DEFESA DO CONSUMIDOR

Idec questiona alguns pontos do edital do transporte público de Campinas

Órgão pede mais clareza sobre garagens e remuneração dos concessionários

Rodrigo Piomonte
06/08/2022 às 09:47.
Atualizado em 06/08/2022 às 09:47
Passageiros se apressam para embarcar no ônibus da linha 1.15 na Avenida João Jorge, no Centro de Campinas: Idec elogia o compromisso de aquisição de 128 ônibus elétricos previsto no edital de licitação do transporte (Kamá Ribeiro)

Passageiros se apressam para embarcar no ônibus da linha 1.15 na Avenida João Jorge, no Centro de Campinas: Idec elogia o compromisso de aquisição de 128 ônibus elétricos previsto no edital de licitação do transporte (Kamá Ribeiro)

Às vésperas da abertura da consulta pública sobre o edital de licitação da operação do novo sistema de transporte público coletivo convencional, o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (Idec) enviou uma carta à Prefeitura de Campinas e à Câmara Municipal alertando sobre pontos que a entidade entende que dificulta a concorrência pelo menor preço e pode impedir a real qualidade do serviço prestado à população.

Acompanhando a pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo todo o processo licitatório para o sistema de transportes público de Campinas desde 2019, o órgão destacou na carta a necessidade de mais clareza no edital de pontos como a questão sobre a exigência de garagens das empresas e a fórmula de remuneração dos concessionários. Esses elementos foram considerados estratégicos para a qualidade do serviço de concessão.

Segundo o Idec, em relação à remuneração dos concessionários, a proposta por oferta de serviço adotada é boa e está alinhada às práticas mais modernas adotadas em editais. Mas para a entidade de defesa do consumidor, os critérios não estão claros. A proposta vincula os recursos a serem pagos aos empresários a efetiva realização das partidas programadas no serviço e, portanto, à sua qualidade.

"A remuneração proposta na apresentação da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) é mista, contendo uma parte de 'pagamento por custo', chamado de pagamento por oferta, e outra parte de 'pagamento por passageiro', conhecido por pagamento por demanda, e não deixa claro qual o peso de cada componente terá na remuneração final dos empresários", explica Rafael Calabria, coordenador do Programa de Mobilidade Urbana do Idec. 

Para ele, o modelo de pagamento por passageiro é uma herança da época que o serviço era prestado diretamente pelos empresários, sem mediação e controle de qualidade do poder público, mas é justificado como sendo uma forma das empresas se preocuparem com o atendimento correto ao usuário e evitar que os motoristas não embarquem os passageiros.

Porém, o Idec explica que neste modelo o operador tem incentivos a reduzir as viagens e os veículos, porque isso significa cortar custos, ampliando as margens de lucro, o que aumenta a lotação dos veículos e o tempo de espera dos usuários. "É fundamental que o pagamento por oferta seja a remuneração predominante e para isso é preciso verificar a fórmula exata que será adotada no edital. Se o peso do pagamento do passageiro for maior do que o peso do pagamento por oferta, a qualidade fica comprometida, já o contrário, estimula o empresário a fazer mais viagens para ganhar mais reduzindo a lotação dos veículos", explica Calabria. Segundo ele, o edital prevê subsídio da Prefeitura às empresas de ônibus, o que é positivo para garantir a qualidade. Porém, não está claro se a medida tornará a tarifa mais cara e como isso pode ser evitado.

Outro ponto apontado na carta é em relação à exigência de garagens. Segundo o Idec, o edital não cita nenhuma exigência acerca de garagens. "Como as garagens são infraestruturas caras, essa informação é fundamental para que as empresas decidam se conseguem participar da licitação. Essa ausência acaba por prejudicar a concorrência, que é o princípio do processo. "Empresas que já possuem garagens acabam sendo privilegiadas porque conseguem um preço mais barato para vencer o edital", disse.

O compromisso inicial previsto no edital de 128 ônibus elétricos é destacado como um ponto positivo pelo instituto. Mas para Calabria é preciso ter uma meta para a frota elétrica crescer ao longo dos 15 anos do contrato. "Esse é um ponto que também não ficou claro. O contrato prevê a utilização de ônibus elétricos já no início da operação, compondo 20% (128 veículos) do total da frota do BRT. Se este compromisso for cumprido, Campinas poderá ser a cidade com mais ônibus elétricos do país", disse.

Segundo Calábria, a intenção da carta é estimular o debate para a construção de um edital que garanta efetivamente um bom serviço para a população. "Campinas tem um problema histórico relacionado à falta de debate sobre as licitações de ônibus. Como resultado, a qualidade do serviço de transporte público veio diminuindo muito ao longo dos anos", disse. 

Outro ponto colocado como positivo destacado na carta é o contrato da bilhetagem eletrônica que será separado do contrato da operação dos ônibus. "Com isso, a prefeitura poderá gerir melhor o serviço, fiscalizar a arrecadação das tarifas, controlar o número de passageiros, a demanda por ônibus e gerir melhor o serviço.

O coordenador do instituto afirma que foram as recomendações do Idec que contribuíram para que a Prefeitura decidisse realizar as diversas audiências públicas acerca da construção do edital.

No total a Prefeitura realizou 11 audiências públicas, além da consulta pública que está prevista para esse segundo semestre. "Por isso temos que aproveitar ao máximo para incidir e discutir os pontos nesse processo de participação", conclui.

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