Direção alega superlotação; restrição sobrecarrega outras unidades de saúde
Campinas vive um caos no atendimento de urgência e emergência do Sistema Único de Saúde (SUS). Desde terça-feira o Hospital e Maternidade Celso Pierro (Hospital da PUC) suspendeu o atendimento à população por causa da superlotação e está remarcando as cirurgias eletivas.
O pronto-socorro Adulto possui oito leitos de retaguarda para o atendimento do SUS, mas ontem de manhã estava com 43 pacientes internados. A reportagem esteve no pronto-socorro e constatou a superlotação. Cerca de dez pacientes eram atendidos nos corredores do prédio. Idosos tinham fraldas trocadas sem a menor privacidade e até mesmo o setor de entrada de pacientes, onde chegam os casos mais graves, estava repleto de macas.
A unidade só atende casos de gravidade que chegam por meio do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). “O hospital estará garantindo o atendimento aos casos considerados de emergência (com risco iminente de morte), trazidos pelo Samu, resgate e concessionárias de rodovias, que são atendidos imediatamente, sem espera”, afirmou em nota enviada à imprensa.
A medida provocou o aumento da fila de espera nos outros hospitais públicos da cidade. O problema é potencializado pela falta de médicos nas unidades básicas de saúde. O Correio visitou os três maiores hospitais públicos de Campinas na manhã de ontem e conversou com vários pacientes que relataram ter buscado ajuda primeiro nos centros de saúde dos seus bairros e depois ter ido a um PS. “Fui para o Centro de Saúde do meu bairro (Jardim Aurélia) e lá me disseram que não tinha como ser atendida na hora. Eu disse que estava com febre, vômitos e diarreia, mas marcaram uma consulta para o dia 5 de dezembro. Adianta o que?”, questionou a professora Verônica Ortiz Gava. Ela foi orientada a buscar ajuda em pronto-socorro. A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde informou que Verônica foi atendida por uma enfermeira e confirmou que não havia médico no horário do atendimento. Como ela precisava de um atestado, foi orientada a procurar um pronto-socorro.
O caso de Grazieli de Souza foi o mais grave. “Ela está com fortes dores de cabeça, febre e vômitos há uma semana. Fomos no postinho e ela fez um exame. Voltamos hoje para levar o resultado de um exame e o pessoal de lá nos orientou a vir para o Celso Pierro. Se eu soubesse que aqui estava fechado, nem viria”, contou a mãe, a doméstica Fátima Dias.
Enquanto Grazieli se contorcia e chorava de dor em um banco no Hospital Celso Pierro, sua mãe buscava uma alternativa. “Tenho medo de que uma tragédia aconteça. Não tenho carro e ela não tem como andar de ônibus. O que eu vou fazer?”, reclamou.
Depois de esperar por alguns minutos, a moça foi atendida. O mesmo aconteceu com um rapaz que procurou atendimento médico na unidade de Pronto Atendimento do Campo Grande com suspeita de apendicite. O quadro foi comprovado e o rapaz foi levado para o Celso Pierro, onde foi atendido.
A assessoria da Secretaria de Saúde informou que o médico orientou a paciente a buscar ajuda no Celso Pierro porque o seu estado era grave. A mulher teve que fazer um procedimento que só é cumprido em hospital.
Surpresa
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que foi surpreendida com a interrupção do atendimento no Pronto-Socorro no Hospital e Maternidade Celso Pierro, com quem a Prefeitura de Campinas mantém um contrato. O documento garante o repasse de recursos para cobrir o custo do atendimento de pacientes encaminhados via SUS.
A secretaria informou que manteve contato com a direção da unidade solicitando a retomada do atendimento, destacando que o Celso Pierro é um hospital de referência, cujo funcionamento é importante para a manutenção do equilíbrio do sistema público de saúde. A secretaria notificou o hospital para que honre o contrato e retome o atendimento no pronto-socorro.