabrigados no município.

Os maiores danos durante o temporal de na quinta-feira ocorreram nas regiões Sul e Sudoeste do município. No Jardim das Bandeiras, onde uma ponte caiu, um carro foi levado pela força da correnteza no córrego e casas foram alagadas. A chuva acumulada em 24 horas foi de 125,4 mm, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

A ponte, que fazia a ligação com o Jardim Icaraí, caiu na Rua Fernando Turquete, abrindo um vão de cerca de 20 metros. Vídeo feito por moradores mostram que um carro passava pelo local no momento da queda e foi levado pela força da força. O motorista conseguiu sair antes e não se feriu. O veículo, totalmente destruído, foi localizado na sexta-feira à tarde a cerca de 2 quilômetros de distância, no Jardim Santa Cruz. 

O motorista Antonio Brandão, que reside há 48 anos no Jardim das Bandeiras 2, disse que a ponte que caiu era uma importante ligação entre os bairros da região, o que obrigará a população a dar uma volta 8 km para acessar serviços como banco, comércio, Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e outros. "Agora, vamos ter dar uma volta imensa passando pela [RODOVIA]Santos Dumont, caótica do jeito que é", reclamou.

O sucateiro Luciano Ferreira acrescentou a queda da ponte fechou acesso que usava para ir ao ferro-velho onde vendia o material que recolhia. "Não sou apenas eu, mas muitas pessoas vendiam lá o que recolhiam", disse. O secretário municipal de Infraestrutura, Carlos José Barreiro, esteve na sexta-feira de manhã no local da queda para verificar os danos causados.

Outros casos

No Jardim São José, a força do córrego que corta o bairro danificou a ponte na Rua Herbert Viana e alagou casas que ficam nas margens. Na sexta-feira de manhã, equipes faziam limpeza no local e a segurança da ponte seria avaliada por técnico da Prefeitura. Os moradores faziam na sexta-feira o balanço dos prejuízos do alagamento, que não entrou no balanço oficial divulgado pela Administração.

A dona de casa Tamires Messias Leite conta que a força da enchente levou a máquina de lavar roupas, mesa e a churrasqueira que estava no quintal, além de uma grande árvore, que ficou presa no córrego a cerca de 50 metros de distância. Ela acabou por represar detritos de construção, criando o risco de reter a água em caso de uma nova chuva forte.

"A enchente que estava no quintal porque, quando a água começou a subir, eu o coloquei para dentro. Logo depois a água levou tudo", contou Tamires. O marido dela não foi trabalhar na sexta-feira para limpar a casa. Na Rua Joaquim de Faria, que cruza a Herbert Viana, os moradores amontoavam nas calçadas roupas, comida, colchões, sofás e outros móveis destruídos pela enchente.

A dona de casa Adelaide Rodrigues, que limpava a casa que ficou alagada, disse que o lixo jogado por moradores ficou preso na estrutura da ponte, o que agravou a enchente. "Eram sacos de lixo, sofás e outras coisas que as pessoas jogam no córrego. É difícil conviver com o ser humano", reclamou ela. Um trator da Prefeitura retirava o barro que se acumulou na rua, enquanto os vizinhos usavam enxada e mangueira para limpar as casas.

BALANÇO DAS CHUVAS NA QUINTA-FEIRA

✔ Todas as regiões da cidade foram afetadas, com exceção da Norte, com destaque para as regiões Sul e Sudoeste

✔ 23 alagamentos em imóveis (regiões Sul e Sudoeste)

✔ 20 moradias atingidas no Beco Mokarzel

✔ 03 moradias em Sousas

✔ 13 vistorias em moradias em risco

✔ 12 quedas de muros

✔ 10 quedas de árvores

✔ 10 erosões (via pública e córrego)

✔ 03 quedas de pontes (Jardim das Bandeiras, Jardim Boa Esperança e Jardim Santa Letícia)

✔ 01 ponte em risco interditada (Parque Brasília)

✔ 05 riscos de queda de árvore

✔ 04 riscos de queda de muro

✔ 01 deslizamento

Fonte: Prefeitura de Campinas

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