Foi o funcionário mais longevo do Correio Popular, onde trabalhou por 64 anos
Boscolo começou a trabalhar aos 17 anos como gráfico no Correio Popular na época do linotipo, o ‘chumbão’ (Pesquisa William Ferreira)
Antonio João Boscolo, símbolo do jornal impresso em Campinas, foi sepultado na tarde de sexta-feira (10), no Cemitério da Saudade. Amigos, familiares e diretores do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Gráfica de Campinas, do qual ele era tesoureiro, se despediram dele, que faleceu de causas naturais aos 82 anos. Boscolo era o funcionário mais longevo do Correio Popular, onde trabalhou por 64 anos.
Ele começou a atuar no jornal aos 17 anos de idade, como gráfico, na época do linotipo, o “chumbão”, como é romanticamente chamado, na época que a empresa ficava na Rua Conceição, no Centro. Ele passou por diversas funções e a última foi a de responsável pelo Centro de Documentação (Cedoc), que ocupou até o falecimento. Essa vivência lhe trouxe muita experiência, que gostava de compartilhar com os companheiros de trabalho e amigos. Grande contador de casos, torcedor apaixonado pela Ponte Preta, era uma pessoa de conversa fácil, que poderia se estender por um longo período.
“Boscolo era o tipo da pessoa com quem você tinha que puxar a cadeira para conversar, porque o assunto sempre rendia muito. Foi uma espécie de tutor dos jornalistas que, a todo instante, precisavam de dados suplementares para as suas matérias”, relembra o diretor editorial do Correio Popular, Manuel Alves Filho. “Foi um grande lutador pelos direitos do trabalhador gráfico, muito dedicado, uma pessoa que todo mundo gostava”, afirma o presidente do Sindicato dos Gráficos, José Benedito Teixeira, o “Mococa”.
Os dois começaram a participar juntos da entidade, por volta de 1978. Boscolo ocupava há 41 anos o cargo de diretor tesoureiro. Ele foi encontrado morto em casa no final da tarde de quinta-feira, dia 9. Mococa lembra que há dois dias o amigo reclamava de alguns distúrbios de saúde, como pressão baixa, mas se recusou ir a um hospital.
Na quinta-feira, o presidente do sindicato ficou de levar Boscolo até o banco, mas não conseguiu contato por telefone. Então, foi até a residência, que estava com a porta fechada a ninguém atendeu a campainha. Ele chamou a polícia, entraram na casa e encontraram o tesoureiro sem vida. Boscolo deixa a esposa, Avanir, de 80 anos, que se encontra acamada. O casal não tinha filhos.
Ao longo da vida, Boscolo viu a transformação do jornal, do chumbão ao digital, sendo uma referência da história do Correio Popular. Em 2017, ele trabalho na pesquisa, ao lado do historiador Jorge Alves de Lima, que resultou no livro “História pelas Capas — Correio Popular 90 anos”, que marcou o nonagésimo aniversário do jornal. A publicação trouxe capas que retrataram fatos históricos de Campinas, entre eles o desabamento do teto do Cine Rink, queda de um avião no Aeroporto Internacional de Viracopos e a conquista da primeira Copa do Mundo pela Seleção Brasileira, em 1958. “Ele foi gráfico, encarregado da digitação, do Cedoc. Conhecia o jornal como ninguém”, recorda Mococa.