objetivo de vida

Isaías tem um sonho: se tornar juiz

Sem condições para fazer o curso de direito, baiano vende balinhas em semáforo do Taquaral

Alenita Ramirez
28/07/2018 às 19:45.
Atualizado em 23/04/2022 às 08:06
   (Thomaz Marostegan/Especial para a AAN)

(Thomaz Marostegan/Especial para a AAN)

O baiano Isaías dos Reis Santos, de 29 anos, tem um sonho: ser juiz. Em busca desse sonho ele percorreu 2.111 quilômetros, de Rio Real, no Nordeste da Bahia, para chegar em Campinas. Aqui, Isaías acreditava que conseguiria um bom trabalho, arrumaria a vida e cursaria a tão desejada faculdade de direito. Ele encarou serviços como ajudante geral, cozinheiro, foram tantas as áreas que ele já perdeu a noção. A última delas foi de coordenador de jardinagem, o cargo mais alto que conseguiu chegar. Mas há quase dois anos perdeu o emprego e, de lá para cá, sua vida declinou. Hoje vive de favor na casa de um aposentado que é como um irmão, no bairro Taquaral. Para tentar pagar as contas mais simples, o jeito foi vender balinhas no semáforo da Avenida Dr. Heitor Penteado, no entorno do Lagoa do Taquaral. E foi lá, no semáforo, que Isaías despertou a atenção do jornalista Daniel Ribeiro, de 36 anos. O vendedor ambulante estava vestido de paletó, camisa social, calça jeans e sapato social. Era educado. As vestes e a educação do jovem chamaram a curiosidade de Ribeiro. Ele pegou o contato de Isaías e especulou sobre a vida do vendedor, que explicou que estava ali para conseguir dinheiro e pagar a faculdade do curso de direito, pois seu sonho era ser juiz. “O Isaías é humilde e me contou sua história. Fiquei comovido e pensei em uma forma de ajudá-lo a realizar seu sonho. Então liguei no Correio, para ver se, através de uma reportagem, as pessoas o ajudariam”, contou Daniel. Isaías começou a vender balas no semáforo há nove meses. O empreendimento nasceu de um cálculo que fez. Amante dos números também, ele supôs que por ali devem passar entre 10 mil e 15 mil carros por dia. Com base nessa estimativa, achou que deveria vender para ao menos 10% dos motoristas. Mas a suposição dele não deu certo. “No máximo que conseguia vender era entre 10 e 15. Já sofri muita humilhação. Eu não me vestia como me visto hoje e os motoristas achavam que eu era bandido. Muitos me maltrataram, mas também tiveram motoristas que me incentivaram, deram-me apoio e me animaram. Com isso, cresci e me tornei forte. As críticas me ajudaram a melhorar. E os apoios a me sustentar”, disse. De acordo com Isaías, foi lá no semáforo que ele ganhou roupas novas, calçados, lanches e até o carinho das polícias Militar e Civil. “Só tenho que agradecer a todos pelo carinho. Os policiais sempre passam e me cumprimentam, pegando na minha mão, desejando bom trabalho e que eu consiga vencer”, disse. Para realizar o sonho, Isaías, chegou a ingressar em duas instituições, a Faculdade Anhanguera de Campinas (FAC 3) e a Universidade Paulista (Unip), mas por falta de condições foi obrigado a parar o curso, o que gerou uma dívida grande para ele. “Quero pagar o que devo e voltar para a Bahia. Lá estarei perto da minha família e quem sabe montarei um negócio e com ele pago o curso para me tornar juiz”, disse o vendedor ambulante sonhador. Ele calcula que precisa de ao menos uns R$ 20 mil para pagar as dívidas, voltar para casa e montar um pequeno comércio. Isaías é casado, tem uma enteada de 5 anos, e a mulher está grávida de seis meses de uma menina. Ela mora em Alagoinhas (BA) e é para lá que ele quer voltar. Quem quiser e puder ajudar o jovem sonhador, ele fica no semáforo da Av. Dr. Heitor Penteado com Rua Dr. Armando Sales de Oliveira, em frente a uma loja de carros, sempre depois das 14h30.

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