DESCOMPASSO

Instabilidade: dólar alto ameaça estragar o Natal

Produtos prontos ou insumos importados mais caros vão gerar aumentos em diferentes setores

Adriana Leite
02/07/2013 às 08:32.
Atualizado em 25/04/2022 às 10:12

Os consumidores podem preparar o bolso para um segundo semestre também recheado de repasses de preços.

Mas desta vez não é por causa do clima ruim, que fez disparar os preços dos alimentos no começo deste ano, e nem por causa de pressões vindas do setor de serviços, que também ajudou a alimentar a inflação dos últimos meses: o motivo, agora é a instabilidade do dólar, que em um ano ficou 12,30% mais caro em relação ao real.

Dólar mais alto significa que bens importados, sejam produtos acabados ou insumos usados pela indústria para fabricar produtos aqui, vão custar mais caro - e, naturalmente, o aumento vai acabar onde sempre acaba: no bolso do consumidor.

Para ter uma ideia melhor do tamanho do aumento do dólar, enquanto ontem ele estava cotado a R$ 2,231, no dia 2 de julho do ano passado valia R$ 1,987.

E não é só repasse nos preços que o dólar alto é capaz de provocar - representantes de empresas importadoras temem que também faltem produtos para o Natal.

O quadro, de fato, não é dos mais animadores, e o baixo crescimento da economia não ajuda em nada. A tendência, segundo especialistas, é que a inflação suba e fique acima do teto da meta (que é 6,5% no período de 12 meses).

Outro fator que terá reflexo sobre a formação de preços das mercadorias no segundo semestre será os dissídios salários de várias categorias. Com os índices inflacionários elevados, os sindicatos vão tentar negociar reposições que tenham ganho real.

O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Bens de Consumo (ABCON), Gustavo Dedivitis, afirmou que o setor está muito preocupado com os impactos da alta do dólar e também com as medidas, na avaliação dele, protecionistas do governo brasileiro.

“O mercado está muito recessivo e inadimplente. Vários importadores tiveram que fazer hedge cambial” (uma operação que serve para garantir um patamar do dólar mais estável para as compras no Exterior).

Dedivitis disse que houve uma queda do faturamento do setor entre 40% a 50% neste ano em relação a igual período de 2012. As empresas ligadas à entidade importam utilidades domésticas, porcelanas, ferramentas e têxteis.

“O foco do nosso segmento é a importação de bens de consumo. Com o quadro recessivo, muitos importadores estão deixando de trazer produtos, e para o final do ano, produtos como porcelanas e cerâmicas podem faltar”, afirmou.

Ele comentou que o setor está dialogando com o governo em decorrência das medidas protecionistas que estariam prejudicando o setor.

O representante técnico da Engetax, Wellington Vietri, afirmou que o sobe e desce da cotação da moeda norte-americana prejudica a importação de componentes usados na fabricação dos elevadores da marca.

“Num elevador elétrico, de 20% a 30% das peças são importadas. Nos hidráulicos, a proporção é de 30% a 40%”, afirmou. Ele comentou que a empresa faz importação direta e há insumos que são comprados de fornecedores que trazem componentes de outros países.

Para Vietri, a oscilação do dólar é muito preocupante para as operações da empresa. “O aumento de custos reduz a nossa competitividade. Para manter as margens, temos que incrementar os nossos produtos com mais tecnologia”, salientou. A Engetax tem uma capacidade anual de 800 elevadores por ano.

Natal

Panetones, vinhos, espumantes, frutas e doces importados também vão sentir diretamente o reflexo da alta do dólar.

O proprietário do Empório Michellutti, Cristiano Borgonov, afirmou que já foi informado pelos fornecedores de bebidas que nas próximas semanas haverá reajustes que vão variar de 10% a 20%.

Conforme Borgonov, a empresa vai esperar que o dólar volte a um patamarinferior ao dosatuais R$2,20 para fazer as compras para o Natal.“No caso dos panetones e outros alimentos, temos que fazer ospedidos até o final de agosto e começo de setembro. As bebidas podem ser compradas até outubro”, afirmou. Oempório comercializa entre 300 a 400 rótulos de bebidas.

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