editorial

Incitar invasão de hospitais é ato repugnante

Bolsonaro, de forma despropositada, colabora com a desordem, ignora o sofrimento e rejeita qualquer sentimento de compaixão

Correio Popular
16/06/2020 às 17:09.
Atualizado em 28/03/2022 às 23:03
Campinas registra mais 6 mortes (Carlos Bassan/PMC)

Campinas registra mais 6 mortes (Carlos Bassan/PMC)

No mesmo dia em que o Brasil se consolidava como o segundo país do mundo em número de mortes pela Covid-19, ultrapassando o Reino Unido, políticos, lideranças sociais, colunistas de boa parte dos veículos que praticam o jornalismo profissional, além de secretários de Saúde e profissionais engajados no enfrentamento da pandemia, se perguntavam, mais uma vez, se haverá limites para as manifestações inapropriadas do presidente da República. Atônito, esse grupo ainda digeria a declaração de Jair Bolsonaro, endereçada a seus seguidores, incentivando-os a, se puderem, invadir hospitais. Na última quinta-feira, em mais um gesto de desprezo à dor alheia, Bolsonaro usou uma live em sua rede social para incitar a população. “Tem hospitais de campanha perto de você, tem um hospital público, né? Arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente vem fazendo isso, mas mais gente tem que fazer para mostrar se os leitos estão ocupados, ou não. Se os gastos são compatíveis, ou não. Isso nos ajuda. Tudo o que chega para mim nas mídias sociais, fazemos um filtro e encaminho para a PF ou para a Abin, e lá eles veem o que fazem com os dados. Não posso prevaricar. O que chega ao meu conhecimento, passo para frente para diligência deles para análise e processo investigatório, ou não”, estimulava a mais alta autoridade do País. Só para lembrar, desde que a pandemia atingiu o Brasil, dizimando vidas e sufocando as redes de suporte público e privado, nenhuma palavra de conforto ou compaixão saiu da boca do presidente. Ao contrário, apenas impropérios, bravatas e a ladainha do negacionismo. Em Campinas, tanto o prefeito Jonas Donizette quanto o secretário de Saúde, Carmino de Souza, reagiram: “Presidente, estamos em uma pandemia, com mais de 41 mil brasileiros mortos, 800 mil infectados. O senhor tem mesmo dúvidas de que os hospitais estão abarrotados ou é apenas jogo de cena e mais uma cortina de fumaça?”, cutucou. “Espero que as pessoas tenham bom senso e não atendam o presidente”, completou o secretário. O desejo de Carmino não ocorreu. Apoiadores aprovaram rapidamente a sugestão de Bolsonaro, endossando que haveria desperdício de recursos e catastrofismo. Em pelo menos um episódio, a sandice se consumou: um hospital no Rio foi invadido na noite da última sexta-feira e depredadado. O grupo ligado a um parente morto por Covid-19 queria saber se haveria leitos vazios na unidade. Ao invés de estimular uma guerrilha virtual, disposta até a consumar atos bárbaros, o presidente deveria se colocar na pele de quem está no front do tratamento da doença. Por que não visitar um hospital, pessoalmente?

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por