MOVIMENTO

Imagens indicam invasão 'fantasma'

Fotos feitas por drone mostram que maioria dos barracos está desabitada em fazenda invadida

Agência Anhanguera de Notícias
20/07/2018 às 07:15.
Atualizado em 27/04/2022 às 13:20

Imagens aéreas datadas do último dia 17 de julho revelam que dos 1.184 barracos montados na ocupação Marielle Vive, em Valinhos, entre 85% e 90% estão desabitados, criando uma invasão “fantasma”. O panorama mostrado pelas fotos indica que parte dos invasores está lá apenas para demarcar lugar e criar uma imagem superdimensionada da ocupação. As imagens foram feitas por um cinegrafista “curioso” e anônimo que as entregou, com exclusividade, ao Correio Popular no início desta semana. A Fazenda Eldorado Empreendimentos Imobiliários, na Estrada dos Jequitibás, foi invadida por cerca de 700 famílias na madrugada do dia 14 de abril. A maioria dos ocupantes são de cidades da região. Os invasores fazem parte do Movimento Sem-Terra (MST) e integravam a “Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária”, realizada entre o dia 10 e 17 daquele mês, em todo Brasil, quando foi lembrado o Dia Internacional de Luta pela Terra.  Imagens por drone O cinegrafista registrou toda a área invadida e dividiu o território ocupado em 29 imagens. Em cada registro, ele contabilizou o número de barracas construídas e de pessoas que haviam no local. Em uma das fotos, por exemplo, mostra 60 barracos, sendo que foram vistas seis pessoas. Em outra, 44 unidades, com cinco habitantes. Em outra imagem, 30 barracas, com três pessoas. Em um outro registro, 30 barracas, com oito moradores. Para fazer o registro, o cinegrafista contou que teve certa dificuldade, já que os “seguranças” que estavam na ocupação queriam retirá-lo do local à força e exigiu que ele apresentasse credencial. As imagens foram feitas com um drone e o cinegrafista fez o monitoramento da estrada. Ele admitiu que na portaria havia um pequeno movimento de pessoas, mas o registro aéreo mostrou que a maior parte das barracas estava desabitada. Para confirmar esse cenário, a reportagem do Correio esteve no local na manhã de ontem e observou que, além dos porteiros, havia uma pequena movimentação na entrada da fazenda. O local ainda se mantém fechado com a porteira — entrada e saída seguem controladas. A reportagem também observou que havia muitos barracos sem moradores. A visão foi da estrada e em toda extensão externa. No momento em que a equipe de reportagem passava pela estrada, a pé, alguns moradores que estavam no local olharam desconfiados. Ônibus urbano Aquela região é atendida por ônibus coletivo urbano, a linha 502, que faz o trajeto do Terminal Rodoviário ao Jardim São Bento. Até março, antes da ocupação acontecer, a empresa de transporte registrava média de passageiros pouco superior a 23 mil. Em abril, mês da invasão, houve um leve aumento de 575 usuários. Em maio, o número de passageiros saltou para 25.936 e voltou em junho ao patamar habitual. Os dados indicam que esse movimento localizado prova que parte dos invasores tem suas próprias casas, ou seja, houve um aumento nas viagens de ônibus no auge do movimento e, depois, refluiu. Perfil da fazenda invadida A Fazenda Eldorado tem aproximadamente mil hectares e, segundo o MST, é improdutiva e alvo de especulação. O movimento exige que a área seja destinada à reforma agrária e assentamento das famílias que desejam produzir alimentos saudáveis através da agroecologia. Os proprietários da Eldorado negam a acusação de improdutividade. Argumentam que a área é usada para pastagem de rebanho. Prefeitura Questionada sobre a invasão, a Prefeitura de Valinhos informou, por meio de nota, que a “ocupação ocorre em uma área privada e cabe ao proprietário pedir na Justiça a reintegração de posse. E cabe a Justiça decidir o teor”. Justiça Os donos da fazenda entraram com pedido de reintegração de posse e a decisão chegou a ser concedida no final de abril. Inicialmente, a medida estava prevista para ser cumprida no dia 10 de maio, mas foi suspensa por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Tal suspensão foi determinada em caráter liminar, até que haja o julgamento definitivo do recurso dos invasores contra a reintegração de posse determinada pela 1ª Vara Cível de Valinhos. O advogado dos donos da fazenda, Jonas Pereira Fanton, foi procurado para comentar sobre o caso, mas ele se limitou a informar que seus clientes esperam pela decisão da Justiça. A reportagem entrou em contato, através de WhatsApp, com uma representante do MST na tarde de ontem, mas não houve retorno até o fechamento da edição.

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