PRÉDIO HISTÓRICO

Hotel Terminus, retrato de uma época

O espaço onde hoje funciona a Magazine Luiza representou um marco no progresso de Campinas

Francisco Lima Neto
24/05/2020 às 09:04.
Atualizado em 29/03/2022 às 11:32

O ano de 1949 entrou para a história de Campinas com a inauguração do Hotel Terminus, entre os números 1057 e 1091, da Avenida Francisco Glicério, no Centro, onde há algumas décadas funciona uma unidade da loja de departamentos Magazine Luiza. A construção marcou a chegada dos novos ares de progresso e modernidade. O prédio foi construído no final da década de 1940 pelo engenheiro Miguel Vicente Cury, que viria a ser prefeito de Campinas em duas ocasiões, além de ter fundado, junto do pai, a fábrica Chapéus Cury.Na época, os hotéis não eram classificados por estrelas. Os de mais alta qualidade eram denominados finos. O Terminus foi o primeiro desse tipo a ser erguido na cidade. A construção tem estilo art déco e sua arquitetura é marcada pelos cantos arredondados, seguindo o seu posicionamento na esquina. O prédio tem elementos modernistas, como por exemplo, a marquise em concreto armado, marcando um período de transição entre dois estilos arquitetônicos. O hotel foi projetado já levando em conta o alargamento da Avenida Francisco Glicério, previsto no Plano de Melhoramentos que vigorava desde a década de 1930, visando promover mudanças no espaço urbano. Logo, a construção considerou o traçado projetado pelo engenheiro Francisco Prestes Maia, no plano de desenvolvimento do Município. Por conta disso, o recuo do hotel em relação à rua era maior do que nas construções vizinhas.Eram características do Terminus suas janelas de madeira lustrosa, venezianas já não fabricadas atualmente. Os banheiros eram grandes e os espaços se caracterizavam pelo puro requinte. Consta que foi o primeiro hotel do interior de São Paulo a ostentar aparelho de ar condicionado. O hotel, que foi administrado pela Companhia Paulista de Hotéis, era a escolha das mais importantes personalidades que passavam por Campinas, como ex-presidente Washington Luís, o governador Jânio Quadros e artistas do porte do ator Glenn Ford, astro do cinema norte-americano; a atriz e cantora espanhola Sarita Montiel; e o ator Cesar Romero, famoso por interpretar o Coringa, em Batman de 1966.Além de seus aposentos e de todo o serviço de primeira linha, o hotel tinha no térreo a Doceira Terminus Bar, que fazia muito sucesso. Na década de 1950, era o principal point da elite campineira. Ali, as damas da sociedade se encontravam para tomar chá. Quem não podia entrar e desfrutar daquelas delícias, passava namorando as vitrines, com seus doces confeitados. Nos fundos da doceira ficava o bar, local preferido de executivos, empresários, advogados e estudantes, que não perdiam a chance de tomar uma cerveja e comer os lanches e aperitivos exclusivos. O hotel foi palco de muita paquera e de grandes festas de casamentos. Mas depois de 36 anos de glória, fechou as portas em 1985, dando lugar à loja de departamentos.   Tombamento Em março de 2001, o Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc) abriu o processo de tombamento do prédio. O pedido havia sido feito em abril do ano anterior, pela Arcel Empreendimentos e Participações, do empresário Armindo Dias, empresa proprietária do imóvel. A iniciativa não é comum. Essa foi a segunda vez que um proprietário solicitava o tombamento de um imóvel, já que a medida impõe diversas obrigações, a começar pela preservação. O primeiro pedido do tipo registrado na cidade partiu de Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, que solicitou o tombamento de sua casa, sede da antiga Fazenda Proença, conforme retratado nesta mesma coluna, no dia 13 de outubro de 2019, sob o título O sonho de uma vida, http://corre.io/Ve9U2a. Toninho se tornou prefeito da cidade em 2001 e foi assassinado em setembro daquele mesmo ano.  Após todos os trâmites burocráticos, o prédio foi tombado pela Resolução nº 78 de 21 de janeiro de 2009. Pelo tombamento, ficaram preservadas as fachadas externas e internas, o átrio, a esquadria do vitral, a claraboia e as escadas internas, principal e de serviço.O edifício onde hoje funciona a Magazine Luiza está dentro do centro histórico de Campinas e incluído na área envoltória de outros bens tombados no Centro, como é o caso da Catedral Metropolitana, Palácio dos Azulejos, Largo do Rosário e Jockey Clube. Miguel Vicente Cury deixou sua marca  Miguel Vicente Cury nasceu em Campinas, no dia 1º de janeiro de 1898, mas passou a infância nos arredores de Mogi Mirim. Se mudou com a família para Araras ainda pequeno. Estudou humanidades por cinco anos na Europa, mas voltou para Araras e se tornou comerciante. Após se formar em contabilidade, se mudou para Mogi Mirim, onde criou em 1919, juntamente com seu pai, uma oficina de reforma de chapéus. No ano seguinte, voltou para Campinas e, também com seu pai, fundou a Chapéus Cury, que foi a maior fabricante de chapéus do País.Foi prefeito de Campinas em duas ocasiões, de 1948 a 1951 e de 1960 a 1963. Em maio de 1951, último ano de seu primeiro mandato, renunciou à prefeitura para se candidatar a vereador, sendo eleito para a legislatura de 1952 a 1955. Morreu em 24 de maio de 1973, aos 75 anos. SAIBA MAIS Entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX as reformas realizadas para remodelar as cidades eram chamadas de planos de melhoramentos. Entre as medidas, que buscavam a beleza e o saneamento, eram comuns a criação de eixos viários e a abertura de grandes avenidas para dar mais fluidez ao tráfego, a canalização de córregos e a promoção de melhores condições estéticas e higiênicas para as construções. Hoje em dia é mais comum falar de urbanismo, disciplina interdisciplinar relacionada ao estudo, à regulação e ao planejamento urbano das cidades.

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