campinas, 246 anos

Imprensa fiscal e combativa

Diário de Campinas deu voz à população e cobrou ações das autoridades

Francisco Lima Neto
14/07/2020 às 11:45.
Atualizado em 28/03/2022 às 20:17
Capa da época do Diário de Campinas: preocupação em informar e alertar a população sobre os cuidados (Reprodução)

Capa da época do Diário de Campinas: preocupação em informar e alertar a população sobre os cuidados (Reprodução)

A atuação da imprensa campineira, em especial a do jornal Diário de Campinas, foi bastante combativa, no sentido de cobrar medidas assertivas das autoridades competentes, dar um norte durante aquele momento de dúvidas e ainda de chamar atenção da população para que fizesse a parte que lhe cabia. Logo no dia 3 de janeiro de 1889, antes da primeira epidemia de febre amarela, o Diário de Campinas publicou um artigo, assinado por J. Pinheiro de Ulhoa, com o título “Prevenção”. O texto começava informando que estava sendo publicado com muita antecedência, mas que seria melhor “prevenir com o tempo do que agir na ocasião”. Dizia que o lixo visível em toda parte e a matéria orgânica em putrefação, infiltravam no solo e se misturavam com as águas dos poços ou com as pluviais. E que essa água e a fermentação do lixo faziam aparecer várias moléstias. O artigo dizia que a Companhia de Águas e Esgotos deveria começar o trabalho para dispor e enterrar sua rede de tubos. Contudo, o alerta foi ignorado. Em fevereiro, outra publicação, intitulada “A Saúde pública”. Nele, fica notório que a cidade era imunda, sem sistema de esgoto, que não havia higiene nas residências, e que os moradores de todas as classes sociais jogavam água suja nas ruas, além da imensa quantidade de lixo descartada no Jardim Carlos Gomes. “Não fossem essas causas acumuladas, gozaria Campinas de melhor reputação quanto à higiene pública”, trazia trecho do texto, reforçando que essa era a causa de muitas mortes. Já no começo de março, o jornal informava que casos de febre amarela pipocavam na cidade, fechando o comércio e levando muitas pessoas a irem embora. Demonstrando que as medidas tomadas pela Administração não eram suficientes. O jornal ainda mostrava de que forma a febre amarela afetava as famílias, que muitas vezes tinham todos os seus membros acometidos ou mortos. A situação era desoladora. A Câmara ficou sem funcionar desde o começo de março até o final de abril por falta de quórum. A maioria dos vereadores fugiu. A certa altura, o jornalista Antônio Duarte de Moraes Sarmento, proprietário do Diário de Campinas, foi acometido pela febre amarela e decidiu se tratar em Jundiaí. Seu irmão, Alberto Sarmento, e o jornalista Heitor Barboza, ficaram na direção e mantiveram a circulação. O Grêmio Tipográfico, hoje sindicato, pediu à direção do periódico, que combinasse com os concorrentes a suspensão da circulação enquanto durasse a epidemia. A direção do jornal informou que partilhava da aflição de todos e que jamais abandonaria suas funções egoisticamente e que a suspensão dos jornais naquela ocasião seria uma calamidade. Dever O Diário de Campinas afirmava que nunca a imprensa tinha sido tão necessária quanto naqueles dias e que tinha um dever a cumprir. “O interesse de uma população inteira exige de nós o cumprimento de nossos deveres e nós não sabemos fugir à nossa missão, ainda que com sacrifícios. Terminando diremos que só suspenderemos a publicação de nossa folha quando os nossos empregados nos abandonarem, o que não o cremos, ou quando os motivos de força maior a isso nos obriguem. Do contrário, continuaremos firmes no nosso posto, não entrando em acordo com os nossos colegas locais”, trazia trecho da resposta enviada ao órgão que se tornaria sindicato. A circulação permanente foi de suma importância para a Administração Pública no seu enfrentamento e na debelação da febre amarela. Isso fortaleceu a luta travada por José Paulino Nogueira, que era o que hoje é conhecido como prefeito, e seus companheiros na luta pela sobrevivência de Campinas. Os outros veículos interromperam as atividades naquele período de desespero. O jornal só não saía às segundas-feiras, mas ainda assim, ao longo de todos aqueles anos, o Diário de Campinas não apenas documentou aquele período sombrio da história, como ajudou os governantes propondo soluções para os problemas, mostrando o que estava errado e cobrando os políticos. O jornal retratava o cansaço dos médicos - que visitavam diariamente de 70 a 100 enfermos, publicava quem eram os mortos e a sua quantidade. Cobrava medidas dos governantes, puxava a orelha da população com relação à sujeira e falta de higiene e sensibilizava os capitalistas sobre a importância da solidariedade para a reconstrução da cidade. Além de tudo isso, o jornal ainda dava voz ao povo para que cobrasse os administradores e mostrasse tudo o que estava sendo negligenciado pelas autoridades.

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