Pesquisa feita em Campinas revela que as frutas também ajuda a melhorar aprendizado e memória: resultados foram obtidos durante experimento com animais
Nutricionista Ângela Giovana Batista mostra jabuticabas e o jambo-vermelho que são objeto de seu estudor (Antonio Scarpinetti/SEC Unicamp/Divulgação)
Uma tese de doutorado feita pela nutricionista Ângela Giovana Batista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que a jabuticaba e o jambo-vermelho ajudam a prevenir doenças associadas à obesidade e fazem bem à memória. A informação, divulgada pelo Jornal da Unicamp (JU) no último dia 14, revela que as frutas beneficiaram o aprendizado e memória em modelos animais. Segundo entrevista da pesquisadora ao repórter Luiz Sugimoto, a ação de compostos antioxidantes bioativos e fibras dessas frutas vermelhas ajudam a prevenir doenças. “Nosso grupo trabalha com a jabuticaba desde 2008 e, como os estudos foram mostrando efeitos benéficos da fruta, resolvemos dar sequência à linha de pesquisa”, explicou Ângela Batista. “O jambo é uma fruta que não conhecíamos e que decidimos investigar por não haver nenhum relato na literatura sobre seus efeitos, sendo que a produção de um jambeiro-vermelho é muito alta no Brasil. Na época da safra, a árvore produz muito e, a não ser no Norte e Nordeste, as pessoas não consomem as frutas, talvez por desconhecimento”, disse ao Jornal da Unicamp. A pesquisa, que foi orientada pelo professor Mário Roberto Maróstica Júnior, foi desenvolvida no Laboratório de Nutrição e Metabolismo, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), revelou que o jambo tem, em sua composição, quantidades expressivas de fibras e polifenóis, com destaque para antocianinas, que são compostos associados a propriedades benéficas contra doenças metabólicas. Segundo a pesquisadora, a composição química da jabuticaba e do jambo se alteram a cada ano. “A planta produz esses compostos bioativos (antioxidantes) para se defender dos efeitos de um clima indesejado para ela e, conforme o clima muda, ela apresenta quantidades diferentes destes compostos”, disse. Com base nesses compostos, a pesquisadora formulou dietas ricas em lipídios para os animais que participaram da pesquisa. Os animais foram alimentados com banha de porco para simular o que é consumido em termos de gordura nos fast foods. Camundongos passaram dez semanas consumindo dietas com baixa e alta concentração de gordura, suplementadas com a casca de jabuticaba e a polpa de jambo-vermelho. “Após esse tratamento, os animais mostraram melhoras em marcadores de obesidade, como diminuição da massa corporal gorda, maior resistência à insulina periférica, redução de marcadores pró-inflamatórios e aumento da defesa antioxidante (que combate os radicais livres do organismo). Todos esses parâmetros estão associados com a prevenção de diabetes tipo 2 – um problema de saúde pública de grande escala no Brasil e no mundo”, explicou a nutricionista. Os pesquisadores investigaram, ainda, o papel da jabuticaba e do jambo na memória dos animais. “No início das pesquisas, observamos que o hipocampo, que comanda a memória e o aprendizado (e uma das primeiras regiões do cérebro a ser afetada quando a doença de Alzheimer se inicia), sofria dano oxidativo devido à alta produção de radicais livres após o consumo de dieta gordurosa, além de não responder de forma adequada à sinalização da insulina nas células, promovendo a fosforilação de uma proteína chamada Tau.” Quando isso acontece, os neurônios perdem suas conexões e sinapses, ficando impedidos de executar tarefas de acesso e aquisição da memória. “A suplementação da dieta gordurosa com ambas as frutas não só prevenia esse dano, como aumentava a sensibilidade à insulina, evitando a formação de marcadores do Alzheimer como a fosforilação da Tau”, explicou a pesquisadora. Os animais foram submetidos ao teste conhecido como “labirinto aquático de Morris”. Durante cinco dias, foram treinados a encontrar uma plataforma escondida numa piscina. “No último dia, a plataforma foi retirada. Ao procurá-la, os animais que não receberam o suplemento na dieta nadavam a esmo, enquanto os que consumiram jambo e casca de jabuticaba nadavam exatamente no local onde estava a plataforma”, completou Ângela. Novos estudos Pesquisadores da Unicamp estão trabalhando para incorporar essas frutas vermelhas em produtos que cheguem rapidamente ao consumidor. “Já investigamos, por exemplo, os efeitos do chá da casca de jabuticaba e também em barra de cereais. Começamos a divulgar os nossos estudos com essa fruta em 2012 e, não sei se por coincidência, chegam notícias da utilização de sua casca para a produção de farinhas, sucos, iogurtes e sorvetes. Mas é importante salientar que tais produtos, quando viabilizados, têm efeito preventivo e não curativo”, afirmou ao JU.