CONFUSÃO

Impasse marca a retomada do hospital Metropolitano

Prefeitura cumpre decreto que requisita o Metropolitano e atuais donos devem contestar na Justiça

Guilherme Ferraz/ Correio Popular
03/03/2021 às 13:43.
Atualizado em 21/03/2022 às 23:35
Funcionários do Hospital Metropolitano se concentram na entrada do prédio, após serem impedidos por guardas municipais de entrar no local para trabalhar na manhã de ontem (Kamá Ribeiro/ Correio Popular )

Funcionários do Hospital Metropolitano se concentram na entrada do prédio, após serem impedidos por guardas municipais de entrar no local para trabalhar na manhã de ontem (Kamá Ribeiro/ Correio Popular )

Com o aumento dos casos de contaminação e mortes por coronavírus, a Prefeitura de Campinas decidiu ontem retomar o uso do Hospital Metropolitano, localizado na Avenida das Amoreiras, próximo ao Hospital Mário Gatti. Um decreto publicado no Diário Oficial do Município determinou a requisição administrativa da unidade hospitalar privada. A medida é um procedimento rigoroso permitido em lei e adotado em casos de iminente perigo público. Com a elevação da taxa de ocupação de leitos de UTI na cidade que chegou a 90,69% nas redes pública e particular, a Prefeitura considerou estado de emergência e calamidade pública na última segunda-feira.

Por volta das 7h da manhã de ontem, representantes da Rede Mário Gatti, responsável pela administração dos hospitais municipais, chegaram ao Hospital Metropolitano com o decreto publicado no Diário Oficial para tomar posse da unidade. Embora autorizada em lei, o grupo Wakanda que assumiu o controle do hospital, repudiou a ação e classificou a atitude como uma "invasão" e informou que entrará com mandado de segurança, seguido de reintegração de posse. A direção do hospital alegou não ter sido avisada sobre a retomada.

A Prefeitura afirmou que tinha um laudo de vistoria que apontava que a unidade estava vazia, sem ninguém trabalhando, porém ao chegarem ao local para assumir o hospital, encontraram profissionais de manutenção realizando reparos dentro do prédio. Além desses, outros 40 funcionários, entre enfermeiros, técnicos de enfermagem, limpeza e segurança, que chegavam para trabalhar, também foram pegos de surpresa pela ação da Prefeitura.

A Guarda Municipal se posicionou na frente do prédio e impediu o acesso de funcionários do hospital que chegavam para trabalhar. "Bloquearam a entrada não conseguimos entrar, nem mesmo para pegar nossos pertences pessoais, usarmos o banheiro ou tomarmos água. Trabalho aqui há dois anos e há dois meses estou aqui todos os dias para ajudar a montar os leitos e a separar os medicamentos para reabrir o hospital. Chegar num ponto desse de nos proibirem de entrar no nosso local de trabalho é complicado", relatou o coordenador de enfermagem, Bruno Lino.

O Hospital Metropolitano enfrentava problemas com dívidas trabalhistas e sofreu intervenção da Prefeitura em março de 2020. Houve promessa de abertura de leitos, mas sem sucesso. Após uma decisão judicial que garantiu a destinação de verbas do Município para custeio de leitos covid, a unidade voltou a funcionar, respeitando o contrato firmado com a Secretaria de Saúde, para atender pacientes com covid-19 de 23 junho a 20 de novembro.

O custo da Prefeitura com o contrato com o Hospital Metropolitano, em 2020, foi de R$ 5,3 milhões, segundo dados da Pasta. No entanto, em janeiro de 2021, um novo grupo gestor comprou o hospital, assumiu a administração e a previsão era de voltar a funcionar na primeira quinzena de fevereiro.

O diretor clínico do grupo Wakanda, que assumiu o passivo do antigo Hospital Metropolitano, José Lucio de Souza, confirmou que a unidade enfrenta problemas jurídicos por conta das administrações anteriores e que apresentaram um plano de recuperação de investimentos. "Já foi feito um aporte dentro do hospital. Você não coloca 15 leitos de UTI do dia para a noite. Nós somos donos de fato e de direito do hospital e ele é particular. Desde quando assumimos, por muitas vezes tentamos contato com a Prefeitura para podermos abri-lo, mas nunca fomos atendidos".

José Lucio contou que ontem foi à Prefeitura para tentar conversar com o prefeito Dário Saad (Republicanos), mas que não foi atendido. Ele diz que a Vigilância Sanitária de Campinas esteve no hospital e que o órgão municipal autorizou a realização de atendimentos médicos. "A Vigilância Sanitária esteve aqui observando tudo e nos autorizou a realizarmos a parte de atendimento. Só falta a parte dos gases, que era a etapa final que nós estaríamos solucionando até quinta-feira, mas com essa invasão isso vai demorar pelo menos mais sete dias". 

O diretor explicou o sentido do novo nome dado ao Hospital Metropolitano. "Denominamos o hospital de Wakanda pois ele tem um viés de atendimento à população afrodescendente, porque é inegável que essa etnia foi a mais atingida pela pandemia. Os negros são os que mais estão morrendo pela covid. Isso não quer dizer que não atenderemos o restante da população, apenas é um hospital voltado a esse público, com tratamento mais humanizado".

O engenheiro de produção mecânica do grupo Wakanda, especializado em engenharia clínica, Rodolfo More, também esteve no local e alertou que existem falhas estruturais que podem colocar os pacientes e profissionais do local em risco. "O hospital possui um vazamento grande na rede de oxigênio que nós estamos tentando sanar. Além de não permitir o tratamento adequado aos pacientes, principalmente os de covid, já que o próprio oxigênio é necessário para o atendimento, esse vazamento pode causar uma explosão. Qualquer ativação do hospital sem a finalização das obras é muito perigosa, por isso ainda não estava funcionando".

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por