EPIDEMIA

Infestação de larvas da dengue quase triplica em um ano

Índice era de 0,5 em 2022 e saltou para 1,4 neste ano; Prefeitura realiza hoje mutirão contra a doença no Jardim Eulina

Da Redação
16/12/2023 às 10:29.
Atualizado em 16/12/2023 às 10:29
Como 80% dos criadouros do Aedes aegypti estão dentro das residências, o apelo do poder público é para que a população permita a entrada para a vistoria dos imóveis (Rodrigo Zanotto)

Como 80% dos criadouros do Aedes aegypti estão dentro das residências, o apelo do poder público é para que a população permita a entrada para a vistoria dos imóveis (Rodrigo Zanotto)

Com 10.173 casos e três mortes confirmadas neste ano, além de mais 846 casos em investigação, Campinas, que vive uma epidemia de dengue, quase triplicou a densidade larvária em 2023. O índice que mede a infestação do mosquito Aedes aegypti era de 0,5 em 2022 e saltou para 1,4 neste ano. Na semana passada, sete bairros foram incluídos no alerta para elevado risco de transmissão da doença, entre eles o Jardim Eulina. Mediante esse quadro, o Jd. Eulina recebe hoje uma grande ação de combate aos criadouros do transmissor da doença.

Embora sem casos registrados ainda, a Secretaria de Saúde da cidade também demonstra preocupação com a reintrodução dos tipos 3 e 4 da dengue, que voltaram a circular no país após quase 15 anos. Municípios de São Paulo, como Votuporanga, e Rio de Janeiro já detectaram os dois tipos. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) são quatro tipos de vírus: O DEN-1 é o que mais afeta os brasileiros, sendo visto como o mais explosivo dos quatro, e pode causar grandes epidemias em um curto prazo. O DEN-3 é o responsável por causar formas mais graves da doença, seguido pelo DEN-2 e DEN-4.

O Ministério da Saúde também alertou, no início deste mês, que o número de casos de dengue em 2024 deve aumentar em grande parte do Brasil. A estimativa se dá frente a um cenário em que, pela primeira vez em muito tempo, os quatro sorotipos do vírus causador da doença circulam no País. Para piorar, o fenômeno El Niño eleva as temperaturas, criando um clima ideal para o mosquito vetor.

"No pior cenário poderemos chegar a 5 milhões de casos de dengue (em 2024). Temos uma variação aí de 1,7 milhão a 5 milhões, uma média de 3 milhões. Tudo isso sem considerar nenhuma nova tecnologia (aplicada), sem considerar que faríamos algo, mas nós estamos nos antecipando", disse a secretaria de Vigilância em Saúde Ethel Maciel, durante entrevista coletiva concedida no início deste mês. As previsões foram feitas em uma parceria com o InfoDengue, da Fiocruz.

MUTIRÃO

O mutirão do Jardim Eulina faz parte das ações para evitar nova explosão de casos confirmados da doença e risco de mais óbitos. A Secretaria de Saúde apela para que a população facilite as ações das equipes e colabore. A ação será realizada das 8h30 às 12h e vai mobilizar 114 pessoas, incluindo todos os trabalhadores das equipes contratadas pela Administração para atuar nos serviços de visita aos imóveis e, com isso, remover possíveis criadouros do mosquito

. A previsão é que as equipes atuem em quatro mil imóveis localizados em 192 quarteirões. Para isso, a Saúde pede para que os moradores do Jardim Eulina liberem acesso às casas para que os criadouros sejam identificados e removidos. O trabalho terá apoio de um caminhão “cata-treco” para recolher os materiais inadequados e de um carro de som para alertar a população.

“Várias ações já foram realizadas no Jardim Eulina, incluindo visita aos imóveis com orientação à população e remoção de criadouros, além da aplicação de larvicida e inseticida na área. Estamos num momento de retornar aos imóveis fechados ou com recusa, buscando atingir o maior número possível de casas trabalhadas. Nesse momento, além de denunciar possíveis focos, também é importante que a população cuide do espaço e informe aos seus vizinhos, principalmente os que não receberam os agentes, a não deixar água parada” destacou a agente de controle ambiental e supervisora geral do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Adriana Guidetti. Ela é responsável por coordenar as ações de campo.

O coordenador do Programa de Arboviroses, Fausto de Almeida Marinho Neto, frisou que a Prefeitura mantém ações ininterruptas de combate e prevenção à dengue no município, com eliminação de criadouros, ações educativas e de mobilização da sociedade e organização e limpeza da cidade. “No entanto, é preciso contrapartida da sociedade. As pessoas precisam eliminar criadouros, tudo o que possa acumular água, e dar a destinação correta ao lixo. A melhor forma de combate à dengue é não deixar o mosquito se proliferar”.

EPIDEMIA

Campinas declarou epidemia da doença em abril. A Secretaria de Saúde destacou que o esforço do poder público e população é imprescindível para evitar uma explosão de casos e risco de novos óbitos pela doença. Neste ano, o município já confirmou 10.173 casos e teve três mortes. Neste momento, 846 casos são investigados.

A preocupação da Saúde com os tipos 3 e 4 da dengue decorre da ausência destes vírus nos últimos anos, o que torna crianças e adolescentes, além de adultos ou idosos que não tiveram a doença, mais vulneráveis por causa da falta de anticorpos contra as infecções: o tipo 3 não é verificado há 14 anos, enquanto o tipo 4 foi registrado pela última vez há nove anos. Além disso, há risco de dengue grave quando uma pessoa é infectada por tipo diferente ao anterior.

“Campinas possui muita competência para o enfrentamento das arboviroses, conta com equipe técnica competente de profissionais bem preparados e que atuam de forma qualificada. Além disso, através da articulação intersetorial, toda a Administração está empenhada em atuar contra o mosquito e proteger a saúde da população, mas essa luta contra o mosquito é de todos nós. Juntando forças da Prefeitura e da população poderemos enfrentar este mosquito e evitar uma situação complicada nos próximos meses. Então, faça sua parte, receba os agentes na sua casa, remova os criadouros e não deixe água parada” destacou a articuladora da intersetorialidade no Comitê de Prevenção e Controle de Arboviroses, Priscilla Pegoraro.

Levantamento do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) diz que 80% dos criadouros estão dentro das residências. Para acabar com a proliferação do mosquito é preciso evitar acúmulo de água, latas, pneus, pratos de plantas e outros objetos. É importante, também, vedar a caixa d'água e manter fechados os vasos sanitários inutilizados.

Em 2015, a Prefeitura criou o Comitê de Prevenção e Controle das Arboviroses, que neste ano passou a se chamar Comitê Municipal de Enfrentamento das Arboviroses e Zoonoses. O grupo reúne 14 secretarias: Governo; Saúde; Educação; Serviços Públicos; Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Gestão e Desenvolvimento de Pessoas; Administração; Comunicação; Trabalho e Renda; Esportes e Lazer; Cultura e Turismo; Habitação; Relações Institucionais, e Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos. Também participam Defesa Civil, Serviço 156, Rede Mário Gatti, Setec e Sanasa.

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), do Ministério da Saúde, também abriu uma consulta pública para levantar a opinião da população sobre a inclusão da vacina Qdenga, da Takeda, contra os quatro sorotipos da dengue (1, 2, 3 e 4), no SUS. O parecer inicial do órgão é favorável, desde que haja uma redução do preço pela farmacêutica. A vacina foi aprovada recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas, por enquanto, só está disponível à população de maneira particular.

SINTOMAS DA DENGUE

Segundo a Fiocruz, a dengue pode ser assintomática ou pode evoluir até quadros mais graves, como hemorragia e choque. Na chamada dengue clássica, que deve ser notificada, a primeira manifestação é febre alta (39˚C a 40˚C) e de início abrupto, usualmente seguida de dor de cabeça ou nos olhos, cansaço ou dores musculares e ósseas, falta de apetite, náuseas, tonteiras, vômitos e erupções na pele (semelhantes à rubéola). A doença tem duração de cinco a sete dias (máximo de 10), mas o período de convalescença pode ser acompanhado de grande debilidade física e prolongar-se por várias semanas.

No que se refere à forma mais grave da enfermidade, conhecida como febre hemorrágica da dengue, os sintomas iniciais são semelhantes, porém há um agravamento do quadro no terceiro ou quarto dia de evolução, com aparecimento de manifestações hemorrágicas e colapso circulatório. Nos casos graves, o choque geralmente ocorre entre o terceiro e o sétimo dia de doença, geralmente precedido por dor abdominal. O choque é decorrente do aumento de permeabilidade vascular, seguida de hemoconcentração e falência circulatória.

Alguns pacientes podem ainda apresentar manifestações neurológicas, como convulsões e irritabilidade. Além disso, condições prévias ou associadas como referência de dengue anterior, idosos, hipertensão arterial, diabetes, asma brônquica e outras doenças respiratórias crônicas graves podem constituir fatores capazes de favorecer a evolução com gravidade.

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