ECONOMIA

Importação da China tem queda de 12% na região

Observatório PUC-Campinas credita redução ao surto de coronavírus, que impulsiona a exportação de medicamentos

Francisco Lima Neto
22/02/2020 às 09:29.
Atualizado em 29/03/2022 às 20:56

A importação de produtos fabricados na China, principal fornecedora da indústria regional, teve queda superior a 12% em janeiro deste ano. O motivo desse cenário pode ser o surto do novo coronavírus que aquele país enfrenta e que causa preocupação em todo o mundo, segundo relatório do Observatório PUC-Campinas. Contudo, possivelmente em razão da apreensão gerada pela doença, houve aumento na exportação de medicamentos à China no período. O economista Paulo Oliveira, responsável pelo estudo, ressalta que ainda é cedo para avaliar os impactos do novo coronavírus nas transações comerciais com a China. Porém, ele reitera que os insumos vindos da China são fundamentais para produção regional. “Do lado da importação, o país é o principal parceiro comercial, respondendo por cerca de 23% dos produtos importados, sobretudo telefones, circuitos integrados, acessórios de máquinas de escritório e componentes químicos. Se a atividade industrial chinesa se retrair, rompendo as cadeias de fornecimento, nossas empresas podem ficar desabastecidas”, destaca. Se comparado a janeiro de 2019, o volume de importações em produtos de telefonia, compostos químicos e circuitos eletrônicos sofreu redução este ano. Apenas os insumos ligados a acessórios de máquinas de escritório apresentaram crescimento no valor importado. Já nas exportações, a venda de medicamentos à China foi destaque na pauta, apresentando aumento exponencial em relação ao ano passado. Foram quase U$ 3 milhões em números absolutos. Balança comercial No geral, considerando as trocas comerciais envolvendo outros países, os números também são pouco animadores: apesar da leve diminuição no déficit comercial, este foi o terceiro pior desempenho na década para o mês de janeiro. Houve redução de 13,5% nas exportações e de 3,75% nas importações na comparação com o mesmo período de 2019. As diminuições na pauta de exportação estiveram ligadas especialmente aos produtos de média/alta complexidade, como peças de carros, papel revestido e automóveis, e também os de média complexidades, como compostos químicos e pneus. O resultado não foi pior graças ao crescimento na exportação de agroquímicos. Nas importações, as quedas foram observadas em maior proporção na categoria de média/alta complexidade, que engloba produtos e insumos de telefonia, circuitos integrados e compostos heterocíclicos de nitrogênio. Em contrapartida, houve aumento nas compras externas de partes e acessórios de máquinas de escritório, inseticidas, fungicidas, herbicidas e misturas de fertilizantes. “Feita a análise, podemos verificar que 2020 começa com sinal de queda na atividade econômica da indústria química, de telefonia e de eletrônicos. Por outro lado, é possível observar melhor dinâmica na agricultura e um tímido crescimento na indústria automobilística”, afirma Paulo. RMC Nove em cada dez indústrias da região de Campinas esperam sofrer algum impacto econômico devido à disseminação do novo coronavírus - ou Covid-19, como foi recentemente rebatizada a doença - na China. De acordo com dados divulgados nesta semana pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Campinas, a preocupação é com a alta do dólar e, consequentemente, elevação dos custos de produção. É considerado também um provável desabastecimento de matéria prima e insumos importados do China, que já teve sua produção industrial comprometida pela doença. Diretor da entidade, José Nunes Filho, comentou que alguns setores importantes da indústria local, como eletroeletrônico, automotivo e máquinas e equipamentos, importam mais de 80% de seus insumos e componentes da China. Os reflexos já foram sentidos. Aproximadamente 2,2 mil trabalhadores da Flextronics - cerca de 80% do quadro de funcionários -, instalada em Jaguariúna, pararam no início da semana e retornam somente no próximo dia 26. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, na semana passada, cerca de 2,5 mil trabalhadores da Samsung, em Campinas, pararam por três dias. Ficou acordado em assembleia, que dois deles serão repostos futuramente. Para o diretor de comércio exterior do Ciesp-Campinas, Anselmo Riso, caso a situação não mude rapidamente na China, os impactos serão sentidos em muitos outros setores. Nunes analisa que o segundo impacto deve ser o aumento no preço das matérias primas.

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