BALANÇO ANUAL

Idosos representam 36% das mortes por atropelamentos

Números mostram que é preciso proteger melhor as pessoas com mais de 60

Bruno Luporini/[email protected]
05/12/2024 às 10:50.
Atualizado em 05/12/2024 às 11:33
Pessoa com mais de 60 anos atravessa a Rua Ferreira Penteado, no Centro de Campinas. O local, próximo ao caminho que liga o Terminal Central ao camelódromo, enfrenta trânsito intenso e problemas de infraestrutura, representando riscos para pedestres, especialmente os mais velhos (Kamá Ribeiro)

Pessoa com mais de 60 anos atravessa a Rua Ferreira Penteado, no Centro de Campinas. O local, próximo ao caminho que liga o Terminal Central ao camelódromo, enfrenta trânsito intenso e problemas de infraestrutura, representando riscos para pedestres, especialmente os mais velhos (Kamá Ribeiro)

A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) divulgou que, em 2023, o trânsito ceifou a vida de 44 pedestres. Dentre essas vítimas, 16 eram idosos com 60 anos ou mais, representando 36% do total. Esse grupo etário constituiu 16,3% das 159 mortes ocorridas em vias urbanas e rodovias por diversas causas, conforme o Relatório Anual de Sinistralidade no Trânsito de 2023. No período de janeiro a outubro deste ano, a Emdec constatou 19 mortes por atropelamento, três a menos comparado ao mesmo intervalo em 2022. 

O perfil das vítimas fatais por atropelamento na faixa acima dos 60 anos revela uma predominância masculina de 68,7%, enquanto as mulheres representam 31,3%. Os casos se concentraram, em maior número, nas noites de sexta e sábado, correspondendo a 18% das ocorrências. Segundo o Censo de 2022, a população idosa, considerada prioritária para intervenções, cresceu 12,6% em relação a 2010, totalizando 209.308 pessoas, ou 18,4% da população total. Esses dados ressaltam a necessidade de ações preventivas voltadas para a segurança desse grupo. 

Exemplificando a conscientização necessária, Grazielle Ferreira, de 38 anos, relata sobre sua mãe, Dulce, de 78 anos. Dulce toma precauções ao atravessar ruas, sempre usando a faixa de pedestres e descendo do carro pelo lado da calçada. "Especialmente após o diagnóstico de Alzheimer, ela opta por caminhar no bairro, evitando o centro da cidade", comenta Grazielle.

O relatório "Fatores de Risco em Segurança no Trânsito", produzido pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade Johns Hopkins, aponta o excesso de velocidade como o principal fator de risco em Campinas. A pesquisadora Daniele Mayumi destaca a necessidade de medidas governamentais para melhorar a segurança viária. Entre as recomendações está a elaboração de um plano de gestão de velocidade, estipulando limites de 50 km/h em áreas urbanas e 30 km/h em zonas com interação entre veículos motorizados, pedestres e ciclistas.

Em resposta ao desafio de reduzir mortes no trânsito, especialmente atropelamentos, a Emdec destacou suas iniciativas voltadas para a promoção da mobilidade segura. A empresa vem aprimorando a sinalização e priorizando a circulação de pedestres nos corredores das avenidas John Boyd Dunlop e Ruy Rodriguez, com atenção especial às estações do BRT. Além disso, estão em andamento projetos de urbanismo tático que buscam tornar as vias mais seguras para pedestres e ciclistas nas áreas do Botafogo, Parque Industrial e Satélite Íris. 

REDUÇÃO DA VELOCIDADE

A Emdec relatou uma redução de 9% nos incidentes de trânsito entre janeiro e outubro de 2023 em comparação com o mesmo período de 2024. O presidente da Emdec, Vinicius Riverete, enfatizou a importância da empatia dos motoristas com os pedestres, salientando a necessidade de respeitar os limites de velocidade. "É crucial prestar atenção e parar o veículo ao ver uma pessoa idosa atravessando a rua", afirmou.

Sobre a redução do limite de velocidade de 60 km/h para 50 km/h, Riverete aponta que essa medida está intimamente ligada à diminuição dos acidentes. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) sugerem que uma redução de até 5% na velocidade média pode resultar em 30% menos acidentes fatais. Em dezembro de 2022, a Emdec conduziu um experimento na avenida John Boyd Dunlop: durante seis dias úteis, dois veículos percorreram uma distância de 12 quilômetros entre a Praça Santa Catarina e o Terminal Campo Grande, um a 50 km/h e o outro a 60 km/h. O estudo revelou que, nos horários de maior tráfego, a diferença de tempo foi de apenas dois minutos, com o veículo mais lento completando o trajeto em 45 minutos contra 43 minutos do mais rápido. No total, foram realizadas 73 viagens nos dois sentidos, cobrindo mais de 880 quilômetros. Riverete destacou que a redução de velocidade beneficia pedestres, ciclistas, usuários de ônibus e motoristas, auxiliando na diminuição dos acidentes. "Um minuto pode fazer toda a diferença na prevenção de um acidente", concluiu.

Dados da Emdec indicam que as avenidas John Boyd Dunlop, Amoreiras, Dermival Bernardes Siqueira e Ruy Rodrigues registram o maior número de multas por velocidade acima de 50 km/h. Riverete observa que a instalação de radares praticamente eliminou as mortes nas áreas monitoradas. "Isso comprova que os radares são eficazes na redução de mortes e acidentes na cidade de Campinas", afirmou.

AÇÕES EDUCATIVAS

Conforme informado pela assessoria de imprensa da Emdec, uma das principais iniciativas educativas é a oficina "Viagem no Tempo: Idosos em Movimento". Essa atividade faz parte do programa UniversIDADE, promovido em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Voltada para indivíduos a partir dos 50 anos, a oficina é focada na promoção da mobilidade urbana inclusiva. O objetivo é compartilhar as experiências dos participantes enquanto pedestres, motoristas e usuários do transporte público, visando identificar melhorias nas vias públicas para atender melhor o público 60+. A atividade mais recente ocorreu em outubro na instituição Projeto Gente Nova (Progen), localizada na Vila Castelo Branco. A assessoria destaca que o plano é expandir essa iniciativa em 2025.

MULTAS E REGULAMENTAÇÕES

Segundo o Artigo 70 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os pedestres que atravessam a via em faixas demarcadas têm prioridade de passagem, exceto em locais com sinalização semafórica, onde as regras do semáforo devem ser seguidas. Por exemplo, mesmo que o semáforo permita a passagem dos veículos, os pedestres que ainda não concluíram a travessia mantêm a preferência. Caso um motorista avance enquanto um pedestre está atravessando, mesmo fora da faixa, a infração é considerada grave, acarretando uma multa de R$195,23 e 5 pontos na carteira de habilitação. Se o motorista desrespeitar um pedestre que pertence ao grupo prioritário - como crianças, idosos, pessoas com deficiência e gestantes - a infração é classificada como gravíssima, com uma multa de R$293,47 e 7 pontos na carteira

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