SEM FRONTEIRAS

Jaguatibaia promove valorização da mata nativa e dos recursos hídricos

Associação de Proteção Ambiental pretende multiplicar em 3,75 vezes a produção de mudas em projeto de expansão para o interior paulista

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
15/06/2024 às 09:53.
Atualizado em 15/06/2024 às 11:51
Meta da Jaguatibaia Associação de Proteção Ambiental é ampliar a capacidade de produção de mudas do viveiro localizado na cidade de Jaguariúna, passando das atuais 80 mil unidades por ano para 300 mil emapenas quatro meses; espaço fornece mudas de mais de 100 espécies para prefeituras, proprietários rurais e entidades (Rodrigo Zanotto)

Meta da Jaguatibaia Associação de Proteção Ambiental é ampliar a capacidade de produção de mudas do viveiro localizado na cidade de Jaguariúna, passando das atuais 80 mil unidades por ano para 300 mil emapenas quatro meses; espaço fornece mudas de mais de 100 espécies para prefeituras, proprietários rurais e entidades (Rodrigo Zanotto)

A Jaguatibaia Associação de Proteção Ambiental, que nasceu há 28 anos em Campinas, prepara-se para expandir sua atuação para praticamente metade do Estado de São Paulo. A entidade sem fins lucrativos, formada por 12 voluntários, levará o trabalho de valorização e promoção do potencial hídrico e de restauração da floresta nativa para o chamado Planalto Ocidental Paulista (POP), que ocupa quase 50% do território paulista, mas sem abandonar as raízes. “Nós vamos continuar tendo o foco, dando atenção para Sousas e Joaquim Egídio”, ressaltou o presidente da Jaguatibaia, o engenheiro agrônomo José Carlos Perdigão.

Para ampliar suas fronteiras, a entidade, cujo nome é o acrônimo dos rios Jaguari e Atibaia, os principais mananciais da Região Metropolitana de Campinas (RMC), está multiplicando em 3,75 vezes a capacidade de produção de mudas do viveiro localizado em Jaguariúna, passando das atuais 80 mil unidades por ano para 300 mil, marca a ser alcançada em quatro meses.

Para ter uma noção do que significa esse número, é a mesma quantidade de árvores plantadas pela associação desde 1996, quando começou.Oviveiro, além atender à demanda própria, fornece mudas de mais de 100 espécies para prefeituras, proprietários rurais e outras entidades. A busca por alargar as fronteiras começou a ser desenhada em meados de 2023, através da união da Jaguatibaia com dois parceiros, a organização internacional The Nature Conservancy (TNC) e uma multinacional brasileira de bebidas, com apoio técnico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuário (Embrapa) Meio Ambiente, que tem outros projetos com a associação e cede o espaço físico onde está localizado o viveiro.

A partir de outubro próximo, a atuação dessas partes se estenderá de Campinas até as regiões de Botucatu, Ribeirão Preto e Marília, cidade a 366 quilômetros de distância.OPlanalto Ocidental Paulista (POP) é caracterizado por ter altitudes de 300 a 1.000 metros e está dentro da grande Bacia do Rio Paraná, onde está o Aquífero Guarani – uma formação de água subterrânea que abrange principalmente o Brasil, mas estende- se também pelo Uruguai, Argentina e Paraguai, tendo 1,2 milhão de quilômetros quadrados (km²). Além disso, o POP possui enorme importância socioeconômica para o Estado de São Paulo, sendo a principal área de cultiva de citros do país, responsável por aproximadamente 80% da produção nacional, além de participar em grande parte da produção de etanol e açúcar.

ESTÁ NAS REDES

O objetivo é levar para essas áreas os conceitos de preservação ambiental da Jaguatibaia, que associa a importância da recuperação e preservação da mata nativa à manutenção dos recursos hídricos, essenciais para a vida e atividades econômicas. “O principal patrimônio do produtor rural é solo. Ele precisa preservar o solo para garantir o seu futuro”, afirmou o presidente da associação. A importância dessa conscientização ficou famosa na última semana por causa de um vídeo publicado pela entidade no TikTok. Até a última terça-feira (11), a publicação havia tido 8,6 milhões de visualizações e foi compartilhada por celebridades como a cantora Anitta, o apresentador Luciano Huck e o economista Ricardo Amorim.

Em uma maquete, Perdigão usa um regador para simular as consequências das chuvas em uma área de encosta devastada, que pode estar ocupada por pasto ou plantação, por exemplo, e a outra, preservada e também com uma propriedade rural. “O primeiro fator, na área degradada, é o arrasto do solo superficial, o que chamamos de erosão do solo”, explicou o engenheiro agrônomo. As consequências são o assoreamento dos rios e riscos de deslizamentos, colocando em perigo a vida das pessoas residentes na região. É o que deu origem a duas catástrofes seguidas no Brasil, em São Sebastião (SP), em 2023, e no Rio Grande do Sul neste ano, deixando mais de 200 mortos e milhares de pessoas sem as suas casas.

á a chuva no morro com mata não causa estragos. A água é absorvida pelo solo e ainda dá origem às nascentes, formando os córregos e rios, o que a Jaguatibaia chama de potencial hídrico. “Explicação impecável”, comentou Robert Pinheiro, após assistir ao vídeo. “O que o ser humano visualiza ele entende”, resumiu Perdigão. O sucesso dessa publicação o levou a começar a produzir outros exemplos da importância da preservação para serem divulgados.

TRABALHOS

A atuação nas redes sociais será mais uma extensão dos diversos projetos desenvolvidos pelo Jaguatibaia, com as ferramentas virtuais ajudando a levar a conscientização ambiental para novos públicos, que seriam inalcançáveis pelos meios tradicionais. Atualmente, a entidade atua na região compreendida pelas Bacias Hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jaguari (PCJ) e, principalmente, nos distritos de Sousas e Joaquim Egídio.

Entre suas ações, estão o monitoramento de indicadores ambientais (água, ar e solo) para programas de conscientização ambiental; pesquisa e elaboração de materiais didáticos para a divulgação de assuntos relacionados ao meio ambiente, educação ambiental e promoção de palestras em escolas, entidades privadas, associações comunitárias etc; realização de parcerias e pesquisas com organizações não governamentais (ONGs) e governamentais; produção e distribuição de mudas de espécies nativas e plantios para recuperação de áreas degradadas; e denúncia de danos ambientais. São trabalhos que estão dando frutos.

O grupo de voluntários multiprofissionais que mantém a associação conta com dois biólogos que se engajaram após participarem de visitas a associação quando ainda eram estudantes. A formação de pessoas para manter os trabalhos no futuro é uma das preocupações. No viveiro, a Jaguatibaia desenvolve desde o plantio das sementes até a formação das mudas das árvores, além de pesquisas científicas para aprimorar as técnicas utilizadas. “O que nasceu como intuição, conhecimento empírico, se transformou em conhecimento científico para dar mais qualidade aos trabalhos realizados”, explicou o presidente da associação.

Ela desenvolveu, por exemplo, umpote de papel biodegradável para substituir os tubos de plásticos usados na produção de mudas. “Eles reduzem em 25% o tempo necessário para fazer o plantio. Aumentam a produtividade e diminuem o número de pessoas envolvidas, reduzindo os custos da recuperação da mata natural, que é um serviço caro. Se conseguimos reduzir em 25% as despesas, é um estímulo para mais pessoas fazerem’, comparou Perdigão. Do viveiro, que ocupa uma área de 1,9 hectare da Embrapa Meio Ambiente, saem mudas de pau-ferro, canafístula, aroeira-vermelha, urucum, ipê, jequitibá rosa, árvore símbolo de Campinas, e muitas outras.

A Jaguatibaia surgiu da organização espontânea da população da região de Sousas e Joaquim Egídio contra a construção de uma rodovia com quatro pistas, prevista para ser construída na área de mata natural de Sousas e Joaquim Egídio. Além de conseguir impedir o projeto, a associação ambiental surgida dessa união conseguiu, em 2021, que a floresta preservada fosse declarada Área de Proteção Ambiental (APA), que tem aproximadamente 223 km², ocupando quase um terço do território de Campinas, indo das margens da Rodovia Dom Pedro I até o limite de Morungaba.

A entidade desenvolve um trabalho junto aos proprietários rurais de restauração florestal e uso de técnicas de produção agrícola para preservar os recursos hídricos através da formação do lençol freático. “É a caixa d'água natural da região que, nos períodos de estiagem, garante as nascentes que formam os rios. Se falar lençol freático, não vão entender”, ensinou o ambientalista. Ele ressaltou ainda que 40% dos ventos que cortam a região passam por essa APA. “Além do potencial hídrico, ela é importante para garantir a qualidade do ar de toda da Região Metropolitana de Campinas”, completou

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