Mortes de Pelé e Roberto Dinamite e o caso da cantora Preta Gil chamaram a atenção para a incidência da doença
André Sasse: câncer colorretal é uma doença de regiões desenvolvidas (Divulgação)
A revelação feita pela cantora e empresária Preta Gil nas redes sociais no início desta semana de que foi diagnosticada com câncer colorretal (intestino), além de sensibilizar fãs e personalidades, alerta sobre a incidência da doença no País. Estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indica o surgimento de 44 mil novos casos no Brasil, sendo 70% concentrados nas regiões Sudeste e Sul.
Segundo especialistas consultados pelo Correio Popular, com exceção do câncer de pele não melanoma, o colorretal é o terceiro tipo com maior incidência na região de Campinas, perdendo apenas para o câncer de mama (mulheres), seguido pelo de próstata (homens). O Centro de Oncologia Campinas (COC) também alerta sobre a importância da prevenção e do combate ao câncer de colorretal.
Esse tipo de câncer, que acomete o intestino grosso e reto e que vitimou os jogadores Pelé e Roberto Dinamite, é responsável por 10% de todos os tumores do mundo. É o segundo mais comum nos homens e o segundo entre as mulheres e causa 900 mil mortes anuais no mundo, atrás apenas do câncer de pulmão, segundo dados do COC., o Inca prevê para os próximos três anos o crescimento da incidência de novos casos de câncer de cólon e reto, da ordem de 10,19% em homens e de 12,64% em mulheres.
Segundo o médico oncologista, Fernando Medina, em 2020, só no COC foram diagnosticados 55 casos de câncer colorretal, número que subiu para 64 em 2021 (alta de 16,3%) e depois para 79 no ano passado (aumento de 23,5%). Em média, o Centro especializado realiza 1.200 diagnósticos positivos para câncer, mas no ano passado, como efeito da pandemia, foram 2,2 mil diagnósticos da doença de forma geral.
Para o cirurgião oncológico Rubens Kesley, coordenador do Grupo de Câncer Colorretal do Inca, países desenvolvidos, como os Estados Unidos, tendem a apresentar maior número de novos casos desse tipo de câncer a cada ano. Entre os norte-americanos, que têm população em torno de 300 milhões de habitantes, a estimativa é de surgimento de 150 mil novos casos anuais. Como o Brasil está melhorando, progressivamente, sua condição socioeconômica, a perspectiva é de expansão de casos. "Há aumento vertiginoso. É uma curva acentuada. É uma doença muito prevalente", disse o Kesley. Ele lembrou que há cinco anos, o Brasil apresentava 25 mil casos novos/ano de câncer colorretal, e a expectativa para o próximo quinquênio é atingir 80 mil casos/ano. "De uma maneira mais simples: hoje, são 44 mil e aumentando. E vai subir bastante a incidência", finalizou.
Para o oncologista e coordenador do Departamento de Cancerologia da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), André Sasse, o Estado de São Paulo e a região de Campinas são mais desenvolvidos e seus habitantes possuem uma vida "diferente" dos habitantes de cidades localizadas no Interior do País, com registro de sedentarismo, obesidade e estilo de alimentação mais industrializado. "Além disso, aqui temos mais capacidade de fazer diagnóstico. O acesso à colonoscopia (exame que ajuda a detectar a doença) e o acesso às tecnologias diagnósticas são maiores aqui", enfatizou Sasse, o que contribui para um maior número de diagnóstico. "O fundamental é entender que o câncer colorretal é uma doença de regiões 'desenvolvidas' e isso está associado, principalmente, ao estilo de vida", disse Sasse, que também CEO do Grupo SOnHE, de Campinas.
Segundo ele, a faixa etária mais preocupante para câncer de colo e reto é a partir dos 50 anos e o pico de incidência ocorre mais ou menos a partir dos 60 anos. "Por isso, estratégias de rastreamento recomendam que a partir dos 50 anos se comece a fazer exames, como colonoscopia, pesquisa de sangue oculto nas fezes etc. O que não quer dizer que pessoas mais jovens não possam ter a doença. Especialmente em locais onde a vida urbana prevalece", acrescentou.
Exame
Em todo o mundo, a colonoscopia foi o método considerado mais eficiente para a prevenção do câncer colorretal. Isso se explica porque o câncer do intestino não começa grande, mas, às vezes, como um pólipo. O prazo para refazer o exame de colonoscopia vai depender se houver pólipo. Se o paciente faz a colonoscopia e está tudo normal, ele pode repetir o exame a cada cinco anos. Se tiver pólipo de um tipo específico (adenoma), que é precursor do câncer colorretal, o paciente deve repetir a colonoscopia no ano seguinte. O prazo para renovação do exame se estende, portanto, de um a cinco anos. (Com Agência Brasil)