Constatação é de pesquisa baseada em dados do Censo 2022, que aponta a necessidade de as cidades se tornarem mais “amigáveis” para PcDs e ciclistas
Em Campinas, segundo o IBGE, 52% dos moradores disseram enfrentar obstáculos nas calçadas como degraus, buracos, mato alto, caçambas e danos provocados por raízes de árvores (Rodrigo Zanotto)
As cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC) contam com alta taxa da população beneficiada com infraestrutura urbana, mas ainda convive com deficiências com respeito a uma situação mais adequada para pessoas com deficiência (PcDs) e ciclistas, além da conservação das calçadas. Essa realidade é apontada pela pesquisa 'Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios', divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base nas informações obtidas pelo Censo 2022. De acordo com o levantamento, os moradores de 19 dos 20 municípios da Grande Campinas contam com nível de arborização acima da média paulista, de 74,93%, mas a maioria tem de encarar calçadas com obstáculos e apenas seis cidades contam com rampas de acesso em quantidade superior a média do Estado de São Paulo.
Ao todo, o estudo considerou nove características, incluindo também a existência de pavimentação, bueiros ou bocas de lobo, iluminação pública, ponto de ônibus ou van, circulação de ônibus ou caminhão na via, via sinalizada para bicicletas e a condição das calçadas. Para o arquiteto e urbanista Carlos Fernandes Duarte, esses equipamentos resultam em melhor qualidade de vida. “A infraestrutura de uma cidade é como a espinha dorsal que a mantém funcionando. Ela engloba serviços importantes que influenciam o cotidiano das pessoas e contribuem para o desenvolvimento. Quando uma cidade tem uma boa infraestrutura, as pessoas têm mais qualidade de vida”, afirmou.
De acordo com o diagnóstico feito pelo IBGE, Santo Antonio de Posse é a cidade com o menor nível de arborização na RMC, onde praticamente um em cada três moradores não conta com árvores no entorno de suas casas. Elas estão presentes nas proximidades de 68,22% dos 51.456 habitantes. “As árvores são de extrema importância nas cidades, indo muito além de uma simples estética. Elas contribuem para a qualidade do ar, reduzindo a temperatura e a poluição sonora, além de melhorarem a saúde e o bem-estar da população”, explicou o urbanista.
A prefeitura de Santo Antônio de Posse informou que atua para mudar esse quadro, com uma política de arborização urbana que disciplina o plantio, replantio e manutenção, realizando ainda projetos como o “Praças Florestas Urbanas”. A ação conta com o envolvimento de estudantes das escolas públicas, que participam do plantio de mudas. Segundo a administração, nos últimos quatro anos foram distribuídas 400 mudas para a população e foi implantada uma agrofloresta com cerca de 650 mudas de árvores nativas como parte do projeto De Olhos nos Rios, com o objetivo de recuperação da mata ciliar. Segundo o IBGE, Santa Bárbara d´Oeste tem o maior índice de arborização, atingindo 94,86% da população.
OUTROS QUESITOS
O recorte Características Urbanísticas apontou ainda que mais de 90% dos moradores de 19 cidades da RMC residem em vias pavimentadas. Monte Mor é a única cidade abaixo desse índice, com 88,03%. Bairros, como o Jardim Colina, ainda têm ruas de terra. Segundo a administração municipal, apesar dessa situação, são realizados serviços para amenizar a situação, como nivelamento e limpeza das vias. O levantamento do IBGE revelou que todos os municípios da Região Metropolitana têm iluminação pública no mesmo nível ou superior a média paulista, de 97,5%, enquanto cinco ficaram abaixo no quesito existência de bueiros e bocas de lobo, itens para o escoamento das águas pluviais.
No Estado, 57,85% contam com esse benefício, mas a taxa em Artur Nogueira foi de 33,09%, Cosmópolis 38,55%, Engenheiro Coelho 40,12%, Nova Odessa 51,86% e Santa Bárbara d´Oeste 53,09%. Os bueiros e bocas de lobo são importantes para escoar a água das chuvas e evitar que atinja as casas. De acordo com balanço divulgado por Nova Odessa, entre 2 de janeiro e o dia 25 passado, 4.114 bocas de lobo foram limpas na cidade, zeladoria realizada continuamente. “Além de garantir o aspecto de limpeza e organização da cidade, a medida evitar entupimentos das galerias e, consequente, episódios de alagamentos de ruas e avenidas”, explicou o secretário municipal interino de Obras, Gustavo Valente.
POUCO AMIGÁVEL
O levantamento do IBGE mostrou ainda que nas cidades da RMC mais de 90% da população contam com calçadas nas proximidades das casas. A taxa mais alta é em Santa Bárbara d´Oeste, 98,05%, Porém, isso não significa caminho livre para os pedestres. Em Campinas, 92% dos moradores relataram contar com esse tipo de pavimento, mas 52,03% enfrentam obstáculos, como degraus, buracos, mato alto, caçambas e danos provocados por raízes de árvores.
“Em muitos locais, Campinas deixa a desejar. São bairros com calçadas ruins, ruas esburacadas, praças com mato alto”, disse o aposentado Rubens da Silva, enquanto desviava do mato na calçada da Avenida General Carneiro, na Vila Industrial. Ele mora na Vila Aeroporto, onde a situação é a mesma, afirmou. No entanto, há quem considere a situação dos bairros boas. “Não vejo grandes problemas em Campinas. De uma maneira geral, a situação é boa”, afirmou o atendente de enfermagem Felipe Souza Silva. Ele reside no Ouro Verde, distrito onde foram realizadas obras recentes de pavimentação e de drenagem em rua. Um deles foi no Residencial Tancredo Neves, bairro com 35 anos onde todas as ruas foram asfaltadas no segundo semestre de 2024. Apenas na Rua Raimunda Ezilda Gomes foi investido R$ 1,5 milhão em 1,1 quilômetro de pavimentação, 800 metros de galerias pluviais e 2,2 km de drenagem superficial, com guias e sarjetas.
O Características Urbanísticas revelou ainda que as calçadas continuam sendo um obstáculo para os portadores de deficiência. Apenas em seis cidades da regão, o total da população atendida com rampas de acesso superou a média paulista, de 15,09%. São elas Indaiatuba (25,92%), Campinas (21,89%), Holambra (21,68%), Hortolândia (19,49%), Morungaba (16,28%) e Engenheiro Coelho (15,11%). “Em muitos lugares, a situação é ruim”, disse o aposentado Nivaldo José Beijo, que admitiu já ter caído por causa da situação da calçada no Centro de Campinas.
Ontem, ele andava de muleta ao lado de pedras soltas na Praça Guilherme de Almeida, em frente ao Palácio da Justiça, futuro Palácio da Cidade, no Centro. A população da RMC, de modo geral, também conta com baixo índice de vias com sinalização para bicicletas. A taxa mais alta é a de Holambra (5,24%), seguida por Pedreira (3,7%), Campinas (2,77%), Monte Mor (2,56%) e Artur Nogueira (2,53%). Nas demais cidades, o índice é inferior a 2%, com o mais baixo sendo em Nova Odessa, 0,53%.
“As ciclovias que existem servem para o lazer, para a locomoção nos bairros, não para quem usa para trabalhar”, avaliou o presidente do Campinas Bike Clube, Luís Carlos Rosa. Para ele, falta ligação entre os vários trechos para que as ciclovias se tornem mais funcionais. Luís Rosa usa bicicleta há 12 anos para chegar ao trabalho, na Avenida Orozimbo Maia, e lembra que o Centro não tem essa opção. Já a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) prometeu sinalizar até o final do próximo mês os sistemas cicloviários do município (ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas e calçadas compartilhadas). A sinalização funcionará como guia para orientar os ciclistas nos deslocamentos, indicando destino e tempo de percurso.
Segundo a Emdec, os sistemas permitem a conexão entre vários pontos de interesse e bairros, nos quais a bicicleta é o modal de transporte. Essas vias, acrescentou, proporcionam o acesso a equipamentos públicos, como unidades de ensino (escolas e creches), de saúde (postos, centros e hospitais), praças esportivas, subprefeituras, comércios, entre outros. Elas também fazem a ligação com o transporte público coletivo (terminais urbanos e estações de transferência do BRT). Segundo a Emdec, a bicicleta é indicada para deslocamentos curtos, com raio em torno de 5 km, com os maiores podendo ser feito através do transporte público.
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