Abril foi 4˚ mês seguido de quebra da marca, superando o número de 1,193 mi de devedores registrado em março
As dívidas do cartão de crédito estão entre as que mais afetam os consumidores, cujo orçamento já não consegue mais saldar todos os compromissos do mês (Rodrigo Zanotto)
A alta dos juros levou a um aumento no número de inadimplentes na Região Metropolitana de Campinas (RMC), inferior apenas ao impacto causado pelo início da pandemia de covid-19, que afetou fortemente a economia e causou uma onda de demissões. O total de devedores cadastrados na Serasa teve alta de 5,93% no primeiro quadrimestre de 2025, ao atingir o número recorde de 1,205 milhão de pessoas em abril. Foi o quarto mês seguido de quebra da marca, superando o 1,193 milhão de março.
Nos quatro primeiros meses do ano, 67.526 novos nomes foram incluídos nos registros da empresa de análise de crédito, número superior a toda população de uma cidade do porte de Monte Mor - 64.662, de acordo com o Censo 2022. A Grande Campinas fechou 2024 com 1,138 milhão de cadastrados. O crescimento proporcional em 2025 é inferior apenas aos 6,04% registrados entre janeiro e abril de 2020, quando a Grande Campinas teve a inclusão de 59.271 nomes. Na época, o total chegou a 1,039 milhão de devedores.
De acordo com os dados da Serasa, 19 cidades da Região Metropolitana de Campinas tiveram alta no número de inadimplentes em abril. A exceção foi Jaguariúna, onde o total de devedores caiu de 20.449 em março para 17.783 em abril, queda de 13,04%. Em Campinas, a alta foi de 1,02%, onde os inscritos na lista da empresa de análise de crédito passou de 470.309 para 475.106. Em comparação a abril de 2024, os inadimplentes na RMC tiveram aumento de 7,06%. Em igual mês do ano passado, o número era de 1,126 milhão.
Entre maio de 2024 e abril deste ano, 79.553 novos nomes foram incluídos, média de 201 por dia. A Serasa apontou também aumento de 20,44% no montante das contas em atraso. O valor passou de R$ 7,19 bilhões para o novo valor recorde de R$ 8,66 bilhões. Em comparação a março passado, quando o montante era de R$ 8,34 bilhões, recorde anterior, o montante teve elevação de 3,84%.
Na Região Metropolitana, Valinhos segue na liderança com o maior tíquete médio de dívidas por inadimplente, R$ 8,2 mil. Depois aparece Holambra, com R$ 8 mil, e Americana, R$ 7,9 mil. Em Campinas, de acordo com os dados da Serasa, o tíquete médio ficou em R$ 7,2 mil. Holambra teve o maior valor médio de dívida, com R$ 2,3 mil. Depois aparece Vinhedo R$ 1,99 mil), Valinhos (R$ 1,93 mil), Americana (R$ 1,9 mil) e Jaguariúna (R$ 1,89 mil). Campinas fechou abril com o valor médio de conta atrasada de R$ 1,5 mil.
"Quando a taxa de juros sobe, as parcelas tendem a aumentar e muitos brasileiros podem ter dificuldades em manter seus pagamentos em dia. Isso leva a um aumento da inadimplência, dificultando ainda mais o acesso ao crédito e comprometendo a recuperação econômica das famílias", afirmou o economista e educador financeiro Fernando Borges. No começo de janeiro, a Selic, a taxa básica de juros, era de 12,25%, e chegou a 14,75% no mês passado, a mais alta em 19 anos. Desde setembro de 2024, o Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central promoveu seis aumentos seguidos, o que reflete na elevação dos financiamentos oferecidos aos consumidores.
COMO AFETA
Os bancos, cartões de crédito e financeiras, setores que refletem rapidamente a variação dos juros, têm a maior participação entre as dívidas, de acordo com o Mapa da Inadimplência da Serasa. Em abril, esses setores responderam juntos por 47,45% dos cadastros de devedores na Serasa. Os bancos e cartões de crédito representaram 28,14% dos registros, enquanto as financeiras, 19,31%. As contas de água, luz e gás - a chamadas utilities - ficaram em 20,8%, enquanto os serviços somaram 11,63%.
A pesquisa de taxa de juros praticadas pelo mercado elaborada pelo Banco Central apontaram que no final do mês passado as operadoras de cartão de crédito trabalham com taxa anual entre 42,71% e 994,34%. Já os do cheque especial para pessoa física foram de 12,20% a 297,38%. "Hoje em dia quem está ganhando bem? No mundo corporativo, somente se a pessoa trabalhar 14 horas por dia e levar o notebook e o celular da empresa para casa", afirmou o editor de fotografias e vídeo Luciano Seravale. Trabalhador autônomo, ele admitiu já ter o nome incluído na lista da Serasa por dívidas com cartão de crédito. "As únicas contas que não atraso de jeito nenhum são a pensão da minha filha, água e luz. As outras, vamos dando um jeito", disse. Ele atua como prestador serviço há 10 anos e até tentou voltar a trabalhar com carteira registrada no início da pandemia, mas não conseguiu e continuou como microempreendedor individual. "Como MEI, não entra dinheiro todo dia", explicou Luciano Seravale. Diante da falta de fluxo rotineiro de recurso, o pagamento das contas fica sujeito ao saldo da conta bancária.
PLANEJAMENTO
"Se conseguir evitar entrar em dívida, pode ser a melhor escolha. Mas, se precisar fazer um acordo, é preciso organizar as finanças. Principalmente porque a maioria dos acordos não cumpridos acontece porque o consumidor compromete o dinheiro que serviria para pagar contas básicas", afirmou o educador financeiro. Para Eduardo Borges, as melhores formas para organizar as finanças passam por fazer um diagnóstico da situação financeira, priorizar o pagamento das dívidas com as maiores taxas de juros, criar um orçamento mensal, evitar o uso excessivo do cartão de crédito e também evitar fazer novos empréstimos.
"É preciso fazer a conta. Colocar no papel o quanto você ganha, qual a sua renda disponível e fazer uma projeção de outras despesas. Se a taxa de juros é variável no seu contrato de crédito, isso pode aumentar o custo do que você paga", explicou o economista. "Se houve alguma perda na renda, esse também pode ser um bom momento para ir ao banco, explicar a situação e buscar formas de honrar seu compromisso", completou.
No caso do cartão de crédito, a sugestão é anotar todos os gastos, porque o pagamento somente será após um prazo. Esse controle evitará surpresas desagradáveis quando a fatura chegar. "Ter esse controle é muito importante para que não se tenha que buscar crédito ou fazer uma nova dívida", disse Fernando Borges.
Segundo a Serasa, as mulheres representaram em abril 50,3% dos inadimplentes, enquanto os homens, 49,7%. A maioria dos devedores, 69,1% do total, tem idade entre 26 e 60 anos. Os acima de 60 anos somaram 18,9%, enquanto os devedores até 25 anos, 11,7%. No Brasil, a média de inadimplência foi de 47,1% da população. No Estado de São Paulo, a taxa é mais alta, 50,3%. O Amapá é a unidade da federação com a maior proporção de moradores com contas atrasadas, 62,24%, seguida pelo Distrito Federal (60,45%), Rio de Janeiro (56,3%), Mato Grosso do Sul (54,6%) e Amazonas (54,21%).
A pesquisa da Serasa apontou ainda que foram fechados 3,68 milhões de acordos de renegociação de dívidas em abril, envolvendo 2,11 milhões de consumidores. O total de descontos concedidos, acrescentou, foi de R$ 10,56 bilhões, representando até 80% das dívidas. O valor médio dos acordos feitos no Serasa Limpa Nome foi de R$ 790. O total de renegociações teve aumento de 9,09% com comparação aos 3,3 milhões de igual mês de 2024.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.