saúde

Infertilidade atinge 10% dos casais

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dificuldade em gerar atinge aproximadamente 15% da população mundial

Rafaela Dias
01/07/2018 às 09:04.
Atualizado em 28/04/2022 às 14:27
David e Cristina enfrentaram os piores prognósticos, até de um câncer raro, antes de conceberem naturalmente Samuel, garotão lindo e saudável (Leandro Ferreira)

David e Cristina enfrentaram os piores prognósticos, até de um câncer raro, antes de conceberem naturalmente Samuel, garotão lindo e saudável (Leandro Ferreira)

A infertilidade atinge um a cada dez casais em idade fértil no Brasil e aproximadamente dois milhões de casais vão apresentar algum tipo de dificuldade ao longo de suas vidas reprodutivas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dificuldade em gerar atinge aproximadamente 15% da população mundial. O distúrbio não deve ser motivo para que as pessoas desistam do sonho de ter um filho. Por isso, junho foi escolhido como o Mês Mundial de Conscientização da Infertilidade.  Em geral, as causas da infertilidade começam a ser investigadas após 12 meses de tentativas sem o uso de qualquer método contraceptivo. Se a mulher tem mais de 35 anos, o prazo para a investigação diminui para seis meses de tentativas de forma natural, já que a partir dessa idade a capacidade reprodutiva da mulher vai diminuindo progressivamente. Em 20% dos casos, os fatores devem-se à infertilidade do casal, do homem e da mulher simultaneamente. Em 40% dos casos a causa de infertilidade está somente no homem e de 25% a 30% na mulher. “Muitas vezes, as pessoas acham que a maioria das mulheres que tem problema de infertilidade, e não é. A maioria dos casais que procura tratamento de infertilidade tem uma causa masculina”, explica a médica especialista em reprodução humana assistida, ginecologia e obstetrícia, Adriana de Góes. “Existe ainda um grupo de causas desconhecidas. Porém, mesmo nesse grupo é possível usar os tratamentos da tecnologia de reprodução humana assistida e atingir o objetivo da gravidez”, completou. Ainda segundo a especialista, vários motivos ocasionam a infertilidade. “O grande fator nas mulheres é a idade. Elas procuram ter filhos em uma idade acima de 35 anos, a maioria em torno dos 40, o que acaba repercutindo na capacidade reprodutiva da mulher. Outros fatores que devem ser considerados são a endometriose e infecções pélvicas que levam à obstrução tubária. Há ainda pacientes que não conseguiram engravidar e ter parto, bem como as mulheres que têm abortos recorrentes, eventualmente associados a doenças como trombofilias, que podem dificultar tanto a implantação do embrião no útero, quanto aumentar as chances de aborto de repetição”, disse a médica. Já nos homens, de acordo com ela, geralmente é a alteração na qualidade e na quantidade de espermatozóides, com ou sem associação de varizes na região testicular. “Alguns homens com vasectomia também, já que naturalmente têm dificuldade para engravidar posteriormente. Às vezes, ele constrói um novo relacionamento e deseja uma nova gravidez”, afirmou. Diante dos avanços da medicina, a infertilidade pode ser revertida ou contornada para concretizar o sonho de gerar filhos. O melhor caminho é encontrar profissionais qualificados, investigar as possíveis causas com individualização e cuidado e fazer o tratamento adequado, que varia caso a caso e considerando as particularidades de cada casal. “Diante da tecnologia de reprodução humana assistida atual, a infertilidade pode ser sim contornada, tratada e revertida. E isso não traz riscos para o casal, desde que a mulher esteja saudável para gestar, ela pode sim fazer os tratamentos com absoluta segurança e sem prejuízo para a saúde. Ou seja, não há riscos desses tratamentos de infertilidade. Se bem conduzidos, são absolutamente seguros”, garante a médica. Tratamentos As técnicas disponíveis e os procedimentos, segundo a especialista, consistem em estimular a ovulação da mulher, e se ela estiver com as trompas obstruídas, existe ainda a inseminação, que é a transferência de sêmen para o útero da mulher. Em casos mais complexos, existe a fertilização in vittro, que consiste na transferência de embriões para o útero da mulher com as possibilidades maiores de gravidez. Essa chance de gravidez está relacionada com a idade, principalmente com a idade do óvulo. As chances também são reduzidas em homens acima de 50 anos. “Falta bastante informação para os casais a respeito da infertilidade, pois eles acreditam que a gravidez é possível em qualquer idade, e não é bem assim. Quando eu digo que sempre tentando é possível, e que as mulheres acima de 40/42 anos e até mais velhas podem engravidar, é desde que elas abram mão de usar os próprios óvulos, e utilizem banco de óvulos. Da mesma forma, os homens que não têm qualidade seminal, podem usar o banco de sêmen. Então, o objetivo da gravidez é atingido, mas pode ser necessário abrir mão dos gametas do casal, seja do óvulo ou do espermatozóide, geralmente do óvulo. Para que uma paciente tenha gestação espontânea e sem problemas, o ideal é priorizar essa gestação antes dos 35 anos, mesmo com os tratamentos hoje disponíveis”, explicou a especialista. Samuel desafia diagnóstico de especialistas A falta de informação fez com que Tatiane Cristina de Almeida Alcântara, de 34 anos quase desistisse da maternidade. Mesmo desenganada pelos médicos, ela se tratou na esperança de engravidar. Há oito anos ela descobriu que tinha um mioma no útero e chegou a operar. “Pela minha ignorância, pensei que depois da cirurgia jamais seria mãe. Mesmo assim me preparei para o casamento. Durante os exames pré-nupciais, em 2012, descobri outros vários e enormes miomas. Na época a médica disse que mesmo assim a maternidade era possível”, contou a publicitária. Depois de dois anos casada com o mecânico David Alcântara Bernardo, de 31 anos, ela resolveu engravidar. “Outra médica chegou a me dizer naquele momento que o mioma estava muito grande, que meu útero estava velho e teria que arrancar tudo, já que não servia mais, nessas palavras”, disse. Tatiane chegou ainda a ser diagnosticada com um tipo raro de câncer e foi encaminhada para o oncologista. “Eu sofri muito e chorei por dias. Eu tinha certeza de que o médico ia tirar meu útero, reduzindo a zero a possibilidade de eu ser mãe”, revelou. Duas semanas antes da segunda cirurgia, ela descobriu que estava grávida. Esperançosa, chegou a ouvir do médico que era louca. “Para quem era infértil? Engravidei por vias naturais e questionei o oncologista. Fui encaminhada para a Unicamp por se tratar de uma gravidez de risco e na época, fui informada por esse médico que o bebê estava crescendo no colo do útero, uma raridade. E que ele teria que ser retirado. Foram dias de muita luta”, lembra. Ela foi informada que poderia inclusive registrar o bebê no cartório e já encaminhar o enterro. “Já internada na Unicamp descobri que meu filho estava sendo gerado no local certo, mas um pouco mais para baixo. Eu cheguei a engravidar de gêmeos, mas só o Samuel se desenvolveu. Dia 21de dezembro, me lembro como se fosse hoje, fui tirar o pessário, um dispositivo que fornecia suporte para a gravidez, e entrei em trabalho de parto”, conta emocionada. Samuel de Almeida Alcântara já está com 1 ano e 6 meses e muito saudável. “Faltam muitas informações para as famílias no geral. Se eu não fosse persistente, não teria mais útero e muito menos o Samuel. É importante um mês ser dedicado a discutir a infertilidade para trazer esclarecimento e esperança. Sou prova de um milagre, mas poderia ter sido uma vítima”, alerta. Espanhóis avançam em técnica do endométrio Pesquisadores espanhóis estão desenvolvendo uma pesquisa em Barcelona, na Espanha, que busca promover a reconstrução do endométrio, ao aplicarem células-tronco no tecido, recuperando sua espessura. O endométrio é o tecido que reveste toda a parede interna do útero apresenta uma capacidade única de regenerar sua camada funcional durante o ciclo-menstrual da mulher. É o local onde o embrião se implanta após a fecundação, dando início à gravidez. Diferentes fatores, no entanto, podem causar a destruição do endométrio, como a genética, questões hormonais e procedimentos cirúrgicos em que o tecido tenha sido excessivamente descamado, perdendo sua capacidade de regeneração. Essa condição pode afetar as mulheres que nascem com o endométrio mais fino, em outras que apresentam produção hormonal inadequada para promover o espessamento endometrial ou nas que desenvolveram a Síndrome de Asherman, que é ocasionada em mulheres que foram submetidas a curetagem. A curetagem uterina é realizada após abortos incompletos. Se houver uma curetagem invasiva nessa ocasião, o endométrio pode perder de forma definitiva sua capacidade de regeneração. “O sintoma mais comum é a diminuição significativa do fluxo menstrual após curetagem uterina ou até mesmo a ausência de menstruação”, explica Adriana de Góes, médica que estuda os avanços da pesquisa. O procedimento consiste em três etapas principais: a retirada de células da medula óssea, a restauração das células tronco para serem utilizadas novamente e a reintrodução dessas células no útero por um acesso de um vaso sanguíneo na virilha e direcionado até o útero. Além disso, logo no primeiro mês do procedimento com as células-tronco, a transferência dos embriões já deve ser feita, pois é o momento em que a espessura do endométrio fica ideal para a implantação. O estudo, iniciado há três anos, foi pensado nas mulheres que sofriam com a síndrome de Asherman. “Esse experimento serve também para quem deseja engravidar e apresenta um endométrio muito fino, dificultando a implantação embrionária”, explica a médica que está na Europa. A tese é pioneira nos estudos de infertilidade e promete realizar o sonho de muitas mulheres que, até então, achavam que a gestação seria impossível.

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