Antes da pandemia, bichos se alimentavam de sobras de bares e restaurantes, agora fechados
A chef de cozinha e protetora de animais Fátima Gonçalves, a Fafá, com seu cãozinho Loiro que tirou da rua (Kamá Ribeiro/ Correio Popular)
Se antes da pandemia da covid-19, decretada no início do ano passado, os animais que vivem nas ruas da região de Campinas passavam fome e se alimentavam basicamente dos restos e do lixo de bares e restaurantes, agora estão morrendo de uma forma mais cruel - de inanição.
A escassez quase absoluta de alimentos disponíveis aos cachorros e gatos que perambulam pelas vias públicas da cidade, é um problema que se acentuou este ano com as restrições impostas pela fase vermelha e pelo toque de recolher que reduziu drasticamente a circulação de pessoas no período noturno. Sem bares e restaurantes funcionando e pessoas nas ruas, a quantidade de sobras de alimentos também caiu consideravelmente.
Por isso, protetores apelam para que os cidadãos não virem as costas para esses indefesos e procurem ajudar como podem a fim de salvar a vida desses animais abandonados. "A pandemia veio para dificultar mais ainda o que já era difícil: as doações caíram, o abandono aumentou e, com comércios fechados, até os animais que dependiam daquele restinho de comida que os comerciantes e clientes colocavam na porta não têm isso mais", afirma a protetora Eliane Souza, de Hortolândia.
"Eles estão pagando um preço muito alto devido a tudo isso. É muito triste essa situação. Eles não merecem sofrer tanto, e, principalmente, passar tanta fome. Espero que tudo isso acabe o mais rápido possível", complementa a protetora. Eliane é dona de uma papelaria e mantém dois abrigos. Cuida hoje de cerca de 80 animais. "Os pedidos de ajuda não param. É todo dia. Toda hora, e eu não consigo fazer nada sem ajuda", declara.
20 mil animais
Só em Campinas, protetores estimam que 20 mil animais estejam nas ruas. A protetora Ana Cavalcanti sai todas as noites para alimentar indefesos em três bairros da cidade. Faz isso há anos e, agora, durante a pandemia, mesmo com medo de contrair covid, não consegue virar as costas para os incapazes. Afirma ser a favor de lockdown para que a situação possa melhorar efetivamente. Por outro lado, teme pelos bichos.
"Pra eu manter a minha sanidade mental, conseguir trabalhar e cuidar dos animais, eu faço a minha parte e entrego a Deus, porque se eu ficar toda hora pensando nisso, fico totalmente esgotada. Fico muito desnorteada. Rezo todas as noites para acabar logo essa pandemia e que as pessoas despertem, porque elas não podem ficar nesse pé de guerra. Se as pessoas despertarem, consequentemente, vai melhorar para os animais, em tudo", pontua.
Exemplo
A chef de cozinha Fátima Gonçalves, dona do Vila Bambu, conhecido como Bar da Fafá, é protetora de animais. O estabelecimento está fechado há um ano por causa da pandemia, e as vendas são feitas pela internet e por celular, e entregues na porta, respeitando-se o distanciamento social e as regras de biossegurança. Mas, apesar de fechado, os animais da rua não foram prejudicados porque eles não existem lá na Eleutério Rodrigues. Quando algum aparece perdido, ou abandonado, Fafá já resolve a situação. É que ela é adepta do 'se cada um fizer um pouquinho, não fica pesado para ninguém'.
Em 12 de outubro de 2018, dois cães apareceram na rua: um pretinho e um marrom, ambos com coleira, mas sem identificação. Fátima não titubeou, e já procurou os donos. E o Correio Popular a ajudou divulgando-os no jornal. O tutor do pretinho apareceu, e o levou pra casa. Mas, o do marronzinho, não. "Eu o coloquei para adoção, mas, por ser adulto, ninguém quis. As pessoas só querem filhote. E eu fui ficando com ele. Hoje, ele é superdócil. Um amor". O cãozinho ganhou o nome de Loiro, e é um dos cinco adotados por Fafá.
CONTATOS PARA AJUDAR
Ana Cavalcanti
(19) 99817-3741
Eliane Souza:
(19) 99307-6024
Vila Bambu, o Bar da Fafá:
(19) 99914-2529