UM ANO DA TECNOLOGIA

Internet mais rápida com o 5G ainda esbarra em restrições

Incompatibilidade de aparelhos e área de cobertura reduzida são desafios que persistem

Israel Moreira/ [email protected]
25/07/2023 às 08:38.
Atualizado em 25/07/2023 às 08:38
Especialista aponta três pilares da tecnologia: inclusão digital, alta conectividade de dados e internet ultrarrápida; vereadores devem discutir em breve projeto de lei para regulamentar instalação da infraestrutura (Kamá Ribeiro)

Especialista aponta três pilares da tecnologia: inclusão digital, alta conectividade de dados e internet ultrarrápida; vereadores devem discutir em breve projeto de lei para regulamentar instalação da infraestrutura (Kamá Ribeiro)

Um ano após a chegada do 5G no Brasil, os moradores de Campinas ainda não conseguem utilizar a tecnologia com uma melhoria consistente na velocidade da internet móvel. O problema não é exclusivo da metrópole. Segundo levantamento do portal Minha Conexão, o desempenho atual no país é bastante próximo ao que era no ano passado. A média de velocidade das redes móveis foi de 29,56 Mbps contra 29,65 Mbps no mesmo período analisado dos dois anos.

Longe de ser popular no país, a tecnologia 5G representa apenas 10 milhões de acessos no país. A rede 4G conta com 196 milhões.

Em Campinas, os serviços da tecnologia 5G são restritos à compatibilidade dos aparelhos e à pequena área de cobertura oferecida pelas operadoras de telefonia celular.

A influenciadora e criadora de conteúdos digitais, Tailaina Godoi, de 36 anos, confessa que as áreas restritas de cobertura do 5G prejudica o seu trabalho nas redes sociais.

“O meu aparelho é moderno, um dos mais novos do mercado e nunca tem acesso à rede 5G. Hoje tenho dificuldades com postagem e produção de conteúdo em tempo real”, relata a influenciadora.

Marcos Antônio da Silva Santos, morador de Hortolândia e que trabalha em um comércio no Centro de Campinas, tem a mesma reclamação. Ele comprou recentemente um novo aparelho e consegue utilizar o 5G apenas durante o dia, uma vez que trabalha em uma área próxima aos locais com acesso à tecnologia.

“Mesmo com o aparelho compatível, eu consigo utilizar o 5G somente na região do Centro de Campinas. Como moro em outra cidade da região, a tecnologia não está disponível e sou obrigado a utilizar o 4G.”

Uma das operadoras de serviço com abrangência em todo o Brasil confirmou, por meio de sua assessoria, que a tecnologia 5G já está disponível aos seus clientes nas áreas de cobertura da empresa desde fevereiro de 2023.

“A adoção da tecnologia não vai exigir nenhuma alteração de contrato. Qualquer cliente com aparelho compatível e que esteja em área com cobertura pela tecnologia pode ter acesso, sem a necessidade de mudar de plano ou de chip. Para o cliente que quiser ampliar a franquia de dados, é disponibilizado um portfólio de planos pós-pagos que atendem às necessidades do dia a dia.”

A pesquisadora do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, Marina Martinelli, destaca que a tecnologia 5G possui em sua origem três pilares fundamentais, a inclusão digital, a alta conectividade de dados e a internet ultrarrápida, unindo a Inteligência Artificial (IA) e Big Data.

“A democratização do acesso à tecnologia 5G é necessária para um maior acesso da população, e a legislação municipal atual não é a adequada”, completa Marina.

A pesquisadora também destaca o uso do 5G para os demais setores da sociedade, como a área médica.

“Cirurgias remotas são bons exemplos da necessidade de se utilizar a tecnologia. A precisão nos processos cirúrgicos, como procedimentos neurológicos ou por vídeos, precisa ser cada vez mais alcançada com a tecnologia já disponível, o que torna a expansão da cobertura fundamental na região de Campinas”, finaliza.

Paulo Curado, diretor de Inovação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), afirma que o principal fator para a democratização do acesso ao 5G está na expansão de sua cobertura. A ampliação das instalações de antenas 5G é preponderante para o aproveitamento dos benefícios oferecidos pela tecnologia.

“O usuário pode ter o celular compatível com a tecnologia, mas sem acesso à rede de cobertura ele não vai aproveitar nada. A população precisa ter ciência de que não são torres gigantescas que nós estamos acostumados a ver. As antenas que disponibilizam a tecnologia 5G são bem menores e podem ser instaladas nos postes públicos de energia.” 

Conforme o pesquisador do CPQD, a indústria, o agronegócio, transportes públicos e o setor educacional também seriam impactados com a expansão das áreas de cobertura.

Sobre a regulamentação municipal, Paulo Curado considera imprescindível que ela aconteça o mais rápido possível.

“Quanto mais cedo houver as discussões e aprovações das leis que regulamentam o processo de instalações de antenas de serviços em telecomunicações, mais rápido será o aumento de cobertura da tecnologia”, finaliza.

A Câmara Municipal deve discutir no mês que vem o Projeto de Lei Complementar que regulamenta a instalação e o licenciamento de infraestrutura de suporte para equipamentos de telecomunicações e afins autorizados, homologados ou fiscalizados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), inclusive equipamentos de radiofusão. O projeto é de autoria do vereador Paulo Haddad (Cidadania).

UNIVERSIDADES

Lançada em setembro do ano passado, a rede de fibra óptica de alta velocidade que permite a conexão de oito universidades paulistas entre si e com instituições do exterior, batizada de Backbone SP, está preparada para viabilizar conexões de iniciativas que demandem maior largura de banda, como redes 5G privadas.

A rede interliga a USP, a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Presbiteriana Mackenzie, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), além das universidades federais de São Paulo (Unifesp), de São Carlos (UFSCar) e do ABC (UFABC).

Baseado em tráfego de dados, o padrão de tecnologia de quinta geração para redes móveis e de banda larga está possibilitando o surgimento de redes privadas para interligação de diversos dispositivos baseados na internet das coisas (IoT, na sigla em inglês).

O coordenador da Rednesp (Research and Education Network at São Paulo, antiga Rede ANSP) e superintendente de Tecnologia da Informação (STI) da USP, João Eduardo Ferreira, explicou, na ocasião, que o próximo passo para o Backbone SP seria servir como uma infovia para trocar dados das redes 5G privadas, que, apesar de fechadas entre si, precisam se comunicar e interligar todos esses dispositivos de conectividade das universidades como alternativa à infraestrutura de comunicação de longa distância disponibilizada pelas operadoras.

A fim de demonstrar a viabilidade da ideia, os pesquisadores da Rednesp, em parceria com a empresa Nokia, fizeram uma demonstração do funcionamento de uma rede privada 5G.

“Além de permitir aumentar a eficiência na troca de dados científicos, materiais didáticos e processamento de alto desempenho, o Backbone SP também será um ecossistema de conectividade”, avaliou, à época, o coordenador da Rednesp.

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