28 DIAS DE CONFLITO

Indústrias da RMC sofrem impacto da guerra na Ucrânia

Pesquisa do Ciesp-Campinas aponta que 33% já estão sendo afetadas negativamente

Gilson Rei
23/03/2022 às 10:15.
Atualizado em 23/03/2022 às 10:50
Mercadorias no Terminal de Cargas de Viracopos: guerra na Ucrânia tem dificultado a importação de insumos, o que tem impactado negativamente as atividades das indústrias da RMC (Diogo Zacarias)

Mercadorias no Terminal de Cargas de Viracopos: guerra na Ucrânia tem dificultado a importação de insumos, o que tem impactado negativamente as atividades das indústrias da RMC (Diogo Zacarias)

A invasão da Ucrânia pela Rússia — que completa hoje 28 dias — já impactou negativamente 33% das indústrias da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Gestores de outras 47% de indústrias da região acreditam que os impactos do conflito na Europa serão sentidos nas próximas semanas. A continuidade da guerra poderá resultar em crise ainda maior para o País e para a RMC.

Esses são os resultados — divulgados ontem — das pesquisas de Sondagem Industrial e de Comércio Exterior e Impactos na Indústria da Região de Campinas, realizadas junto a 40 indústrias pelo Centro das Indústrias de São Paulo - Regional Campinas (Ciesp-Campinas), no início deste mês.

Segundo a pesquisa, os parques industriais na RMC que mais sofreram prejuízos nesse período, inferior a um mês, são dos municípios de Paulínia e Sumaré.

O grau do impacto negativo do confronto Rússia e Ucrânia nos negócios foi considerado médio para 40% das indústrias e alto para 13%. Outras 13% das indústrias pesquisadas apontam efeitos leves, 7% nenhum impacto e as restantes não têm avaliação. Os setores mais afetados pelo conflito são de indústrias que dependem diretamente do trigo, petróleo, borracha, produtos químicos, farmacêuticos e insumos para o setor da agronomia, como adubos, fertilizantes e potássio.

O aumento dos preços dos combustíveis é outra preocupação para toda a cadeia da produção industrial, assim como a elevação dos preços dos fretes e dos custos com logística. Esta foi a primeira pesquisa realizada na indústria brasileira sobre os impactos da invasão do território ucraniano pela Rússia.

José Henrique Toledo Corrêa, diretor titular do CiespCampinas, destacou que ainda é cedo para avaliar os impactos, mas que, na sondagem, foi detectado que 33% das indústrias já foram afetadas.

"São empresas que dependem, principalmente, da oferta de trigo e fertilizantes. Muitas indústrias avaliam que os efeitos negativos serão percebidos durante as próximas semanas e até os próximos meses. Tem também a questão da logística e das restrições comerciais à Rússia, que poderão modificar muito a oferta de produtos em todo o comércio globalizado. Acredito que a situação vai ficar mais clara nos próximos dias. Os custos do frete, do petróleo, do trigo e de alguns insumos já estão começando a ser sentidos", comentou.

Segundo Toledo Corrêa, os reflexos do conflito Rússia e Ucrânia na indústria regional neste primeiro momento referem-se aos aumentos dos combustíveis e fretes internacionais e insumos para fertilizantes e o trigo no segmento de alimentação. "Se o conflito se prolongar e tomar outros rumos, que não desejamos, o quadro poderá mudar e impactar mais fortemente a indústria e outros setores", acrescentou.

A alta dos combustíveis deverá afetar toda a cadeia da indústria. "Quem depende do transporte rodoviário deverá ter aumento nos custos de transporte por conta disso. Na produção do setor da agronomia, a capacidade do biogás poderá ajudar como alternativa na substituição do diesel e reduzir prejuízos", sugeriu Toledo Corrêa. "As novas tecnologias devem também ajudar a baratear o custo de produção no setor do agro", explicou.

Setor agrícola deverá ser um dos mais afetados na região de Campinas, devido aos entraves na importação de insumos para fertilizantes provocados pela invasão da Ucrânia pela Rússia (Diogo Zacarias)

Setor agrícola deverá ser um dos mais afetados na região de Campinas, devido aos entraves na importação de insumos para fertilizantes provocados pela invasão da Ucrânia pela Rússia (Diogo Zacarias)

Logística preocupa

Anselmo Riso, diretor do departamento de Comércio Exterior do Ciesp-Campinas, explicou que na área de comércio exterior, as preocupações existem, principalmente com os contínuos aumentos nas tarifas dos fretes. Riso explicou que os principais produtos que são negociados no bloco Rússia-Ucrânia não representam muito para os negócios da região. As exportações entre janeiro e fevereiro de 2022 foram de US$ 1,885 milhão. "Isso representa apenas 0,35% do volume de exportação, referentes a alguns produtos químicos e derivados farmacêuticos", comentou.

Já no setor de importação existem alguns pontos preocupantes. "Importamos adubos, fertilizantes, materiais químicos, potássio e borracha. Nesse período do conflito, importamos US$ 17,6 milhões, o que representa 0,91% do volume de nossas importações na região", comentou Riso. "Temos dois municípios na região que são dependentes dessas importações, que são Sumaré e Paulínia, com adubos e fertilizantes", disse. "Caso o conflito se mantenha, o setor agrícola deverá ser um dos mais afetados na região, devido à importação de insumos para fertilizantes, como o potássio", acrescentou.

Riso destacou que, além da falta de insumos, a questão logística é preocupante para gerar aumento de preços no mercado. "Cerca de 50% dos fertilizantes chegam do bloco e outros 50% de outros países. A maior preocupação é com o aumento de preços. Não só pela crise, mas também pelo reflexo da indisponibilidade de navios e conteineres que vão aumentar os fretes internacionais", explicou.

O diretor de Comércio Exterior destacou que, até o momento, guerra não teve ainda influência no setor automotivo. "Semicondutores são adquiridos da China e da Coreia e, até o momento, não houve reflexo no comércio. Porém, isto poderá ter alguma alteração porque navios não poderão sair de alguns países. Isso poderá provocar desabastecimento. Além disso, a crise da covid-19 na China também poderá influenciar, afinal os navios estão parados. Isto poderá gerar uma crise muito grande pela falta de equipamentos, máquinas e aumento dos fretes", ponderou.

Indicadores da Sondagem

Em relação aos demais dados apresentados na Sondagem Industrial, referentes ao mês de fevereiro, Toledo Corrêa afirmou que os indicadores foram positivos e apontam para uma contínua recuperação da indústria regional. Segundo ele, houve aumento no volume de produção, estabilidade no número de funcionários, queda no nível de inadimplência das empresas e aumento da lucratividade.

Corrêa ressaltou fatos positivos para a indústria: 47% das empresas associadas registraram aumento no faturamento e 87% delas afirmaram que operam com capacidade instalada de produção entre 50% e 100%. Por outro lado, a pesquisa mostrou que os custos das matérias-primas, componentes e peças aumentaram 83%. Além disso, os custos de energia, água e transporte subiram 63%.

Balança Comercial Regional

Em relação aos números da Balança Comercial Regional, o valor exportado foi de US$ 263,6 milhões em fevereiro de 2022 — índice 40,5% maior que em fevereiro de 2021. Já as importações no mesmo mês foram de US$ 971,7 milhões, o que representa um volume 24,3% maior do que em fevereiro do ano passado. O saldo em fevereiro deste ano foi negativo em US$ 708 milhões — 19,2% maior do que o registrado em fevereiro de 2021.

A corrente de comércio exterior regional (que é a soma das exportações e importações) em fevereiro de 2022 foi de US$ 1,235 bilhão — marca 27,5% maior que no mesmo mês do ano passado.

Em fevereiro, os principais municípios exportadores da Regional Campinas do Ciesp foram, pela ordem: Campinas (26,9%), Paulínia (23,4%), Sumaré (13,1%), Mogi Guaçu (10,5%) e Santo Antônio de Posse (5,1%). Já os municípios que mais importaram foram: Paulínia (38,4%), Campinas (26,9%), Sumaré (9,9%), Jaguariúna (7,5%) e Hortolândia (7,3%). O percentual do município refere-se à sua participação em relação ao total da Regional no Balanço Mensal.

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