tradição

Já são 70 anos da mais pura majestade

Nos últimos anos, dentro e fora do clube andaram falando sobre projetos ousados, como a construção de uma nova arena e demolição da velha casa

Rogério Verzignasse
rogerio.verzignasse@rac.com.br
01/10/2018 às 07:22.
Atualizado em 22/04/2022 às 00:40

Atualmente, arena é um dos mais importantes marcos arquitetônicos e turísticos de Campinas. palco de jogos emblemáticos do futebol brasileiro (Cedoc/RAC)

O Majestoso acaba de completar 70 anos. E o Moisés Lucarelli é muito mais que um estádio. É a consagração de uma história apaixonada, em que os próprios torcedores se desdobraram para arrumar dinheiro, comprar material, carregar pedra, amassar barro. No canteiro de obras, até tratores e caminhões eram emprestados.  Nos últimos anos, dentro e fora do clube andaram falando sobre projetos ousados, como a construção de uma nova arena e demolição da velha casa. Mas os projetos vão ficando no papel. O fato é que os apaixonados pela Ponte exigem a preservação do imóvel. Caso, por exemplo, do jornalista Stephan Campineiro, que hoje conclui seu terceiro livro que tem a Ponte Preta como tema. E a obra fala exatamente do Majestoso. Ele afirma que o estádio está localizado em uma área privilegiada, e existe sim um grupo interessado em erguer uma arena moderna em outro ponto, e aproveitar o terreno no Proença. No caso, bastaria a preservação da fachada, tombada como patrimônio cultural. Stephan, no entanto, confessa que torce contra o projeto. A seu ver, o torcedor tem uma relação afetiva com o estádio, e a diretoria poderia simplesmente investir na modernização do espaço, dotando o majestoso de equipamentos modernos, condizentes com as necessidades atuais. Outro caso é o do fisioterapeuta Carlos Burghi, tataraneto de Nicolau Burghi — um dos fundadores do clube. Historiador autodidata, como ele mesmo se apresenta, o cidadão tem um acervo imenso de documentos e fotos sobre a Ponte. E, apaixonado pelo Majestoso, mantém nas redes sociais uma página de torcedores que defendem a “preservação eterna” do estádio. “Há sim, dentro da diretoria, quem fale em demolir o estádio. Há quem diga que o negócio já tem até parceiro definido. O que eu sugiro é que a diretoria faça uma enquete entre os torcedores. Eu garanto que a massa rejeita qualquer demolição”, afirma. Concepção É que a paixão pelo estádio tem mesmo as razões históricas. O estádio ficou conhecido como Majestoso porque era, na inauguração, era um dos mais imponentes do Brasil. Só perdia em capacidade para o Pacaembu, em São Paulo, e São Januário, no Rio. Sua concepção arquitetônica era supermoderna. Lá em 1948, o estádio causou uma reviravolta na própria história do clube. Até então, a Ponte era um “time de onze camisas”, como alfinetavam os rivais. O número de sócios era irrisório, as dívidas se acumulavam e o clube até perdeu o direito de mandar seu jogos no antigo campo de futebol da Júlio de Mesquita. Com o Majestoso, tudo mudou. A Ponte ficou grande. E a torcida, maior ainda. O estádio foi palco de partidas emblemáticas, inesquecíveis, onde o público pagante superou até a casa dos 35 mil espectadores, capacidade autorizada antes das determinações legais vigentes, que agora limitam o público a 19 mil torcedores. Mas quem frequenta o Majestoso sabe que as projeções oficiais não condizem com os fatos. É possível, por exemplo, que o recorde de público tenha sido na partida da Ponte contra o Santos de Pelé, no dia 16 de agosto de 1970. Nada menos que 33,5 mil pessoas pagaram ingresso. Mas os historiadores garantem que pelo menos 40 mil se amontoavam lá dentro. E que outras 4 mil pessoas não conseguiram entrar. Ah, o Santos ganhou de 1 a 0. Oficialmente, o maior público foi o da derrota da Ponte para o São Paulo por 3 a 1, no dia 1º de fevereiro de 1978. Naquele dia, 37.724 pessoas viram a partida. Delas, 34.985 pagaram ingresso. O primeiro jogo A primeira partida oficial da Ponte Preta no Estádio Moisés Lucarelli aconteceu no 12 de setembro de 1948. O time de Campinas foi surpreendido pelo XV de Piracicaba e acabou goleado por 3 a 0 em partida válida pelo então Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Sato, do time piracicabano, marcou o primeiro gol do Majestoso. A primeira vitória da Macaca em casa aconteceu mais de um mês depois, no dia 24 de outubro, contra o Taubaté. A Ponte passeou em campo, e meteu um chocolate no Taubaté: 5 a 1. Gaspar (três vezes), Armandinho e Vicente marcaram os gols. História e vida do empresário se confundem A história da Ponte Preta se confunde com a do empresário Moisés Lucarelli, que acabou homenageado com o nome no estádio. O cidadão, limeirense de nascimento, construiu a vida em Campinas. Adolescente ainda, ele trabalhou como cobrador da Ponte, recebendo a mensalidade dos sócios. Ao mesmo tempo, era balconista de uma loja de materiais elétricos. Lá, o rapaz herdou o negócio e virou patrão. Mas ele ganhou dinheiro mesmo quando inaugurou uma fábrica de fogões. Já com a conta reforçada, ele se juntou a dois amigos - Olímpio Dias Porto e José Cantúsio - e arrecadou recursos para a compra de 34 mil metros quadrados de um terreno brejoso, na antiga Chácara Maranhão. Ali, na região do atual Jardim Proença, o grupo apaixonado arregaçou as mangas e começou a construir o estádio. E o próprio Moisés comandava as intervenções. O cidadão se foi deste mundo em 1978. Um ano depois da Ponte conquistar o vice-campeonato paulista, na memorável — e polêmica — final contra o Corinthians. SAIBA MAIS A história do Majestoso vai virar livro. A obra, do jornalista Stephan Campineiro, é uma produção independente, e deve ser lançada em novembro. A primeira edição sai com mil exemplares. Majestoso 70: O estádio construído pela torcida que tem um time é um raio-x completo do retrospecto da Ponte no estádio, com número de vitórias, empates, derrotas, gols marcados, gols sofridos… A pesquisa durou dez anos. Foram feitas visitas a arquivos particulares, além das entrevistas com pessoas que, ao longo do tempo, construíram a relação apaixonada com o estádio. Pessoas interessadas em fazer contato com o autor podem ligar para (11) 99629-5113. OS NÚMEROS 1.766 PARTIDAS Foram disputadas pela Ponte no Majestoso, ao longo dos 70 anos de história 951 VITÓRIAS Foram conquistadas pela Macaca em jogos do Majestoso 82 GOLS Foram anotados pelo mestre Dicá, o maior artilheiro da história do estádio. 8 a 1 FOI O PLACAR Das maiores goleadas aplicadas pela Ponte nos 70 anos do Majestoso, nas partidas contra Portofelicense (1949); Ferroviária (1994) e Castanhal (2001) 0 a 6 FOI O PLACAR Das maiores goleadas sofridas em casa pela Ponte Preta, nas partidas contra o Corinthians (1948) e XV de Piracicaba (1995)

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