FREIO AO CRESCIMENTO

Indústria regional se queixa da elevada taxa de juros do país

Setor considera que atual patamar da Selic é um obstáculo ao avanço da economia

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
29/03/2023 às 08:35.
Atualizado em 29/03/2023 às 08:35
Além da alta taxa de juros, os executivos consultados pelo Ciesp Campinas também apontaram a “insegurança jurídica” como outro fator que dificulta a definição de novos investimentos por parte da indústria (Kamá Ribeiro)

Além da alta taxa de juros, os executivos consultados pelo Ciesp Campinas também apontaram a “insegurança jurídica” como outro fator que dificulta a definição de novos investimentos por parte da indústria (Kamá Ribeiro)

Os industriais apontam a taxa de juros elevada e a insegurança jurídica do país como as principais causas da desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas as riquezas produzidas, da região de Campinas. Em 2022, o crescimento do PIB regional foi de 2,8%, enquanto que em 2021 chegou a 6,8%, de acordo com levantamento realizado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). Essa queda se manteve no primeiro bimestre deste ano, o que levou 38% dos empresários a indicar como principal causa desse quadro a taxa de juros elevada, seguida por 33% que indicaram a insegurança jurídica. Os dados são da Sondagem Industrial Mensal divulgada na terça-feira (28) pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Campinas.

Segundo a pesquisa, 52% das empresas que participaram do levantamento registraram queda de faturamento em fevereiro, mesmo índice das que operaram com 0 a 70% da capacidade instalada. Além disso, 38% das indústrias informaram que não têm planos de investir na ampliação da produção nos próximos meses. Para completar, 14% revelaram que diminuíram o número de funcionários.

Para o diretor titular do Ciesp Campinas, José Henrique Toledo Corrêa, o resultado da sondagem mostra que as empresas estão temerosas quanto à revisão da reforma trabalhista defendida pelo atual governo federal. Ele também faz uma crítica, afirmando que os juros altos são resultados da falta de controle dos gastos públicos. Na semana passada, o Banco Central manteve a Selic, que é a taxa básica, em 13,75% ao ano. "Os juros não vão cair a fórcipes", disse Corrêa.

Ele cobra do governo federal a apresentação de um novo arcabouço fiscal que aponte medidas reais de controle do déficit público. "A Sondagem Industrial de março mostra um desempenho ainda tímido em relação ao ano passado. Tudo isso está relacionado à política econômica do governo federal, que ainda está tentando fazer seus acertos", considerou.

Reflexo

"Nós comungamos dessa mesma opinião", disse o diretor executivo de uma indústria de Campinas, Juan Carlos Neiva Ormachea. A fabricante de equipamentos industriais reduziu, desde o início da pandemia em 2019, em 18,25% o número de funcionários, que passou de 126 para os atuais 103. Também adiou, por tempo indeterminado, os planos de novos investimentos. "Infelizmente, não temos segurança de que esses investimentos se paguem", justificou o executivo.

De acordo com ele, a empresa tinha planos de aumentar em seis vezes as exportações, buscando novos mercados principalmente na Europa e África, para atingir um patamar no qual as vendas ao exterior representassem 30% do faturamento. Atualmente, elas têm participação de 5% e se restringem a negócios com o Mercosul, principalmente Paraguai e Argentina. Segundo Ormachea, a indústria de climatizadores evaporativos tem mantido o atual número de funcionários "a duras penas".

Para ele, uma mudança no atual quadro dependeria dos clientes sinalizarem capacidade para novas encomendas, o que não se mostra possível neste momento. Segundo Ormachea, a alteração nesse cenário passa pela definição da legislação trabalhista e de medidas macroeconômicas, como controle da inflação e dos gastos públicos, reforma tributária e queda dos juros que viabilizem novos investimentos.

Balança comercial

A região de Campinas fechou o primeiro bimestre do ano com aumento de 11,8% nas exportações em comparação ao mesmo período de 2022, o que ajudou a melhorar o resultado da balança comercial. Em janeiro e fevereiro, as exportações acumuladas foram de US$ 552,4 milhões (R$ 2,85 bilhões), contra US$ 494,1 (R$ 2,55 bilhões) dos dois primeiros meses do ano passado, de acordo com os dados do Panorama Regional de Comércio Exterior divulgados na terça-feira pelo Ciesp.

As importações no primeiro bimestre de 2023 somaram US$ 1,71 bilhão (R$ 8,82 bilhões), queda de 10,6% em comparação aos US$ 1,91 bilhão (R$ 9,85 bilhões) de janeiro a fevereiro do ano passado. O resultado provocou uma queda de 18,4% no déficit da balança comercial, explica o diretor de Comércio Exterior do Ciesp Campinas, Anselmo Félix Riso.

No primeiro bimestre, o saldo negativo foi de US$ 1,15 bilhão (R$ 5,93 bilhões), enquanto que nos dois primeiros dois meses de 2022 foi de US$ 1,42 bilhão (R$ 7,33 bilhões). De acordo com Riso, o déficit ocorre pelo fato das indústrias da região serem grandes importadoras de matérias-primas usadas na fabricação de seus produtos. "O comércio exterior na região de Campinas tem sido bastante forte, o que ajuda a manter a atividade econômica em alta", detalhou o diretor titular do Ciesp.

A queda no déficit da balança comercial ocorreu apesar das exportações em fevereiro terem caído. No mês passado, foram de US$ 235,4 milhões (R$ 1,21 bilhão), redução de 10,7% com comparação aos US$ 263,6 (R$ 1,36 bilhão) de fevereiro de 2022. Já as importações no mesmo mês apresentaram queda de 24,3%. Atingiram US$ 735,2 milhões (R$ 3,79 bilhões) este ano, enquanto em igual período de 2022 somaram US$ 971,7 milhões (R$ 5,01 bilhões).

De acordo com o levantamento do Ciesp, os Estados Unidos foram os maiores importadores das empresas da região, com o total de US$ 144,41 milhões (R$ 745,44 milhões) no primeiro bimestre, o equivalente a 26%. Em segundo lugar aparece a Argentina, com US$ 78,01 milhões (16%), e depois o México, US$ 34.95 milhões (8%).

Segundo o Panorama Regional de Comércio Exterior, os três segmentos mais exportados são máquinas, caldeiras, aparelhos mecânicos e suas partes; combustíveis, óleos e derivados minerais; e produtos plásticos e derivados. A China é a principal exportadora para as empresas da região, com o valor acumulado de US$ 510,64 milhões (R$ 2,63 bilhões), o que representou 30% do total em janeiro e fevereiro.

Os Estados Unidos ficaram com a vice-liderança, com US$ 243,22 milhões (14%|), e a Alemanha ficou em terceiro lugar, com US$ 120,09 (7%). Os itens mais importados pelas empresas da região são produtos químicos orgânicos; máquinas, aparelhos e materiais elétricos, aparelhos de gravação e reprodução, partes e acessórios; e produtos químicos diversos.

Rodada de Negócios

O Ciesp-Campinas realizará no próximo dia 19 de abril a Rodada de Negócios, com a expectativa de girar R$ 2 milhões em transações entre os participantes no prazo de até seis meses. Esse será o segundo evento presencial do gênero em Campinas após três anos de interrupção por causa da pandemia de covid-19. O primeiro foi em abril de 2022 e contou com a participação de 107 empresas, que realizaram cerca de 600 reuniões. A expectativa é que nova edição conte com 150 participantes.

A Rodada de Negócios, que é aberta para empresas associadas e não associadas ao Ciesp, é considerada uma grande oportunidade para as companhias ampliarem a rede de contatos e aumentarem os negócios. Para a entidade, o evento é eficiente ao proporcionar, em uma única tarde, que representantes de empresas tenham contato com dezenas de potenciais parceiros comerciais. O encontro será realizado em uma empresa no Loteamento Alphaville, em Campinas, das 13h às 18h.

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