Segundo a Serasa, houve queda de 0,15% em maio na comparação com abril
Segundo a pesquisa mensal da Serasa, 69% das dívidas com instituições financeiras estão relacionadas com cartões de crédito, 56% com empréstimos e 31% a cheque especial (Rodrigo Zanotto)
Campinas teve em maio a primeira queda no número de inadimplentes em cinco meses, indo na contramão da Região Metropolitana (RMC), que bateu recorde pelo quinto mês seguido, com aumento de 0,17% O balanço mensal da Serasa apontou que o total de pessoas com dívidas em atraso na cidade foi de 474.388, queda de 0,15% em relação a abril, quando foi de 475.106. A última redução anterior havia ocorrido em dezembro, quando os devedores somavam 453.038, queda de 0,86% em comparação aos 456.981 de novembro.
De acordo com a empresa de análise de crédito, há 2,23 milhões de dívidas em atraso em Campinas, com a média sendo de 4,72 contas por inadimplente. O valor médio dos débitos é R$ 1.555,32. Apesar da ligeira queda no número de devedores, houve alta de 1,04% no montante dos débitos, que passou de R$ 3,447 bilhões para R$ 3,483 bilhões em Campinas. "A gente tem que se virar como pode. Paga uma conta, deixa duas em atraso", afirmou a pensionista do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) Antônia Vanilde Pedro. Ela recebe um salário mínimo por mês - R$ 1.404,15 líquidos -, com as despesas fixas da casa somando R$ 1,1 mil, ou seja, consomem 78,33% de todo o ganho. Sobram pouco mais de R$ 300 para todas as outras despesas, entre elas alimentação, saúde e transporte.
Neste mês, ele recorreu a um empréstimo consignado para pagar o aluguel da casa, onde mora com uma filha, que está desempregada, e o neto. "Foi para garantir pelo menos um teto sobre a cabeça. Se não pagar o aluguel, colocam a gente para correr", afirmou Antônia. As principais dívidas dela são com as contas de água e luz. "Sempre estão atrasadas, Não deixo acumular muito para não cortarem", afirmou a pensionista. "Se minha filha não conseguir um emprego logo vai ficar difícil", disse. Jennifer Vitória Pedro trabalhou como operadora de caixa até o mês passado. A rescisão trabalhista que receberá e o segurodesemprego são, no momento, a ajuda financeira que pode dar para a mãe.
REGIÃO
Além de Campinas, outras sete cidades da RMC tiveram queda no número de inadimplentes em maio. Proporcionalmente, Holambra apresentou a maior redução (-1,28%), seguida por Artur Nogueira (-0,78%), Santa Bárbara d´Oeste (-0,37%), Valinhos (-0,28%), Itatiba (-0,27%), Paulínia (-0,23%) e Monte Mor (-0,16%). Porém, a Região Metropolitana chegou a 1,207 milhão de consumidores cadastrados na lista de devedores da Serasa em maio, alta de 0,17% na comparação com os 1,205 milhão do mês anterior. De acordo com a empresa, os bancos e cartões de crédito seguem na liderança da inadimplência, com participação de 27,85% do total, com as contas básicas de água, luz e gás, as chamadas utilities, aparecendo em segundo lugar (20,17%), vindo depois as financeiras (19,38%) e serviços (11,94%).
O aposentado José Leme dos Santos é um dos 65 milhões de consumidores no país com dívidas com instituições financeiras em todo o país. "Estou renegociando um empréstimo atrasado com o banco", afirmou. O caminhoneiro se aposentou há 8 anos, com o benefício do INSS sendo a única fonte de renda. "Dá para tocar a vida, mas com dificuldade", disse. Ele espera conseguir um desconto nos juros por atraso nas parcelas do financiamento para fazer o valor se encaixar no orçamento doméstico e voltar a colocar a vida financeira em dia.
Segundo a pesquisa mensal da Serasa, 69% das dívidas com instituições financeiras estão relacionadas com cartões de crédito fornecidos pelos bancos, 56% com empréstimos e 31% a cheque especial. Outros 15% estão divididos em partes iguais entre financiamento de imóvel, financiamento de carro e outros motivos. Isso significa que muitos clientes têm mais de uma dívida com os bancos.
RENEGOCIAÇÃO
"Nossas pesquisas revelam que 38% dos brasileiros com dívidas em bancos e financeiras estão negativados por causa do cartão de crédito há mais de dois anos, sendo que 46% deles já tentaram negociar a dívida, mas não conseguiram um bom acordo", afirmou Aline Maciel, especialista em educação financeira da Serasa. No mês passado, a empresa e 40 bancos se uniram para ampliar o alcance das condições especiais e oferecer melhores oportunidades de renegociação.
Segundo ela, as instituições financeiras ofereceram desconto de até 97% da dívida, com pelo menos 11 milhões de devedores tendo a oportunidade de quitar suas dívidas com até R$ 100. De acordo com pesquisa do Banco Central, os juros cobrados no crédito rotativo do cartão de crédito são os maiores cobrados no país, chegando a 993,78% ao ano para pessoa física no final de junho, último levantamento disponível. No caso de crédito pessoal não-consignado a taxa foi 910%, enquanto a do cheque especial chegou aos 297,38 ao ano.
"Por isso, o consumidor deve priorizar o pagamento das dívidas com os bancos, porque são os maiores juros cobrados. Pagar o mínimo ou atrasar a fatura é o pior negócio, pois é o pontapé para uma dívida que se torna uma bola de neve", afirmou o economista Fábio Bentes. De acordo com a Serasa, as principais justificativas para as dívidas com os bancos/cartão de crédito são a perda de renda e desemprego, seguidas pelo surgimento de despesas inesperadas, como com saúde ou acidente e a desorganização financeira.
Os motivos foram levantados a partir de um levantamento feito pela empresa com 921 pessoas com dívidas com bancos. O recorte da pesquisa mostrou que o cartão de crédito é uma dificuldade nacional, mencionado por 69% dos entrevistados. Em seguida, aparecem os empréstimos pessoais (56%) e o uso do cheque especial ou limite da conta corrente (31%). De acordo com o levantamento, 46% dos entrevistados revelaram que já tentaram negociar diretamente com o banco, mas não conseguiram.
PERFIL
Para evitar surpresas desagradáveis, a auxiliar de limpeza Rosilda Cleófas evita as compras a prazo e mantém controle rígido sobre os gastos. "A situação é difícil com que eu ganho, mas se tiver um pouco de sabedoria, dá para equilibrar. Eu somente faço dívidas que tenho certeza que vou conseguir pagar", disse. Ela evita excessos e praticamente gasta com as despesas consideradas essenciais.
De acordo com a Serasa, o valor médio das dívidas em atraso na Região Metropolitana foi de R$ 1.747,23 em maio. O maior tíquete foi em Vinhedo, onde o valor chegou a R$ 1.986,17, enquanto o menor é o de Santo Antônio de Posse, R$ 1.368,26. Fora Campinas, a cidade com o maior número de inadimplentes é Sumaré, com 536.424, seguida por Hortolândia (432.939), Americana (344.113) e Santa Bárbara d´Oeste (252.120). Quanto ao valor total das dívidas, a vice-liderança regional também foi de Sumaré (R$ 7821,81 milhões), com a terceira colocação ficando com Hortolândia (R$ 679,44 milhões). Depois apareceram Americana (R$ 652,16 milhões) e Indaiatuba (R$ 647,09 milhões).
Já Valinhos teve o maior valor médio de dívida por inadimplente R$ 8.450,01. Depois apareceram Holambra (R$ 8.023,72), Americana (R$ 8.008,86), Nova Odessa (R$ 7.955,58) e Indaiatuba (R$ 7.762,33). Em Campinas, o valor em maio foi de R$ 7.343. Essas cidades apareceram com dívida média por consumidor brasileiro chegou a R$ 6.036,94, o equivalente a quatro salários mínimos.
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