CAMPINNAS

Idosos vivem desconforto e longa espera para vacinação

Mesmo com agendamento prévio, boa parte dos maiores de 85 anos ficam horas dentro de carros sob sol forte, no Centro de Imunização do CAIC da Vila União, em Campinas

Erick Julio
12/02/2021 às 11:39.
Atualizado em 22/03/2022 às 03:56
Fila de carros nas imediações do Centro de Imunização do CAIC da Vila União: sistema drive-thru transformou-se em prova de resistência para os idosos que foram se vacinar contra a covid no local (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

Fila de carros nas imediações do Centro de Imunização do CAIC da Vila União: sistema drive-thru transformou-se em prova de resistência para os idosos que foram se vacinar contra a covid no local (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

O semblante e a expressão de quem estava no Centro de Imunização do CAIC, na Vila União, em Campinas, entre a manhã e a tarde de ontem, revelava um misto de cansaço e indignação. Ao ver o carro da equipe de reportagem do Correio Popular, o aposentado Hilton Teixeira Santos, de 60 anos, fez questão de buzinar e acenar com os braços. Ele havia levado o pai, Moacir Santana dos Santos, de 87 anos, para tomar a vacina contra a covid-19 pelo sistema drive-thru. Santos contou que fez o agendamento para às 10h30 da manhã. Às 13h, porém, filho e pai ainda estavam na fila de carros que contornava o quarteirão do posto de imunização.

A Prefeitura de Campinas iniciou ontem a vacinação de pessoas com 85 anos ou mais. No total, estavam disponíveis 2.040 doses, sendo 1.020 para o Centro de Imunização do CAIC e a outra metade para o ponto de vacinação do Taquaral. A demora no atendimento revelou a falta de organização por parte da Administração, que expôs os idosos a circunstâncias de grande desconforto.

Revoltado, o aposentando Hilton considerou a situação um absurdo. "Eu fiz o agendamento para meu pai tomar a vacina às 10h30. Acordamos, tomamos o café da manhã e viemos para cá. Já são mais de três horas esperando. Ele é diabético, tomou café cedo. Eu não posso deixar ele aqui sozinho para ir comprar algo para comer. Além disso, meu pai tem problema na bexiga", criticou.

A situação narrada por ele foi vivida por dezenas de outras pessoas. A dona de casa Cláudia Salgado, de 51 anos, desceu do carro para manifestar sua indignação com a longa espera. De acordo com ela, o site indicado para o agendamento é "horrível" e não permitiu que o usuário optasse, ontem, pelo Centro de Imunização do Taquaral. "Eu fiquei monitorando o site desde as 6h. Tentei escolher o posto da Lagoa do Taquaral para levar meu pai de 86 anos, mas não foi possível. Aí viemos pra cá. Nosso agendamento era às 9h40. Agora já são 13h20 e ainda estamos aqui na fila. É uma falta de respeito com a população, principalmente com os idosos. E olha que o nosso prefeito é medico, hein?", ironizou.

Se no drive-thru o cenário era de completa insatisfação, na entrada do posto de imunização a situação era um pouco menos conturbada. A jornalista Camila de Souza Lima, de 39 anos, deixava o local com a avó, a senhora Dagmar Peixoto Souza Lima, de 87 anos, que foi vacinada. Ela agendou a vacina para às 11h45, mas foi atendida às 13h. Apesar de não ter esperado tanto quanto os idosos que optaram pela vacinação no interior dos veículos, ela não poupou críticas à desorganização.

"Nós moramos no bairro Botafogo e por isso eu tentei agendar para o Taquaral. Abri meu computador logo às 8h50 e às 9h entrei no site. De imediato não encontrei vagas disponíveis na Lagoa e pensei que pudesse ser algum erro na página e resolvi atualizar o navegador de internet. Não resolveu e ainda sumiram os horários do período da manhã no CAIC", relata Camila. Para a assistente social Denise Cintra, 57, ficou a sensação de que o agendamento não teve qualquer utilidade.

Ela agendou a vacinação da mãe, Benedita Machado Cintra, de 88 anos, para às 10h. Até por volta das 13h, a idosa ainda não tinha sido atendida. "O agendamento não serviu para nada. A sorte, se é que podemos dizer assim, é que hoje está nublado. Imagina esperar nessa fila debaixo do sol?", questionou. Valéria Correa de Almeida, médica infectologista e titular da Coordenadoria de Vigilância de Agravos e Doenças Transmissíveis, informou que a Prefeitura tomará medidas para evitar que o problema se repita nos próximos dias. "Vamos organizar de forma mais ordeira a relação dos horários", prometeu.

Segundo a médica, a Secretaria de Saúde enviou um comunicado para as pessoas que têm agendamento, para pedir que elas cheguem aos locais de vacinação próximo do horário, com antecedência de no máximo de dez minutos. Ainda de acordo com Valéria, o problema no Centro de Imunização do CAIC ocorreu porque a maioria das pessoas agendadas preferiu receber o imunizante no carro.

"É importante que todas as pessoas saibam que a gente tem doses para vacinar todos os idosos com 85 anos ou mais. Temos vagas de agendamento disponíveis para os próximos dias, tanto do fim de semana, como da próxima semana. É importante fazer o agendamento", destaca a médica.

População prefere ser imunizada no Taquaral

A distância que separa os dois centros de imunização contra a covid-19 em Campinas é de 13,5 quilômetros. Para quem observa os dois locais, entretanto, o CAIC e o portão 5 da Lagoa do Taquaral parecem representar mundos distintos. Se a imunização na Vila União foi marcada ontem por muitos atrasos no atendimento, falha que deixou as pessoas indignadas, os trabalhos no posto do Taquaral ocorreram de forma mais ordenada. Para a esteticista Luciene de Oliveira Gomes, 40, a sensação ao ver os avós serem vacinados é de alívio. Ela, inclusive, confessou que estava até mais "ansiosa" do que os dois familiares.

"É um alívio muito grande, porque eu tive covid e fiquei internada. Então, eu tinha muito medo por eles. Meus avós me criaram e hoje eu cuido deles", conta Luciene, que acompanhava os nonos Nair Maria de Jesus, 88 anos, e João Pedro de Oliveira, de 93. O idoso garantiu estar feliz por receber a vacina. "Eu estou contente porque depois da segunda dose a gente vai ficar protegido", disse.

Apesar da grande diferença no sistema de atendimento nos dois postos de imunização, a coordenadora de Vigilância de Agravos e Doenças Transmissíveis garantiu que os dois locais seguem os mesmos protocolos de trabalho e possuem a mesma infraestrutura. Valéria admitiu que a Prefeitura identificou uma maior preferência das pessoas pelo Taquaral na hora de fazer o agendamento. "É fundamental salientar que não há qualquer privilégio ou diferença entre os dois centros. Há o mesmo número de equipes e vacinas distribuídas entre os dois locais. A população deve buscar o local mais próximo da sua residência", orientou a médica.

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