Se por um lado alegram o dia a dia de alguns moradores, os famosos saguis do bairro Chácara da Barra também têm incomodado, e muito, outros vizinhos
Animais viraram referência para moradores do bairro Chácara da Barra (Patrícia Domingos/AAN)
Todos os dias, pela manhã e final de tarde, eles são presença garantida nas residências da Rua Monte Aprazível, em Campinas. Se por um lado alegram o dia a dia de alguns moradores, os famosos saguis do bairro Chácara da Barra também têm incomodado, e muito, outros vizinhos que estão se sentindo “presos” dentro de suas casas. Até o começo deste ano era um casal, mas agora já são sete pequenos mamíferos que pulam de galho em galho, andam na fiação dos postes, comem as frutas deixadas pelos admiradores, mas também emporcalham móveis e varandas por onde passam. Na tarde de terça, enquanto a reportagem entrevistava a tradutora Maria José Silva de Souza, de 65 anos, cinco saguis saltitavam nos galhos da enorme jabuticabeira em seu quintal e entre os vasos da varanda. “Tirei todos os móveis daqui, pois estavam sujando tudo. Não posso deixar a porta da varanda mais aberta, pois já estão entrando dentro de casa e fazendo bagunça”, comenta. A alimentação dada por alguns vizinhos, segundo ela, atrai os bichos. Foto: Patrícia Domingos/AAN Maria de Souza encara os saguis que brincam no vaso: reclamação Segundo Maria, antes a presença dos mamíferos era esporádica, mas hoje todos os dias batem cartão na sua varanda. “Tenho pé de goiaba, abacate, amora, e naturalmente atrai eles. Eles têm que ser capturados e levados para uma reserva”, espera. Seu marido, Afonso Henrique, observa com simpatia os bichinhos, mas também admite que uma série de precauções (como janelas e portas fechadas), precisam ser tomadas com a presença maciça dos saguis. Há mais de 20 anos esses animais silvestres são presença certeira pelas ruas do bairro Chácara da Barra, dizem os moradores mais antigos. No entanto, com a expansão dos bairros a lugares anteriormente dominados por matas, cresceu a quantidade desses macaquinhos transitando entre os humanos. O bairro fica próximo ao Ribeirão Anhumas e é muito arborizado. A “fidelização” com os humanos se dá através do alimento, colocado diariamente. Comida diária “Tem alguns que comem na nossa mão”, disse a moradora Tamar Lilian Silvestre, de 45 anos. Ela e a mãe colocam há anos pedaços de fruta em frente a residência, e segundo Tamar não há o que temer. “Todo mundo dessa rua adora a presença dos saguis”, diz. Ciça Gine, de 53, vizinha de Tamar, engrossa o coro: “É um privilégio ter a presença dessas animais por aqui. Eles não entram na varanda de um só, mas de todos da rua e ninguém vê algum mal nisso”, afirma. O supervisor técnico José Rodrigues da Silva, de 33 anos, disse que a presença dos pequeninos não atrapalha, e sim alegra o cotidiano do bairro. “Vejo com frequência há pelo menos 10 anos os saguis. Começou com três a quatro e hoje tem sete”, disse. De acordo com o diretor do Departamento Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal, Paulo Anselmo, os saguis são animais selvagens de vida livre, e boa parte foi trazida ao estado de São Paulo vindos do Nordeste, das mãos de traficantes. Anselmo citou locais como o Bosque dos Jequitibás, dos Italianos (Castelo), os distritos de Sousas e Joaquim Egídio como refúgios para os saguis. No entanto, esses animais estão sob a gerência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), responsável pela fiscalização de animais silvestres. Não há uma estimativa da população de saguis que habitam as matas em Campinas.